22/08/2023

Avant première de filme com roteiro de Paulo Esteche é hoje em Joinville

imagem-39844

Um roteiro escrito pelo jornalista guarapuavano Paulo ganha as telas da tevê e dos cinemas e traz para o presente uma história que não pode ser esquecida. A saga dos emigrantes suíços de Schaffthausen que vieram para o Brasil e fundaram a catarinense Joinville há cerca de 150 anos está registrada num documentário que permite duas versões: uma para tevê com 52 minutos e outra para cinema com 90 minutos de duração. A Júpiter Produções, que detém os direitos autorais, tem contrato com diversas televisões europeias, incluindo a Discovery e a National Geografic. No Brasil, o documentário vai ser transmitido em salas "cults" e provavelmente se transformará numa minisserie da Rede Globo em Santa Catarina, com veiculação já acertada pela afiliada RBS.

 

A avant première nacional acontece na noite desta sexta-feira (29), às 20h30, no Teatro Juarez Machado, em Joinville. A lotação, para 500 pessoas, está esgotada desde a semana passada. Porém, o filme já foi lançado na Suíça no dia 1º de junho, em Schaffhausen, também com sala cheia.

O docu-drama “Suíços Brasileiros – Uma história esquecida” remexe no passado uma realidade atual que corta o Brasil de norte a sul, de leste a oeste: a situação de imigrantes que fogem da miséria a procura de uma vida melhor.

De acordo com Paulo Esteche, o filme enquadra-se na categoria de "docu-drama". Para contar a história da colonização de Joinville são usados atores, mesclando dramatização, com atores, imagens de arquivo, depoimentos.

O filme conta a história da colonização de Joinville no Século XIX. Na época, a região era conhecida como Colônia Dona Francisca. As terras hoje está a cidade mais industrializada pertencia originalmente ao Príncipe de Joinville, monarca francês.
O príncipe se chamava François d´ Orléans, príncipe de Joinville, foi cunhado de D. Pedro II, casado com sua irmã, a princesa D. Francisca de Bragança, princesa do Brasil. Era filho de Louis Philippe I, rei dos Franceses e de Maria Amalia di Borbone, princesa das Duas Sicílias”, relata o jornalista.

CONTEXTUALIZAÇÃO
O documentário retrata a época do 2º Império no Brasil. O príncipe de Joinville se casou com a irmã de Dom Pedro II, a princesa Dona Francisca e recebeu como dotes de casamento extensas áreas de terra na região onde hoje está Joinville.
Nesse período, por volta de 1840, a Europa passa por uma grande crise. Era a fase de transição do feudalismo para a era industrial. Era o apogeu da Revolução Industrial.
De um lado, a França era invadida pelas forças de Napoleão Bonaparte. O príncipe de Joinville foi obrigado a sair da França, vivendo seu exílio na Inglaterra. De outro, muitos países entram em profunda crise econômica, porque viviam exclusivamente da agricultura, em regime feudal.
“É aqui que começa a nossa história”, diz Paulo Esteche. O príncipe de Joinville sendo obrigado a vender suas terras, porque estava precisando de dinheiro no exílio e o Brasil, no 2º Império, sendo obrigado a acabar com a escravidão negra, para receber os "escravos brancos", ou seja, os imigrantes europeus que eram agricultores em seus países de origem e foram enviados para cá para "brancanizar" a mão de obra.

Para consolidar seu negócio, o príncipe de Joinville uniu-se a um senador de Hamburgo, que era o centro comercial da Europa na época. “Esse senador chamava-se Schoereder. O príncipe e o senador hamburguês criaram uma empresa, a Colonizadora Hamburgo”, diz o jornalista e roteirista da saga.

De acordo com Paulo Esteche, a colonizadora foi quem atraiu imigrantes para o projeto de colonização da Colônia Dona Francisca. A ideia era colonizar as terras. Para isso, eles precisavam de mão de obra com experiência em agricultura, mão de obra forte, famílias. O país mais envolvido foi à Suíça.

“PROPAGANDA ENGANOSA”
“Tem um personagem bem interessante. Ele é um propagandista. Chama-se Paravicini. O Paravicini foi contratado pelo Schoereder para percorrer os cantões suíços (Cantão é igual a Estado para nós), chamando agricultores para ir morar na Colônia Dona Francisca”, antecipa Esteche.
Ele corre os "quatro cantos" anunciando um "oásis", uma "Nova Iorque" no Brasil. Faz propaganda mentirosa: as terras na futura Joinville eram pantanosas, desabitadas, florestas… Ele não falava sobre o calor de quase 40º no verão. Na Suíça, o povo é acostumado a temperaturas geladas, abaixo de zero.
“É a decepção, a política enganosa, o sofrimento no processo colonizatório do Brasil no século XIX. E também a capacidade de superação do povo. Centenas de famílias suíças foram atraídas para a Colônia Dona Francisca e foram surpreendidas por toda sorte de dificuldades”, diz.

