‘I know our love will linger
When the other love forgets
So I say goodbye with no regrets’
A primeira vez que li seu nome foi na notícia do anúncio do Prêmio Nobel de Literatura de 2013, concedido à escritora canadense Alice Munro. Logo em seguida, me dei conta de que o fato de uma mulher ser laureada com o reconhecimento máximo em sua área causou mais comoção do que foi verdadeiramente inédito: a primeira vez na história em que o prêmio foi concedido a um escritor de contos.
O livro Ódio, Amizade, Namoro, Amor Casamento é composto por 9 contos que giram em torno do cotidiano de personagens medianos e seus questionamentos, memórias e decisões [afinal, quem escapa dessas questões?], tendo como pano de fundo cidades do interior do Canadá. Além disso, têm em comum a mesma sensação de amargura suave, envoltos em um tédio quase palpável ou em amores não utilizáveis – resultando em textos bem escritos, com destaque para o delicado e melancólico Urtigas, e os precisos Queenie e Mobília de Família.
Se o conjunto não pode ser descrito como um banquete vibrante, o primeiro conto [que dá nome ao livro] reforça esta impressão, oferecendo uma entrada insossa. De forma geral, é um livro que pode ser bonito – convém confessar que chorei copiosamente em alguns dos trechos, tamanha destreza da autora em ver o recôndito e traduzir sutilezas, mas talvez eu esperasse mais da Alice e de seu feito inédito para um gênero literário que tem relativamente pouco alcance e muito do meu apreço.
Contudo, para mim, o que faltou enquanto passeava pelas páginas foi deslumbramento: se na vida real deslumbrar-se é coisa rara, na literatura eu espero que seja um acontecimento inequívoco.
Ps1: Prefiro ler em silêncio, mas casou que eu andava numa fase jazz e o encontro de trilha e livro simplesmente ornou: Lady Day tem o mesmo tom elegantemente nublado e melancólico dos textos.
O trecho da legenda da foto é desta música aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=7F5Cw2AEyQo
Mais um pouquinho? https://www.youtube.com/watch?v=i3VWKEtkgBY
Ps2: Por falar em chorar copiosamente, senti muito a morte do Gabriel García Márquez, meu querido Gabo [em minhas divagações, maquinava encontrá-lo em Cartagena das Índias quando, ao abordá-lo, me apresentaria como Amaranta!].