22/08/2023
Economia

Brasileiro agora busca crédito para pagar dívidas

Mudou a procura dos brasileiros por crédito. As pessoas têm buscado mais as linhas que oferecem dinheiro vivo, usado principalmente para pagar dívidas, do que aquelas que vinculam o financiamento à compra de um produto. E a estrela do crédito é o consignado, cuja prestação é descontada do salário do trabalhador, praticamente sem risco de calote para os bancos.

O volume de aprovações do consignado cresceu 20,8% em 12 meses até abril, segundo dados do Banco Central (BC). Também as concessões no cartão de crédito à vista, que acabam dando um fôlego extra para o orçamento das famílias até a data do pagamento da fatura, cresceram 15,4% em 12 meses até abril.

Já as linhas ligadas diretamente ao consumo tiveram baixo crescimento ou até caíram no período. As concessões de crédito para a compra de veículos, por exemplo, recuaram 5,9% em 12 meses até abril. A mudança no perfil da demanda por crédito foi provocada pelo alto endividamento das famílias, combinado com a inadimplência elevada e resistente, segundo os especialistas em crédito.

Além disso, o avanço da inflação nos últimos meses corroeu o poder de compra da população, o que resultou no desempenho pífio do consumo das famílias, que cresceu só 0,1% no 1.º trimestre deste ano ante o último de 2012.

“Hoje, o ambiente é outro. As pessoas estão procurando crédito para fazer caixa, não para consumo”, afirma o economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas.

Como houve crescimento significativo nas concessões no primeiro trimestre nas linhas de consignado e cartão à vista, o economista ressalta que esses são fortes indícios de que “as famílias estão com o caixa estrangulado e precisam de crédito para completar o orçamento”. Segundo ele, as linhas ligadas ao consumo perderam dinamismo.

Essa também é a avaliação do economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes. Nas contas dele, entre dezembro do ano passado e abril deste ano, a média diária de concessões do crédito consignado cresceu 46,1%, considerando as variações típicas desses meses.

Em contrapartida, no mesmo período, as aprovações diárias de financiamentos para aquisição de bens e compra de veículos caíram 22,9% e 17,2%, respectivamente, no mesmo período.

O destaque foi o consignado. Segundo Bentes, em fevereiro deste ano, a fatia do saldo dos empréstimos consignados ultrapassou pela primeira vez a de veículos no crédito pessoal com recursos livres, excluindo o crédito imobiliário. Em abril, o último dado disponível, o consignado respondia por 28,6% do total emprestado ao consumidor e os veículos, por 27,2%.

“O consumidor está com menos folga no orçamento”, diz Bentes. Pesquisa da CNC mostra que 65,8% das famílias mais pobres, com renda inferior a dez salários mínimos (R$ 6.780), estavam endividadas em maio. Foi o segundo mês seguido em que o endividamento aumentou nesse estrato de renda. Em maio de 2012, esse índice era 56,9%.

Cristina Esteche

Jornalista

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