22/08/2023

As palavras de Makuch feriram mais que as flechas dos índios

Continua repercutindo muito em todo o País as infelizes palavras do presidente da Câmara de Vereadores de Prudentópolis, Julio Cesar Makuch (PSD), que instigou a população do município a tratar mal os índios que estão em passagem pela cidade.

As palavras de Makuch colocaram em xeque um intenso trabalho de profissionais da Funai, que estão indignados com o pronunciamento do vereador.

Confira, na íntegra, a posição de duas sociólogas que participaram da reunião com Makuch em Prudentópolis:

"

“O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.”
Martin Luther King

*Por: Azelene Kaingáng e Rosângela Vãn Kam Inácio

É inconcebível que uma pessoa pública como o parlamentar Julio Cesar Makuch, Presidente da Câmara de Vereadores de Prudentópolis/PR, incite toda a população de uma cidade à discriminação, ao preconceito, a intolerância e ao racismo contra os Povos Indígenas, como o fez durante seu pronunciamento em plenário no dia 23 de abril de 2013.

Ao se referir aos indígenas que se deslocam para a cidade a fim de comercializar seus artesanatos, distorceu totalmente as questões tratadas em reunião no dia 18 de abril de 2013 em Prudentópolis/PR, da qual participamos, demonstrando uma postura flagrantemente preconceituosa e perversa que deixou a população estarrecida, e que chama a atenção pelo conteúdo racista.

Discursos e posturas como a do Presidente da Câmara de Vereadores de Prudentópolis/PR, Sr. Julio Cesar Makuch, apenas explícita o preconceito e a intolerância secular que sofrem os Povos Indígenas, e mancha de forma lamentável a sociedade de Prudentópolis/PR, que acreditamos sempre tratou bem os indígenas por reconhecer nos mesmos, uma sociedade que precisa e deve ser respeitada em sua integridade física, social e cultural, como Povos que perderam muito no contato com outras sociedades, no entanto conseguem teimosamente sobreviver em meio ao preconceito e tantas formas de intolerância. Esta postura reflete o que pensam muitas autoridades sobre a presença indígena nas cidades, apenas este Vereador teve a coragem de tornar isso público, que por um lado nos dá a oportunidade de chamar atenção para esta questão, não pensem os homens e mulheres de bem que esta é uma postura isolada, porque muitos partilham dela, o que é muito preocupante.

Estamos cientes de que o que incomoda não é a situação de pobreza e nem o artesanato indígena… porque se assim o for, a miséria da população não indígena é muito pior, o que incomoda é a presença dos índios nos centros urbanos e o convívio necessário com eles, o que incomoda é que o resultado da “civilização” do “progresso” e do “desenvolvimento” é esse indígena que está nas cidades lutando para sobreviver seja com a venda do seu artesanato, produto de um trabalho digno, ou inserido nas agroindústrias como empregado assalariado, ou ainda como estudante nas universidades, que também tem no seu meio professores e funcionários que demoram ou resistem em aceitar o convívio com os estudantes indígenas, sempre achando que estes estão no lugar errado e que lugar de índio é nas aldeias!

Lugar de índio é na sociedade, é na ONU, é na OEA, é no Congresso Nacional, porque são Nações discutindo seus direitos e exigindo o respeito a esses direitos conquistados a duras lutas…lugar de índio é todo o lugar onde ele decida estar e não o lugar que se atribui a ele como o ideal para a sua presença! Não existe lugar para ser índio e para o exercício da cidadania indígena, todo o lugar é ideal quando se identifica nele um pouco de nós, da nossa história ou do nosso pertencimento é a assim que os indígenas se sentem nos espaços urbanos, um lugar que é também deles…e não se sentem e não devem se sentir invasores do espaço alheio!

*Azelene Kaingáng é Socióloga Mestranda em Políticas Sociais
Rosângela Vãn Kam Inácio é Pedagoga especializada em Psicopedagogia

As pedras que se atira podem voltar em forma de montanha. Que fique a lição ao vereador Julio Makuch.

E o povo? Bom, o povo… 
 

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

Este post não possui termos na taxonomia personalizada.

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.

Pular para o conteúdo