Segundo Esteche, a primeira parte do filme foi rodada na Suíça, no cantão de Schaffhausen, de onde veio a grande maioria de imigrantes.
“O enredo do filme gira em torno de uma família de agricultores que está à beira da miséria e não vê outra saída na Suíça, a não ser emigrar para o Brasil. A primeira dificuldade é a viagem de 3 meses de navio. Doenças e mortes. Na chegada à Colônia Dona Francisca, eles percebem que foram enganados”, conta o roteirista.

“É importante dizer que o meu roteiro foi baseado num livro do historiador joinvillense Dilney Cunha (Suíços em Joinville, o duplo Desterro). Ele é o autor do filme. A grande parte da pesquisa foi desenvolvida por ele. No entanto, minha releitura me permitiu uma nova compreensão sobre o 2º Império no Brasil”, diz Esteche.

Segundo o jornalista e roteirista do documentário, na análise de como ocorreu a colonização de Joinville, vamos entender três situações: O primeiro ponto é que com o fim da escravidão no Brasil atendeu a interesses puramente mercantilistas. “Houve uma pressão extrema dos "liberais" europeus para a entrada da mão de obra "branca". De um lado para se livrar dos "agricultores empobrecidos"; do outro para expandir negócios desses investidores em outras fronteiras, principalmente no Brasil.

A outra questão é a estreita relação entre economia e cultura. “Esse item é bem importante”, diz Esteche.
Desde aquela época, os suíços já tinham um modelo de organização social bem avançado.
Eles adotaram o sistema "comunal", onde tudo se decide de forma coletiva, do mais baixo ao mais alto nível político. As decisões são adotadas em conjunto, e executadas conjuntamente.

Os administradores da Colônia Dona Francisca não tinham interesse nisso. Eles queriam trabalho e lucro. Os suíços-brasileiros se organizavam em Joinville da forma como sempre aprenderam: no sistema "comunal", coletivo. Como os administradores fizeram para acabar com isso? Proibindo os suíços de falar a língua deles: o suíço-alemão. A língua têm influência do alemão, francês e italiano. Passaram a ser obrigados a usar expressões apenas em alemão; foram proibidos de se reunirem e com isso, foram perdendo o vínculo cultural, a língua, os costume, as reuniões familiares coletivas. “Por isso, os descendentes de suíços acreditavam serem descendentes de alemães por que só falavam alemão. Foi isso que aconteceu hoje.

Em Joinville, poucos conheciam da história da cidade. Sempre imaginaram que a colonização era alemã, desconheciam a influência dos suíços, inclusive os próprios suíços. Aniquilaram com a cultura suíça, por conseguinte separaram o povo, a comunidade perdeu sua força.
“Isso mostra o quão a cultura é importante para um povo. Muitos dizem: quer acabar com um povo, acabe com sua cultura. Eu prefiro dizer o contrário: quer o desenvolvimento de um povo, valorize a sua cultura. Os imigrantes suíços em Joinville se dispersaram, deixaram de existir como comunidade, mas foram decisivos para o crescimento da cidade. Foram os primeiros colonizadores. Isso explica o substituto uma história esquecida", diz Paulo Esteche.

A IDEIA DO DOCUMENTÁRIO
A participação de Paulo Esteche como roteirista do documentário surgiu em 2008 numa situação que o jornalista descreve como sendo bem curiosa.
“Terminada a campanha de 2008, em Guarapuava, quando eu havia feito a campanha do prefeito Fernando Carli e o cineasta Calixto Hakim a do Leonardo Mattos Leão. Nos encontramos num restaurante e alguém me falou que o Calixto estava lá. Eu me aproximei, pois queria conhecer outros profissionais da mesma área. No meio da conversa, o Calixto me perguntou: você já escreveu ficção? Eu disse que sim, afinal sempre escrevia roteiros em campanhas política”, conta o jornalista.
Após ler o livro do historiador joinvillense Dilney Cunha (Suíços em Joinville, o duplo Desterro) Paulo Esteche diz ter percebido que não estava diante de uma peça de ficção.
“Tomamos, então, a decisão de nos basear em personagens reais, e não fictícios. Documentários às vezes se tornam chatos, enfadonhos, laudatórios. Eu procurei criar um enredo com argumentos politicamente consistentes e sugerir cenas com diálogos rápidos. Ou seja: se abstrairmos os depoimentos, é um longa-metragem atraente, que fixa o público”, diz.

ELENCO
Além da primorosa obra do historiador Dilney Cunha, o trabalho tem o talento do cineasta Calixto Hakim e também do diretor de fotografia, Marcelo Biss.

Na parte de produção, a cineasta Katharina Bech foi primorosa. As locações na Suíça e em Joinville transformaram os set de filmagens numa pintura, em obras de arte.

Entre os figurantes brasileiros, está o artista joinvillense Jaurez Machado, um dos ícones brasileiros da arte contemporânea, reconhecido mundialmente. Ele fez questão de participar do filme””, diz Paulo Esteche.
“Como guarapuavano, posso dizer que tenho um sentimento muito especial, de satisfação, de saber que o Juarez Machado interpretou textos que eu escrevi”, registra.

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

Este post não possui termos na taxonomia personalizada.

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.

RSN
Visão geral da Política de Privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações de cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.