22/08/2023
Guarapuava

Avós também exercem a função de serem pais

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Da Redação

Guarapuava – O cabelo grisalho, as marcas do tempo enrugando a pele, o corpo já fragilizado, a cadeira de balanço, a torta de maçã esfriando na janela, o xale nas costas, a boina na cabeça, as histórias, as brincadeiras, as canções de ninar. Estas imagens nos remetem à infância e materializam as figuras dos nossos avós. Embora as últimas gerações convivam com outra imagem de avós, agora descolados e modernos, a intensidade do amor dobrado, os mimos ainda são os mesmos, apesar da vida ativa que agora se tem.

Para recuperar histórias de avós, no dia consagrado à Santa Ana e a São Joaquim, avós de Jesus Cristo, o ícone do cristianismo e, por extensão, dedicado aos avós, buscamos pessoas que tiveram nos avós, também a figura do pai e da mãe.

"Fui criada por meus avós, Anastácia e Miguel Diachuk, mas ambos já faleceram – minha avó há quatro meses apenas”, diz Adriana Diachuk. Ela foi criada pelos avós a partir dos quatro anos de idade, quando sua mãe foi morar em outra casa.

"Morei até os meus 21 anos quando eu me casei e levei minha avó pra morar comigo aqui em Guarapuava. Ela era de Inácio Martins e voltou porque não se acostumou aqui”. Segundo Adriana, seus avós eram pessoas maravilhosas. “Nunca vou esquecer das vezes que ouvia músicas de viola com meu avô, do carinho que me dava. Minha avó foi uma mulher incrível e guerreira, minha melhor amiga e mãezona”, diz. 

 
Adriana e sua vozinha Anastácia Diachuk

Adriane Cherepa de Oliveira perdeu a mãe quando tinha apenas seis meses de vida. “A partir daí minha avó materna, dona Elidia, cuidou de mim. Quando eu tinha nove anos meu pai acabou falecendo. Foi muito sofrido. Eu e minha irmã mais velha fomos criadas na roça. Trabalhamos muito”. Há um ano, segundo Jaqueline, seu avô – “que chamo de pai”- morreu aos 96 anos. “Agora perdi minha avó/mãe porque o filho dela nos tomou e por causa das aposentadorias dela. Ela foi levada no dia em que meu avô/pai morreu”. Porém, há dois meses Jaqueline ganhou um neto. “É um príncipe lindo, o Anthony Miguel”. 

Tati Castilho foi criada pela avó materna Terezinha Veríssimo da Luz desde o dia em que nasceu. “Minha mãe sempre trabalhou fora da cidade, devido à dificuldade de encontrar emprego aqui. Meus pais eram separados quando nasci, e quando fiz quatro anos meu pai faleceu. Então, desde sempre fiquei com a minha avó”. De acordo com Tatiane, era ela [a avó] que ia em reuniões escolares, fazia o meu 'mamá', trocava fraldas, me educou rígida e tradicionalmente, firme, disciplinada (pra não falar ruim, rs), me ensinou o certo e o errado, não queria que eu namorasse e coisas de mãe, fez seu melhor na sua condição. Hoje, Tati e avó/mãe moram ao lado. “Ela tem 77 anos e está firme, cuidamos dela no geral, porque ela ainda cuida de nós”.


Tati Castlho e avó  Terezinha Veríssimo da Luz 

A história de Joslaine Teixeira não é diferente. “Logo que nasci meus pais se separaram. Minha mãe e eu fomos morar com meus avós. Quando eu tinha um ano de idade, mais ou menos, minha mãe casou de novo e com o passar do tempo não estava dando certo o marido dela. Era muito ruim e meu avô me levou para casa. Eu tinha dois anos.” Apesar da dificuldade, ela diz que foi criada com amor, carinho, puxão de orelha”. Joslaine morou com os avós até os 18 anos, quando se casou. Minha avó faleceu há mais de dois anos. Ela ficou bem doente antes de morrer e um dia, enquanto cuidava dela, ela me disse que foi bom ter me criado porque eu estava cuidando dela num momento difícil. “Sou quem sou graças ao esforço deles”.

 
Joslaine Teixeira tomendo chiemarrão com seu avô Maurílio Ferreira Teixeira 

Marina Crissi diz que viveu boa parte da vida com seus avós, José e Maria Antonia Crissi. “São meus avós paternos e sempre foram muito presentes na minha vida, em tudo, desde as brincadeiras até me levarem à escola tomar vacina. Minha avó me ensinou a rezar e me levava na catequese. Ela sempre cuidou de mim e dos meus irmãos. Ela morreu há cinco anos e meu avô há três meses, mas nunca serão esquecidos”. 

NÃO FAZ DIFERENÇA

Ser pai, mãe, avô ou avó, é uma condição social e, portanto, não influencia na criação da criança. A afirmação é do psicólogo Alexandre Pereira Junior, coordenador do curso de Psicologia, da Faculdade Guairacá. Segundo ele, não existe nenhum trabalho científico que diga que crianças educadas pelos avó apresentem alguma diferença daquelas educadas pelos pais. "Se pai, mãe, avós, mãe social são funções exercidas por quem se responsabiliza pela educação da criança que precisa ser protegida, amada, cuidada, educada, independente de quem exerça a função de maternagem ou de paternagem".

O psicólogo observa que na mioria das vezes, os avós são os que estão disponíveis para assumir essa função dentro da organização familiar. "Por terem mais experiências, sabem como lidar e como educar", observa.

Cristina Esteche

Jornalista

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