Os olhares assustados e atentos demonstram o sentimento de estar em um lugar novo. Longe da guerra, os ucranianos refugiados encontram em Guarapuava um recomeço. As 29 famílias que chegaram nesse domingo (20) no município já se instalaram e agora estão conhecendo o novo lar.
Com direito até a passeio no Shopping Cidade dos Lagos, os estrangeiros conheceram um pouco da cidade e compraram coisas que precisam no momento. Entre eles, está a família da Olga Martynchuk, uma das poucas que vieram inteiras para o Brasil no projeto Global Kingdom Partnership Network.
Gratidão é a palavra que resume tudo o que os ucranianos falam aos brasileiros. É nítido ver o quanto os refugiados estão agradecidos. Isso porque, durante uma oração antes da refeição, os voluntários brasileiros se emocionaram com a prece feita a Deus. O pastor Uecles Marques, da Comunidade Vida em Guarapuava, um dos parceiros do projeto, contou que o momento ficou marcado.
Fizemos uma oração e a frase que eles falaram nos emocionou. A interprete disse que eles falaram ‘Que cada gota d’água que o Brasil está dando para nós, que o Brasil seja recompensado’.
FUGINDO DE CASA
Olga veio de Kherson no Sul da Ucrânia com o marido Yuri e as quatro crianças de dois, cinco, sete e 10 anos. Em entrevista exclusiva ao Portal RSN, ela contou que chegar no país em segurança é mais do que ela poderia imaginar. Ela conta que viu quando a bomba caiu próximo ao aeroporto, e em seguida, já pegaram as crianças para fugirem do país.
Na Ucrânia, temos um grupo de pastores. E vi alguns anúncios de igrejas do Brasil para as famílias ucranianas. Então decidimos tentar. No dia 24 de fevereiro, eu acordei por volta das cinco da manhã e ouvi um bombardeio. Às 7h, ouvi mais uma bomba perto do aeroporto. As crianças ficaram assustadas, pegamos as coisas que conseguimos e fugimos o mais rápido possível!
Ao relembrar o momento, Olga sabe pontuar cada detalhe da fuga do país natal. As longas filas de carros, militares vindo na direção deles e os flashes de bombas caindo, são algumas das memórias que a família carrega.
Contudo, contar aos filhos sobre o que estava acontecendo não foi difícil. Isso porque, as escolas já debatiam o assunto da guerra. “Esse tema era falado nas escolas e preparava as crianças mentalmente. Mas logo que tivemos que fugir, minha filha falou que queria ir para escola. Liguei para o diretor que disse que estava indo para escola de ônibus e que estava tudo bem. Eu fiquei chocada, têm bombas caindo.”
PROBLEMAS REAIS
O relato de Olga reflete um problema real na Ucrânia. Em meio ao cenário de guerra, muitas pessoas não queriam deixar a vida para trás.
Dava para ver as pessoas tentando viver uma vida normal, sem saber o quanto a situação era séria. Deve ser por isso que muitos ficaram em Kherson. Só que um dia passa e no outro, você percebe que deveria ter deixado tudo, mas não tem mais nenhuma possibilidade, infelizmente.
A ucraniana ainda relata que os amigos a convidaram para um hotel público. Lá, eles decidiram se mudar para a Polônia, por conta da facilidade da língua para as crianças. “Vimos que cada dia ficava mais perigoso. Na Polônia, vimos os anúncios das igrejas sobre os brasileiros. Nós oramos por aqueles que ficaram e sentem-se nervosos e ansiosos. Oramos por todos, pela guerra e pela Ucrânia, para que tudo acabe”.
Agora, ao chegar no Brasil, ela também agradece pela possibilidade de estar aqui. “Estou muito grata por todo mundo que nos deu a oportunidade de estarmos aqui! Nos sentimos muito abençoados por Deus, podemos ver que todos são abertos aos refugiados e são solidários conosco. É como estar no céu”.
DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS
A primeira parada no Paraná ocorreu em Curitiba. Os voluntários do projeto receberam as famílias com um dia para relaxar, com brinquedos para as crianças, massagem e programação para os adultos. Nesta segunda (21), os refugiados puderam conhecer melhor Guarapuava e serão orientados sobre como será o processo a partir de agora.
Por enquanto, as famílias estão alocadas em uma chácara no Jordão até que os imóveis estejam disponíveis para as famílias se mudarem. Contudo, o pastor Uecles Marques explica que é um processo muito minucioso. Isso porque, as famílias não sabem como funciona a cidade e ainda estão em fase de adaptação.
Elas não sabem como o Brasil é dividido ou em qual Região estão. Imagina você sai de uma guerra, deixa tudo para trás, só entra em um avião, na esperança de estar em segurança. Então, para alguns, eles estão na Amazônia e não fazem ideia de como as coisas são. Eles estão assustados com tudo, essa noite alguns não conseguiram dormir com medo de onça e até de jacaré. Tudo ainda é novo, temos que mostrar que aqui é um lugar seguro.
Além disso, há a dificuldade do idioma, muitos ainda tem dificuldade com o inglês. Outros apenas falam ucraniano e ainda, há os voluntários que apenas sabem português. Por isso, a equipe conta com professores e intérpretes para ter a comunicação.
TRABALHO DE FORMIGAS
Para que as famílias tenham todo esse suporte, a igreja conta com 70 voluntários escalados nos próximos dias para estarem com os refugiados. Eles são responsáveis por alimentação, ajuda na estadia e todo o processo de acolhimento.
Enquanto isso, os pastores dão conta de resolver a documentação com a Receita Federal. Assim, em breve, os ucranianos poderão voltar a vida normal em novos lares, com estudo e direito a uma vida digna. “Nós sabemos que esse é um trabalho grande, que a igreja sozinha não dá conta. Mas contamos com toda a população para abraçarmos essas famílias e dar tudo o que elas precisam”.
Quem quiser ajudar, pode fazer a doação por Pix, pelo e-mail refugiados@cmvida.com.br. A conta é exclusivamente para o projeto dos refugiados.
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