22/08/2023

Cadê a escada, prefeito?

imagem-17581

Por Marcio Fernandes (*) – Pretendia era escrever sobre o quanto o prefeito de Guarapuava gosta de crianças, dedicando-lhe os jardins da cidade. Daí, troquei para as andanças noturnas de Fernando Carli Filho, tietando Amado Batista. Em seguida, pensei em falar do novo hobby de parte da Comunicação da Prefeitura local – restringir o trabalho de profissionais da Imprensa (só nesta semana, duas emissoras de Rádio de Guarapuava sentiram o que é isso). Mas passei minutos atrás pela estátua de Diogo Azevedo Portugal e finalmente encontrei o tema desta edição de Circulando.
Pois não é que o cavalo que serve de muleta para Diogo é escancaradamente desproporcional a seu cavaleiro? Ou a ração animal à época da chegada da Real Expedição tinha muita proteína ou o monumento é toscamente feito. Fiquei por alguns minutos a fitar a mais nova criação do chefe do Executivo de Guarapuava e acabei pensando o seguinte: que tal lançar um desafio ao prefeito, propondo-lhe montar o cavalo sem o auxílio de uma escada? Aposto com quem quiser como ele não consegue.
Sendo assim, este caráter exagerado do monumento é mais um símbolo do quão desalinhada anda a gestão municipal. Primeiro soubemos da própria ideia de mandar erguer o tal monumento. Depois, cobriram a obra com o tapume, diminuindo a visibilidade dos motoristas. Agora, descobrimos que o cavalo tem um tamanho descomunal, deixando para Diogo o papel de nanico da história. Mas tem mais: na base de sustentação da obra, há desenhos interessantes para se analisar. Em um dos lados, percebe-se uma cena que supostamente retrata com fidelidade o aparecimento da Real Expedição, louvando os militares, os civis que acompanham a comitiva, além dos religiosos. Há um detalhe que vale registrar: esta cena indica a presença de dois escravos, bem na lateral esquerda da paisagem. Depreende-se que está-se, assim, louvando a escravatura, já que o monumento em questão é uma homenagem à fundação de Guarapuava.
Dito isso, lembro de um comentário do jornalista e comentarista Paulo Francis, morto na década de 90: certa vez, ao analisar a passagem de Michael Jackson e Madonna pelo Brasil cerca de 12 anos depois de se tornarem estrelas mundiais, Francis disse que os dois já haviam se apresentado até na Tailândia, chegando somente muito tempo depois ao Brasil, o que indicaria nossa dimensão no cenário mundial. O capim é nosso mesmo, escreveu ele naquele momento. Em Guarapuava, com estas práticas circenses da Prefeitura, o capim continua sendo nosso.

* Morador de Guarapuava. E-mail: marciorf@globo.com    (Crédito foto:Miroslav Tichy )

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

Este post não possui termos na taxonomia personalizada.

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.

RSN
Visão geral da Política de Privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações de cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.