22/08/2023
Política

Beto Richa: “Seriedade, transparência e diálogo trazem resultados”

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Curitiba – O prefeito Beto Richa, de Curitiba, deixa a Prefeitura de Curitiba na próxima terça-feira, 30 de março. É pré-candidato do PSDB ao governo do Estado. Na entrevista a seguir, fala do trabalho que desenvolverá a partir de abril, das alianças para as eleições e de suas proposta para governar o Paraná.

O senhor está deixando a prefeitura de Curitiba, como pré-candidato ao Governo do Estado. O que está definido sobre as eleições? Alguma coligação já acertada?
Beto Richa – No final de fevereiro o diretório estadual do PSDB, por unanimidade, indicou meu nome como pré-candidato ao Governo. A campanha só começa depois da convenção que vai referendar nossa candidatura, em junho. Até lá, conversaremos com os partidos interessados em alianças. A ideia é renovar, e até ampliar, a ampla coligação partidária que apoiou minha reeleição como prefeito de Curitiba, incluindo setores importantes do PMDB. Se não for possível, vamos para a disputa. Uma campanha de propostas, com compromissos que caibam no orçamento do Estado, sem promessas mirabolantes. E uma campanha sem agressões nem ataques, sem baixarias ou calúnias. Acredito, aliás, que o debate propositivo vai prevalecer.

Como pré-candidato, o senhor já tem um diagnóstico do Estado?
Beto Richa – Não é possível ver o Paraná de uma só maneira. O desenvolvimento do Estado se deu de forma muito heterogênea, concentrando-se em algumas regiões, em prejuízo de outras, onde o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é baixo e as possibilidades de educação e emprego são limitadas. A população deixa os pequenos municípios, sobretudo nessas regiões, porque não tem oportunidades. Isso cria um círculo vicioso, pois priva as pequenas cidades de sua maior riqueza, que são as pessoas, e pressiona a periferia das cidades maiores, que não têm infraestrutura social, urbana e de serviços em quantidade necessária para atendê-las. Esse diagnóstico será aprofundado com uma série de audiências públicas por todo o Paraná. Vamos ouvir as pessoas que vivenciam os problemas e o cotidiano do Estado. Saber quais são não apenas as aspirações mais práticas e imediatas dos cidadãos, mas também seus sonhos. Numa perspectiva de prazo maior, é fundamental para enfrentar o grande desafio que é governar o Paraná. Em Curitiba, a realização de audiências públicas, em todos os bairros da cidade, teve um papel central na formulação do orçamento e das políticas públicas.

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“A ideia é renovar, e até
ampliar, a coligação
partidária que apoiou minha
reeleição como prefeito
de Curitiba”
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Como reverter esse círculo vicioso de abandono dos pequenos municípios e inchaço das grandes cidades?
Beto Richa – Estado, prefeituras, empresas, cidadãos, sindicatos, universidades, ongs e associações, em parceria, devem identificar as potencialidades de cada microrregião, assim como suas fragilidades, a fim de fixar estratégias de desenvolvimento sustentável, que tornem a cidade e a região auto-suficientes. O poder público tem o dever de prover infraestrutura — transporte e energia, principalmente — e serviços básicos, além de agir como indutor do crescimento. Mas cada região, com suas características, tem uma vocação socioeconômica e demandas específicas. A partir disso, é possível lançar as condições para um desenvolvimento mais homogêneo, com redução das desigualdades regionais e mais qualidade de vida.

Nessa linha quais seriam as prioridades do Estado?
Beto Richa – Saúde, educação, geração de emprego e combate à violência são pontos cruciais. Em todos eles, a intervenção do Estado deve se harmonizar com ações regionais e locais. Na saúde, por exemplo, o cidadão precisa dispor de atenção básica onde mora e de especialidades a uma distância razoável de casa. É inaceitável que ainda hoje as pessoas precisem se deslocar mais de cem quilômetros para um atendimento emergencial. Nada contra dar ambulâncias aos municípios, mas o que as pessoas precisam é de estrutura básica de saúde e de atendimento especializado rapidamente acessíveis.

