22/08/2023
Guarapuava

Amigos relembram encontros da década de 70

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Lizi Dalenogari (orgulhosa em contar esta história)

Uma boa parte deles se reuniu em dezembro na Morada da Lua, no Jordão, em Guarapuava. Outros não puderam comparecer e esperavam uma oportunidade para estarem juntos novamente. E foi assim que a turma de amigos se reencontrou para relembrar os concursos de dança, as folias de carnaval e as aventuras da casa do Orlando Cezar da Silva, na década de 70.

Lá se vão 38 anos da época em que um grupo de adolescentes, que estudava no antigo Colégio Aplicação (hoje Visconde de Guarapuava), em Guarapuava, se reunia quase que diariamente na casa do amigo Orlando. Ali nascia muito mais que duradouras amizades, namoricos e histórias para eternizarem, e compartilharem, futuramente (e estamos nele) com os filhos e netos. Com nós todos.

O violonista flamenco David Tavares aproveitou sua estadia no Brasil, onde faz a  mixagem e masterização de seu novo DVD, gravado em Madri, para se reunir com os amigos e encantá-los com seu talento mundialmente reconhecido. “É como voltar no tempo. Estas pessoas são especiais demais em minha vida. Quem diria que naquela época, quando tínhamos 13, 14, no máximo 15 anos, que nossas vidas tomariam rumos tão diferentes e nos reuniria aqui. Fantástico”, conta o violonista.

Cleonice Fernandes, sobrinha de Orlando, era a articuladora do grupo. Vive há 15 anos em Cuiabá, no Mato Grosso e aproveitou as férias escolares para dar um salto…no passado. “As músicas abrem um portal prá mim. É como se coração, corpo e mente se aliassem em sintonia perfeita. Sem perceber somos remetidos para esta época glamorosa, inesquecível e determinante na formação de nossas personalidades”, conta emocionada.

Era com o tio Orlando que ela arrasava nos concursos de dança, com os ritmos de “Embalos de sábado a noite”. Os clubes Operário, Guarapuava e Guaíra se tornavam pequenos para a juventude que se divertia nas matines ao som do Disco Music. Embalados por clássicos como KC&Sunshine Band, Bee Gees, Queen, The Police, Pink Floyd, Commodores, Barry Gibb e os irmãos Robin e Maurice, David Shire, The Trammps e outros, estes adolescentes escreviam a própria história, sem imaginar os reencontros que a vida os reservaria.

Entre uma música e outra, sim porque o velho de capas amareladas vinil não poderia ficar de fora deste reencontro, muitas risadas e coreografias inesquecíveis que fazem o corpo entrar em movimento e a alma lavar. “Voltamos no tempo em uma fração de segundo. Coisa boa é estar aqui novamente com eles e brindar tudo que vivemos, tudo que sentimos, tudo que compartilhamos e ainda vamos compartilhar”, diz Monica Casagrande.

“Há 16 anos nos reunimos pela primeira vez aqui mesmo em Guarapuava e foi também um grande momento. Éramos cerca de 25 adolescentes que nos víamos todos os dias e o ponto de encontro, além do Colégio, era a minha casa. As festas de garagem, as festas juninas, os jogos de futebol, enfim, todas as atividades eram planejadas e executadas na minha casa, que passou a ser também deles, por cerca de 3 anos consecutivos. Uma pureza nos unia e estreitavam a cada encontro os laços de amizade. Prova disso, é este momento”, enfatiza Orlando.

Didi Silva, 71 anos, irmã de Orlando e mãe de Cleonice, se tornou a amiga-confidente, e por que não dizer a mãezona de todos. “Eles se reuniam na nossa casa. Ali era a sede deles. As mães os deixavam no portão e voltavam para suas casas sossegadas porque sabiam que os filhos ficariam bem. As meninas confidenciavam comigo as paixonetas da época e choravam no meu ombro. Era a conselheira sentimental delas. É sempre uma emoção muito grande revê-los. Bate um orgulho pelo que se transformaram e vê-los felizes é uma alegria sem tamanho. Estava tão ansiosa para revê-los novamente. Estive no primeiro encontro em 1998 também. Nem imaginam a alegria que me dão estes guris”, diz Didi.

Marcos Antonio de Abreu que namorava Cleonice na época, que se casou mais tarde com Joelson, tendo três filhos e três netos. Marcos se casou com Athis Bianco de Abreu e há 35 anos escrevem juntos a própria história. Este reencontro entre Marcos e Cleonice foi emocionante e provou o quanto a vida dá voltas, e que ninguém morre vitimado pelas primeiras grandes paixões. Marcos e Athis tem duas filhas e três netos.

Em 1979 começaram a se dispersar. Muitos mudaram para outras cidades do estado e até para outro país, como o violonista David Tavares. Outros ficaram por aqui, como Milton Roseira, que alegrou o encontro com suas piadas e as lembranças dos bailes de carnaval. “Vivemos uma época única. Nosso sonho de consumo era entrar no Clube Guairá, imaginem. Agitava nos carnavais com fantasias criadas por mim, como “Chuveiro”, “Cama”, até de Sassá Mutema sai uma vez”, conta rindo.

“Somos da época em que os mais velhos protegiam os mais novos. Hoje, vivemos uma inversão de valores onde os mais novos (menores de idade e não puníveis com as leis) ficam para safar as burradas dos mais velhos. Tínhamos uma união, uma parceria verdadeira e não simplesmente por interesse como vemos hoje. Oh tempo bom! Fomos privilegiados, acreditem”, conclui Orlando, entre uma dança, uma batucada, um reencontro e outro. Vida longa gurizada.

Cristina Esteche

Jornalista

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