22/08/2023
Agronegócio

Atraso no plantio de trigo pode afetar o de soja

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Guarapuava – Apesar do atraso no plantio de trigo em função das chuvas, o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastacimento (Seab) estima que o estado produza cerca de 3,25 milhões de toneladas, volume semelhante ao da temporada 1987/88. Se o clima colaborar e não tivermos mais geadas muito fortes e chuvas intensas, a produção pode atingir um número recorde. No ano passado, foram 3,21 milhões de toneladas do cereal, 1% menor do que o esperado para este ciclo.
Conforme zoneamento agroclimático do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a data limite para o plantio de trigo no Paraná encerrou no dia 20 deste mês, mas em Guarapuava muitos produtores ainda não concluíram. “As chuvas atrasaram o plantio, as pessoas na nossa região ainda estão plantando. Perdemos o período ideal de plantio, que seria até 15 de julho, vai atrasar o ciclo. Mas o produtor está correndo e as pessoas buscando mais plantadeiras para agilizar o plantio. Isso vai repercutir lá na frente, quando a colheita competir com o período ideal de plantio de soja, atrasando também o plantio de soja em cima dessas áreas de trigo”, comenta o presidente do Sindicato Rural de Guarapuava, Cláudio Marques de Azevedo.
Dados do Deral apontam um aumento de 7% na área total da cultura em relação ao ano passado. A área saltou de 1,15 milhão de hectares para 1,22 milhão, a maior extensão de plantio desde 2004/05. Em Guarapuava, a expectativa é de que a área plantada chegue a 58.500 hectares, 8% a menos que ano passado, com 63.645 hectares.
O Paraná, primeiro produtor de trigo do país, responsável por cerca de 60% da produção, ainda deverá apresentar queda de 7% na produtividade em relação a 2008 devido ao atraso no plantio e, consequentemente, maior suscetibilidade às chuvas. São previstos 2,65 mil quilos por hectare, quando no ano passado esse número ficou em 2,88 mil Kg/ha.
È que o fenômeno climático El Niño, que começa neste mês e pode durar até um ano, prevê chuvas 20% acima da média histórica na região Sul. Se vierem na hora certa, beneficiam a cultura, caso contrário, prejudicam a produção, já que a qualidade do grão fica ameaçada e a colheita pode ser embaixo de água.
Riscos à parte, os produtores apostam na cultura por conta de mecanismos de venda do governo federal, pela possibilidade de financiar o seguro do plantio, e também por causa da queda de produção da Argentina, líder mundial em exportação do produto. “O preço do trigo não está atrativo, mas teve alteração do preço mínimo e incentivo para plantio, então acredito que ainda possa dar resultado. Muitos plantam no sistema de adubação, adubando o trigo para depois plantar a soja, e só por esse ponto já vale a pena”, explica Azevedo.
O preço esperado pelo mercado é de R$ 530 por tonelada. Na última safra foi de R$ 480/t.

Nova variedade
O Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) anunciou recentemente a criação de uma nova variedade de trigo que promete chamar a atenção do mercado para a próxima safra: o IPR 144. Criado em parceria com a Fundação Meridional de Apoio à Pesquisa Agropecuária, o novo trigo vem apresentando excelentes resultados em testes.
Surgido de um cruzamento inicial no ano de 1996, o IPR 144 passou por uma série de exames nesses 13 anos até chegar nessa linhagem. “Nós fizemos testes no Paraná, São Paulo, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul e o resultado final nos agradou bastante. Ele se mostrou ser bem produtivo e adaptável a ambientes diferentes, portanto, pode ser utilizado em qualquer região do nosso Estado. Os produtores rurais se mostraram bem empolgados com o IPR 144 e acredito que ano que vem essa variedade estará no mercado”, revela o pesquisador do Iapar, Carlos Roberto Riede.
De acordo com ele, a produtividade do IPR 144 pode chegar a expressiva marca de quatro mil quilos por hectare. Nos testes, obteve um potencial produtivo 9% acima das outras variedades cultivadas para fazer a comparação.
Quanto à qualidade, Riede aponta que esta variedade mostrou boa desenvoltura para a produção de pães. “Ele possui um glúten mais encorpado e garante uma qualidade a mais para o produto”, completa.
A resistência a doenças é outro ponto a favor do IPR 144. Segundo os testes realizados com o trigo, ele apresentou uma resistência moderada às principais moléstias que atacam essa cultura, como a brusone, que ataca diretamente nas espigas. Com a ferrugem, manchas foliares e o oídio, a planta teve uma resistência moderada para combater a enfermidade.

Cristina Esteche

Jornalista

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