22/08/2023

Caso Lava Jato: a psicologia da corrupção

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Reginaldo Daniel da Silveira[i]

Para o renomado The Fiscal Times – TFT de Nova Iorque, as cinco maiores corrupções mundiais desviaram de empresas americanas e europeias, 3,1 bilhões de dólares (2011). Os desvios Petrobrás/Banestado (2015) totalizaram 24,1 bilhões de dólares. A corrupção no Bank of America e Citigroup supera estes valores, mas é inevitável indagar: brasileiro é corrupto? O corrupto como dizem alguns psiquiatras é um doente mental. “O da poltrona,”   logo grita: “Ei! Há  quanto tempo somos uma legião de dementes?

Do posto de gasolina à rede de lavanderias o caso Lava Jato atingiu mais de uma centena de pessoas, mas é improvável que envie políticos, presidentes e executivos de empreiteiras para o hospital psiquiátrico. Na terra brasilis não há apenas antissociais, bordelines e narcisistas. É injusto para quem tem transtorno mental a comparação. Eles afinal, tem menos chance de decidir sobre suas vidas.

Crimes menores ou maiores são cometidos sem  caráter psicopático. Ivan Chip Frederik, soldado americano, torturou e humilhou encarcerados de uma prisão iraquiana e o diagnóstico psiquiátrico mostrou “tendências sadias”. Adolf Otto Eichman, envolvido no extermínio de  milhões de pessoas no Holocausto, foi atestado como “normal” por seis psiquiatras (veja o artigo “Quem somos, o monstro ou o médico”).

Para Freud, somos egoístas e agressivos e precisamos ser contidos pelo bem de todos. Para Carl Rogers, a bondade real  é capaz de nos fazer íntegros. Numa visão atual, não somos plenamente bons ou maus. Somos aprendizes cérebro-ambiente. Agarramos crenças que apoiam nossas preferencias e justificam hipóteses, verdadeiras ou não. Contamos contos a nós mesmos para poder viver, diz a escritora americana Joan Didion.

A plasticidade cerebral,  remodela o cérebro em eventos vividos e explica  comportamentos e inclinações para ações. No Brasil colônia, a cobiça do colonizador ardiloso fazia o nativo caçar aves, cortar e carregar pau-brasil. O índio logo se adaptou ao jogo  e passou a colorir a plumagem das aves em troca de apitos, espelhos e chocalhos. A fraude só era descoberta quando as aves trocavam de penas na Europa.

         O corrupto (bandido) não se reduz exclusivamente ao transtorno mental. O justiceiro (juiz) não configura provento mental. Hoje, o juiz Sergio Moro é protagonista. Ao vestir a toga  igual Clark Kent, ele se transforma. Surge o arquétipo do restaurador mor da moral. Ele não é perfeito. Todo mundo tem o seu pé de pavão. Joaquim Barbosa elevou o tom para defender altos reajustes à classe judiciária e o “não é corrupto quem é rico”, deformou a imagem do menino pobre que se fez juiz. No Lava Jato, são os milionários e não os pobres que corrompem ou se deixam corromper.

         Moro, de hierarquia menor e amplitude maior, é visto entre o discreto e reservado, o seco e autoritário. Tecnicamente é o que se espera do magistrado. A ousadia, necessária ao país, também carrega a temeridade do juízo desmesurado. A deixa é oportuna para nos decifrarmos melhor o dito popular de Thomas Hobbes: homo homini lupus (o homem é lobo do próprio homem).

 

[1] Reginaldo Daniel da Silveira é psicólogo, mestre, doutor e coordenador de Pós-Graduação em Psicologia Jurídica do Centro Universitário Autônomo do Brasil – UNIBRASIL.

 

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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