Em apenas um mês, em setembro, apicultores de Turvo perderam 40 caixas de abelhas. De acordo com investigação da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), as abelhas morreram envenenadas por agrotóxicos. Conforme a Adapar, durante a inspeção dos aviários, produtores da Colônia Velha do Ivaí, encontraram as abelhas dizimadas.
“Estavam mortas dentro e fora das caixas. E com a ‘língua’ para fora. Algumas abelhas que ainda estavam vivas encontravam-se desorientadas e sem reação alguma”. Após recebimento da denúncia, em 10 de setembro deste ano, engenheiras agrônomas e fiscais da Adapar coletaram amostras nas propriedades. O material coletado passou por análise no Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar).
Entretanto, houve a constatação de que um agricultor vizinho às pequenas propriedades utilizou o inseticida ‘Marathon 800 WG’ (Fipronil).
Conforme a bula, trata-se de um inseticida indicado para o controle de pragas. Assim, a aplicação se dá nas culturas de algodão, batata, cana-de-açúcar, eucalipto, milho e soja. De acordo com o relatório do Tecpar, o agricultor utilizou esse inseticida em jato dirigido no sulco de plantio. O objetivo, conforme o Instituto, era o controle de vaquinha (Diabrotica speciosa) no momento da semeadura do milho.
“Todavia, havia plantas do nabo forrageiro ainda com flores”. Porém, no momento em que a semeadora passa, a planta de nabo cai no solo, entrando em contato com o agrotóxico. “Assim, as abelhas que ainda estavam visitando as flores do nabo foram intoxicadas e voltando às colmeias, contaminaram o enxame todo”.
ALERTA
Com base na lei federal 7802 de 11/7/1989, o agricultor que causou o dano foi autuado. Afinal, a lei é clara quando atribui as responsabilidades administrativa, civil e penal pelos danos causados à saúde das pessoas e ao meio ambiente. Desse modo, a Adapar faz um alerta aos agricultores. A Agência pede para que leiam a bula, rótulo e receituário agronômico do agrotóxico antes de ser comprado e aplicado.
No caso em questão, a bula do inseticida alertava para a nocividade do produto. “Este produto é tóxico para abelhas. Não aplique este produto em época de floração, nem imediatamente antes do florescimento ou quando for observada visitação de abelhas na cultura. O descumprimento dessas determinações constitui crime ambiental, sujeito a penalidades”.
AS ABELHAS NA COMUNIDADE
A importância das abelhas vai muito além da produção de mel, já que possui o papel fundamental de polinização. Conforme o professor Tiago Maurício Francoy, da USP e especialista em abelhas, elas são responsáveis pela polinização de 75% de todas as plantas com flores disponíveis no planeta. De acordo com reportagem do Jornal da USP, o uso indiscriminado de agrotóxicos na produção agrícola gera um ciclo vicioso.
“A gente usa o agrotóxico para tentar fazer com que menos pragas vão às plantações para devastar aquelas plantações, só que, junto com as pragas morrem também os insetos benéficos. E aí você diminui a produtividade, porque tira o polinizador. E aí você desmata mais o entorno, diminui a área onde a abelha pode morar, usa mais agrotóxico para tentar aumentar a plantação. Só que você diminui a população de polinizadores e diminui também a produção, e assim vai…”.
PRESERVAÇÃO AMBIENTAL
Conforme o professor, além da produção agrícola, as abelhas também são importantes para as áreas verdes, de preservação ambiental. “Em qualquer área de preservação, sem abelhas você tem uma queda brusca na reprodução dessas plantas, e isso leva a uma diminuição na produção de frutos, do tamanho da área verde… e aí entra numa cadeia destrutiva, porque a planta é alimento de herbívoro, herbívoro é alimento de carnívoro. Se você começa a diminuir um, você vai afetar a cadeia inteirinha”.
Entretanto, na comunidade no Interior de Turvo, a apicultura representa a diversificação de atividades. Ou seja, mais um projeto para a geração de renda de agricultores familiares. “Nessa comunidade predominam as pequenas propriedades, com mão de obra familiar, que cultivam olerícolas e fruticultura. E neste caso, a apicultura contribuía para o sustento das famílias afetadas”.