A desfiliação de Requião Filho do Partido dos Trabalhadores, autorizada por unanimidade pelo Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), não é apenas mais um capítulo da dança partidária pré-eleitoral. A meu ver é um movimento calculado, com ecos de ruptura, revanche e, ironicamente, dependência.
A decisão da Corte, referendada pela apresentação de uma Carta de Anuência assinada por todas as instâncias do PT, encerra oficialmente o vínculo do deputado com o partido pelo qual foi eleito em 2022. Livre do risco de perder o mandato, Requião Filho se reposiciona no xadrez político mirando um projeto ambicioso: o governo do Paraná em 2026.
Do grito de independência ao eco da dependência
O discurso de rompimento foi inflamado. O parlamentar acusou o PT de “trair o Paraná” e afirmou que o partido “não tem projeto de desenvolvimento para o Estado”. A crítica veio carregada de ressentimento, sobretudo após o episódio em que a legenda preferiu apoiar Luciano Ducci (PSB) à prefeitura de Curitiba, em detrimento da candidatura do pai dele, Roberto Requião. O gesto, classificado como “gota d’água”, escancarou um racha que já vinha sendo construído há meses.
No entanto, há uma realidade difícil de contornar: a estrutura política que viabiliza uma candidatura majoritária no Brasil ainda depende, e muito, de alianças, tempo de TV, palanques e recursos dos fundos partidário e eleitoral. E boa parte dessa engrenagem está justamente nas mãos das mesmas legendas do campo progressista que Requião Filho agora ataca.
O dilema da coerência política
Ao se lançar como pré-candidato ao governo estadual, o deputado aparece com 14,5% das intenções de voto, segundo levantamento recente do Instituto IRG. Posiciona-se, portanto, como uma alternativa relevante no cenário de oposição. Mas a viabilidade política de Requião Filho, dependerá de alianças com partidos como PSB, PV e PCdoB. Ou seja: os mesmos que integram a federação liderada pelo PT.
Em outras palavras, Requião Filho rompe com o partido, mas dificilmente escapará dos satélites em torno do PT. Entendo que essa é a contradição central do movimento: sair atirando, mas precisar bater na mesma porta logo adiante.
PDT, um novo abrigo?
Entre os possíveis destinos partidários, o PDT desponta como o mais provável. A legenda convidou Requião Filho a liderar a reestruturação no Paraná, numa investida articulada diretamente por Carlos Lupi, presidente nacional da sigla. A filiação, porém, ainda está em negociação.
Mas o discurso do deputado já parece alinhado com a narrativa pedetista: “Não somos extremistas: apoiamos o setor produtivo, mas valorizamos o trabalhador”. Por outro lado, o sobrenome ‘Requião’ continua sendo o maior trunfo, mas também o maior desafio. Isso porque, Requião Filho quer se descolar do PT, mas ainda precisa provar que é mais do que apenas ‘o filho do Requião’. E ainda além disso, que consegue construir pontes sem negar as estruturas que o elegeram.
A saída foi autorizada. A caminhada política, porém, começa agora. E ele tem à frente o desejo de independência e a inevitável realidade das composições.
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