Um ritual vai cumprir promessa feita por amigas para atender um pedido especial de Val Ribas. Quem for ao velório da contabilista, que começará por volta da meia-noite, na Capela Pax Cristo Rei, deve levar uma garrafa de champanhe, “dos bons”, e taça de cristal para brindar a vida.
Outro pedido feito quando ela soube da doença neurodegenerativa rara que a acometia – pediu que no seu funeral não houvesse choro e lamentações. Apenas conversa relembrando os momentos de felicidade que teve junto ao grupo de amigas.
“Vamos fazer tudo o que ela pediu”, disse Sandra Zanette ao Portal RSN. “A Val foi uma pessoa que amava viver e vivia intensamente. Ela conquistou quase tudo o que sonhou”.
Da infância pobre na casa dos pais na Vila São João, em Guarapuava, o sonho de viver uma vida com mais posses, de viajar pelo mundo, aos poucos foi sendo realidade, desde o momento em que decidiu que aquela não era a vida que queria.
Numa entrevista ao Portal RSN tão logo a doença se manifestou e ela ainda conseguia falar, apesar da dificuldade motora, Val contou que o primeiro passo dado foi fazer um curso de datilografia na escola do Seu João, na Rua XV de Novembro. Dali, para o primeiro emprego bastou atravessar a rua. Foi trabalhar numa loja de calçados.
Depois de concluído o então segundo grau, cursou Ciências Contábeis na Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), fez concursos públicos e trabalhou na Companhia de Serviços Urbanos de Guarapuava (Surg) e, por último, na Câmara de Vereadores. Paralelamente, Val conseguiu se inserir na sociedade guarapuavana, depois que se divorciou de um médico.
“Ela foi fazer terapia de casal com o esposo e nos tornamos amigas. Depois de separada, a convidei para fazer parte do nosso grupo de jogo de cartas, às segundas feiras, uma prática que dura 10 anos”.
De acordo com Sandra Zanette, o sonho acalentado desde criança quando ia para escola se molhando em dias de chuva por não ter uma sombrinha, foi concretizado durante viagem pela Europa. “Em Malta ela viu uma sombrinha colorida, cheia de renda e disse que aquela era a sombrinha do seu desejo de infância. Fiz ela comprar e disse que agora ela podia comprar todas as sombrinhas que quisesse”.
Assim como esse, outros desejos de Val viraram realidade, até que a doença se manifestou, a impedindo de um último desejo: passar o ano novo em Paris e brindar com champanhe na Torre Eiffel.
“Eu tive a missão de contar a ela qual era o diagnóstico e de prepará-la para aceitar a progressão da doença. E cada vez que ela me perguntava eu dizia qual seria o próximo passo: perda dos movimentos, da fala, da visão. Ela pedia que eu não escondesse nada”.
Numa das viagens a Curitiba, segundo Sandra, Val disse que gostaria de ter mais 10 anos de vida, ou até menos tempo, porque estava vivendo a melhor fase da sua vida.
O diagnóstico era de que a doença a consumiria entre seis e nove meses. Val durou quatro anos e três meses, embora em coma. A doença evoluiu rapidamente em cinco meses e depois estabilizou.
“Isso é exceção, mas ela foi muito bem cuidada. Tinha quatro enfermeiros que ficavam com ela 24 horas por dia. Mas agora o ciclo dela aqui acabou e vamos cumprir o que ela pediu. Vamos brindar a sua vida, relembrar tudo de que bom que ela viveu, as novas conversas, as nossas viagens, as nossas angústias, as nossas risadas”.
O corpo de Val será cremado em Ponta Grossa. O cortejo que também será acompanhado pelas amigas sairá de Guarapuava por volta das 7h desta segunda (3).