A saúde é um problema grave, mas as pessoas também estão preocupadas com a escalada da violência, que chegou às pequenas cidades. Como conter a criminalidade?
Beto Richa – Olha, de acordo com dados oficiais da Secretaria de Segurança, o número de crimes contra a pessoa, que era de 81.800 em 2007, subiu para 107.853 em 2008. Um aumento absurdo de 31,8% que embute uma informação ainda mais assustadora: a maioria das vítimas são os nossos jovens. Isso requer um conjunto de medidas sociais, culturais, econômicas e de educação que assegurem capacitação, lazer e emprego. Mas uma questão muito específica, ligada ao setor, é o inadiável aumento do número de policiais civis e militares em todo o Estado, a partir da atualização de estudos de demanda, que há vários anos não são feitos. Acredito que a ampliação dos quadros e a modernização da polícia, sobretudo na área de inteligência, terão resultados efetivos, especialmente se acompanhadas do fortalecimento da polícia comunitária. Por fim, estou certo de que é possível aperfeiçoar a cooperação e as operações conjuntas entre as polícias estaduais e a Polícia Federal nas regiões estratégicas para o combate ao tráfico de drogas, como a fronteira e as cidades e estradas situadas na rota do tráfico.

E para a agricultura, qual é sua proposta?
Beto Richa – Primeiro, é necessário garantir o básico. Por exemplo, uma eficaz política de controle da aftosa sem vacinação, capaz por si só de agregar grande valor aos resultados da agricultura. Também é necessária uma política agressiva de agroindustrialização, para valorizar a nossa produção, integrando e adensando as cadeias produtivas a partir da valorização dos arranjos produtivos locais. A ampliação do crédito agrícola facilitaria objetivos estratégicos, como maior integração internacional do setor. O que se espera do Estado é que melhore as estradas rurais, aprimore o porto de Paranaguá e analise rapidamente as alternativas em ferrovias. O pedágio caro é um gargalo, que pode ser contornado com diálogo. Não creio em intransigência da parte das concessionárias. Elas têm interesse em ser parceiras do produtor no processo de desenvolvimento econômico.

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“O que se espera do Estado é que melhore
as estradas rurais, aprimore o porto
de Paranaguá e analise rapidamente
as alternativas em ferrovias”
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Agronegócio ou agricultura familiar?
Beto Richa – É um dilema inteiramente falso. São atividades complementares. O agronegócio produz empregos, renda, divisas e tecnologia. Sem a força do agronegócio o País estaria insolvente há muito tempo, não teria como honrar compromissos externos e a conta de serviços estaria estourada. Vejo na agricultura familiar e nas cooperativas um grande volume de produção e um potencial ainda maior. Podem ser incentivadas como duas extraordinárias aliadas num programa estadual de segurança alimentar. Em Curitiba, as lojas do Armazém da Família vendem para a população de baixa renda alimentos produzidos por pequenos e médios produtores de várias regiões do Estado. A preços, em média, 30% abaixo do mercado. Em cinco anos, essas famílias economizaram R$ 223 milhões. A segurança alimentar é prioridade e um programa desta natureza pode ser transposto para o âmbito estadual, com base na experiência de Curitiba.

É possível conciliar a produção agrícola com a preservação do ambiente?
Beto Richa – O produtor paranaense tem perfeita consciência da necessidade de preservação ambiental, de preservação de reservas, de proteção das matas ciliares e de cuidados no plantio e cultivo do solo. Sabe que isso cada vez valoriza mais o seu negócio. O agricultor, aqui no Paraná, não pode ser visto pelo poder público como adversário, mas como aliado na preservação do meio ambiente. No agronegócio ou na agricultura familiar, as pessoas sabem da importância de promover o desenvolvimento econômico sustentável. Se o Paraná tiver autonomia para elaborar seu próprio código florestal, ou regulamentar um código federal, não tenho dúvida de que será modelo, no espírito e no cumprimento da lei.

