22/08/2023

Até lá?

Que as universidades públicas passam por uma crise de identidade ninguém pode negar. E que por isso se faz necessária uma reforma universitária também é fato.

Reproduzindo parte de um texto escrito pela sociologa Marilene Chauí e Sergio Cardoso, ambos do Forum  de Políticas Públicas da USP, “perante a sociedade, as universidades públicas passaram a ser apresentadas como envelhecidas, burocráticas, ineficientes, improdutivas, corporativas e incapazes de realizar a função social de assegurar o ensino superior gratuito à maioria dos jovens; perante os governos, surgiram como um sorvedouro de verbas mal administradas, destinadas a privilegiados com prejuízo dos direitos à educação de milhões de crianças e jovens da classe trabalhadora; perante si mesmas, as universidades dividiram-se em dois grandes grupos, um deles, promotor da desqualificação, procurou qualificar-se apresentando-se como produtivo, eficaz e moderno porque competitivo e competente, uma ilha de “alto nível” em meio a um mar de “baixo nível”, e o outro, com forte presença sindical, procurou manter a dignidade universitária reivindicando mais verbas para a educação, melhores condições salariais e de trabalho”.

Nos últimos meses temos presenciado e noticiado a falta de recursos, provocados por cortes, que envolvem a Universidade Estadual do Centro-Oeste, a Unicentro, sediada em Guarapuava. Acompanhamos também a crise que atinge professores e Governo, responsável pela maior mobilização sindicical já presenciada no Paraná com a greve, com agressões físicas e psicológicas que foram “tatuadas” em cada professor, em cada aluno, em cada cidadão que se preocupa com a qualidade da educação, do ensino, da pesquisa.

Tudo isso contribui para “rechear” a crise de identidade que atinge as universidades públicas, sem exceção.

E num momento em que a Unicentro vive uma campanha eleitoral para escolher quem serão os reitores, é preciso dialogar com a comunidade acadêmica a também com a sociedade, visto que não é “ilha” dentro da cidade e da região. Se faz necessário uma campanha de alto nível, com debate de ideias que visem aprimorar  as políticas de ensino, pesquisa, extensão e gestão. É preciso retomar a linha e evitar que o processo eleitoral descambe para ataques pessoais e judicialização da política, como o fato lamentável em que se deu publicidade na semana passada, quando  representantes das duas chapas concorrentes  se viram envolvidos em denúncias por injúria racial. Não vamos entrar no mérito desse tema, vamos nos entristece observar que até nas eleições universitárias, o debate de ideias acaba sendo “engolido”.

Cristina Esteche

Jornalista

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