22/08/2023
Agronegócio

André Gide Tinha Razão

Recebi do jornalista Carlos Fernando Huf e não tem como deixar de compartilhar: 

 
“Tudo já foi dito antes, mas já que ninguém escuta, temos de continuar voltando ao começo de novo e de novo”. (André Gide, escritor francês)
A frase de Gide me veio um dia desses, ao encontrar nos corredores da Justiça Federal o advogado Graciliano Ribeiro, o popular dr. Nezinho.
Depois de acompanhar a guerra contra o aproveitamento do CEDETEG, e mais tarde outra guerra para evitar a chegada da UTFPR, com o próprio alcaide agindo contra o interesse público, em ambos os casos com final feliz graças à garra de pessoas de bem, interessadas no progresso de Guarapuava, e não apenas no seu próprio, pensei que já tinha visto tudo nessa área da política local. Pois havia mais.
Só agora descobri que muito antes disso já ocorrera um fato envolvendo algo muito maior, e que nesse Guarapuava perdera feio. O fato contado pelo Dr. Nezinho é de estarrecer.
No início da gestão da “renovação”, um juiz da Comarca tinha um irmão na diretoria da PUC-Pontifícia Universidade Católica, de Curitiba, e em uma conversa informal, contou a Graciliano que a instituição tinha a concessão para instalar um campus no interior do Estado, dependendo apenas de conseguir um espaço para tal.
Na época já se conversava muito em Guarapuava sobre a necessidade de trazer novos cursos universitários, para se somar à Faculdade pública já existente, o que era visto pelas nossas lideranças políticas como algo muito difícil.
Graciliano precisou permanecer alguns dias na capital do Estado, e aproveitou para procurar o irmão do juiz. Este confirmou a existência da concessão, assim como o interesse da instituição em instalar-se no interior do Estado. Em conversa com o então reitor da PUC, Euro Brandão, Graciliano soube que algumas cidades se interessavam, mas ofereciam área muito pequena, em torno de três a cinco alqueires. E eles precisavam de 40 alqueires, próximos à cidade, porque a ideia era instalar de imediato cinco cursos: zoologia, zootecnia, agronomia, veterinária e botânica, e posteriormente todos os cursos existentes em Curitiba.
Graciliano voltou a Guarapuava, contou o fato a um empresário local, que tinha quatro filhas estudando em Curitiba. Este de imediato se dispôs a doar pessoalmente uma área que satisfizesse as necessidades da instituição, nas proximidades da cidade.
Resolvido o problema maior, o resto parecia fácil. Graciliano fez os contatos com todas as autoridades pertinentes, a começar pelo prefeito, a quem caberia apenas fornecer os serviços básicos, como abrir as entradas, e a terraplenagem da área a ser construída, enfim, a infra-estrutura necessária. O prefeito se dispôs com aparente boa vontade.
Todas as lideranças políticas foram acionadas.
A reunião de todos os interessados com o reitor Euro Brandão em Curitiba, para sacramentar o compromisso, foi marcada para dali a 60 dias, com a presença de todas as autoridades e personalidades ligadas ao assunto.
No dia marcado, dispuseram-se a ir a Curitiba apenas o empresário doador, seu sócio, o diretor da Faculdade local e o próprio Graciliano. E nenhum líder político. Ligaram ao prefeito, e uma secretária informou que ele tinha viajado. Sem mais explicações.
É evidente que, para assunto de tamanha envergadura, é imprescindível a presença e participação de todos os líderes políticos da cidade, em especial do prefeito.
Constrangidamente, marcaram nova reunião, para mais 60 dias depois. Chegado o dia, a decepção se repetiu. Novamente o prefeito não compareceu, nem deu explicações. E a PUC deu o assunto por encerrado.
Ao dr. Nezinho restou inventar, nos dias seguintes, uma desculpa qualquer sobre “problemas com a papelada” do terreno oferecido.
Isto aconteceu em 1989.
Alguns anos se passaram, e Nezinho se encontrava novamente nas dependências da PUC quando, em conversa com um diretor, este lhe apontou um prédio novo com dez ou doze andares, e disse:
“Esse prédio, com todos os cursos que abriga, e mais alguns, deveria estar em Guarapuava.”

o-o-o-o-o
Bem Brasil – Por sempre voltar a esse assunto, nesse mesmo espaço alguém já me tachou de “rancoroso”. Se o inconformismo com a maldade humana é ser rancoroso, é o que vou ser até o fim. E os que se conformam vão continuar permitindo que a maldade se perpetue, em prejuízo dos mesmos que, bonzinhos e de memória curta, periodicamente devolvem o poder ao mal que os lesa.

Cristina Esteche

Jornalista

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