Há 15 anos o governador do Estado sai Curitiba. O senhor é prefeito de Curitiba. Será que o interior não está um pouco desprestigiado na política estadual?
Beto Richa – Nasci e me criei em Londrina. Talvez por causa desta circunstância, minha visão do Estado é do Paraná como um todo, sem a dicotomia entre capital e interior. O que julgo fundamental, como disse antes, é a necessidade de desconcentrar os investimentos, tendo como foco as cidades menos desenvolvidas, com descentralização e regionalização da presença do poder público. E essas cidades existem tanto no interior como na Região Metropolitana. Concretamente, nossa proposta prevê a implantação de unidades de atendimento ao cidadão em municípios-chave, concentrando os serviços estaduais e federais, num mesmo local, com mais eficácia e rapidez no atendimento. A criação destas unidades, em parceria com as prefeituras, será fator de valorização dos municípios como sedes regionais ou microrregionais. São Paulo, por exemplo, tem o Poupa Tempo, uma experiência relevante nesse modelo de governança descentralizada. Em Curitiba, acabamos de lançar o Tudo Aqui. Junto com a instalação desses serviços vamos garantir a presença do Estado junto a todos os municípios, planejando conjuntamente, levando apoio técnico, realizando as obras de sua responsabilidade e atuando junto ao governo federal para que faça a sua parte.

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“Nossa proposta prevê unidades
de atendimento ao cidadão, concentrando
os serviços municipais, estaduais e federais num
mesmo local. Como o Tudo Aqui, de Curitiba,
ou o Poupa Tempo, de São Paulo”
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Que papel o senhor vê para a Copel?
Beto Richa – Desde que foi criada pelo Bento Munhoz da Rocha, a Copel, cumpre uma função importantíssima como catalisadora do desenvolvimento econômico do Estado. Ampliar a produção de hidroenergia e concluir a instalação do sistema de transmissão de dados de alta capacidade, em todo o território paranaense, são alguns dos desafios da Copel. Precisamos resgatar o valor de mercado da empresa, uma das maiores do País, e reorganizar sua governança, que já foi modelo para outras companhias brasileiras e até do exterior. Para isso, o quadro técnico da empresa é referência.

A Copel nos traz à próxima pergunta: qual a sua visão da presença do Estado na economia?
Beto Richa – O Estado deve cumprir o papel de indutor do desenvolvimento. No caso específico do Paraná, a Copel, a Sanepar e o porto de Paranaguá têm um valor estratégico. Não é possível abrir mão dessa contribuição. Temos em mente um novo projeto paranaense de desenvolvimento, guiado pela inovação, a qualidade do serviço prestado ao cidadão e a sustentabilidade, no qual a parceria com a iniciativa privada e a cooperação com a sociedade e o chamado terceiro setor são imprescindíveis.

O senhor foi reeleito com mais de 77% dos votos válidos e tem aprovação acima dos 80% em Curitiba. Consideradas as diferenças de tamanho na administração e as peculiaridades regionais, é possível reproduzir esse desempenho no Governo do Estado?
Em Curitiba, não fizemos obras faraônicas, algo para ser lembrado apenas pela imponência ou plasticidade. Não inventei nada, fiz apenas o que minha consciência mandou: uma gestão mais próxima das pessoas. Fizemos quase 300 audiências públicas, para que as pessoas apontassem demandas e prioridades. Na educação, o desempenho de nossos alunos é reconhecido pelo MEC como um dos melhores do País. O Banco Mundial apontou o serviço de saúde pública de Curitiba como o melhor do Brasil, nosso trabalho na habitação é indicado como modelo pela Caixa Econômica Federal. Ou seja: seriedade, transparência e diálogo trazem resultado. É o que pretendemos levar para todo o Paraná.

Cristina Esteche

Jornalista

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