22/08/2023

As marcas dos que se foram

Estamos condenados à morte desde o momento em que somos concebidos, mas o misterio dessa transição para outro plano é pouco compreendido e confesso que me assusta. Embora convivendo com noticias diarias de falecimentos o sentimento de perda nos toca quando uma pessoa conhecida deixa esta dimensão.

Durante a semana nos deparamos com a morte de duas pessoas conhecidas: Carlinhos Marcondes, o velho Charles; e o Beto, o "Negão da Loteria". Pessoas que às suas maneiras deixaram marcas. Nunca vou esquecer o lado politico do velho Charles. Então candidato a prefeito pelo PT, numa das ocasiões, num comicio no Bairro Bonsucesso, tivemos que empurrar o caminhão que servia como palanque. Quando chegamos no local escolhido uma aglomeração de pessoas começava a se formar, mas, de repente, o então adversario Fernando Ribas Carli começou o seu comicio nas proximidades. Uma pessoa chegou gritando ate onde o PT estava e comunicou que o outro candidato distribuia camisetas. Nõ é preciso dizer o que aconteceu. São fatos como esse, embalados pela convicção e pela doação de Carlinhos à sua ideologia politica, ao companheirismo e à luta que travamos, assim como aquele jeitão que seus amigos e familiares conheceram muito bem, que nos farão lembrar da sua imagem com alegria.

Falar do Beto é falar de humildade, de alegria, de luta pela sobrevivencia, de amor incondicional, de amizade. É continuar a vê-lo em cada vendedor de bilhetes de loteria. "Olha a mega sena no escurinho", costuma oferecer sem deixar de contar uma piada sobre negro. Dizia que dava sorte. Educado, nunca insistiu numa venda quando um "não".

A ultima vez que o encontrei já vi cabelos brancos cobrindo a sua cabeça. Parei para conversar e pude perceber tambem que o peso da vida já dava demonstrações de cansaço, mas mesmo assim, o "Negão da Loteria", ou o "Alemão" , codinomes como era tratado, continuou a sua luta. Até que o seu coração parou.

Cristina Esteche

Jornalista

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