22/08/2023
Segurança

Caso Robson: Inquérito deve apurar falhas e evitar que erros se repitam

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Guarapuava –  O inquérito que está sendo montado pela Polícia Civil de Guarapuava deve apontar
os responsáveis pelo acidente que vitimou o camisa 18 do Deportivo de Guarapuava, Robson Rocha (foto), que foi atingido mortalmente por uma lasca de madeira que se desgrudou do piso do Ginásio de Esportes Joaquim Prestes.
A garantia é da delegada Maria Niza Nanni. Após suas declarações, que reformularam afirmações anteriores, de que não haveria como apurar responsabilidades, o caso está recheado de uma série de informações que podem auxiliar a polícia a desvendar o caso.
Antes, a delegada afirmou que não havia "nexo causal" entre a derrapagem do jogador (durante um "carrinho") e o assoalho do ginásio. Com isso, a policial dava a entender que não tinha condições de estabelecer a causa do acidente, já que a força do impacto do jogador contra o solo poderia ter feito que um pedaço do piso se descolasse.
A tese não demorou mais que um dia para ser desqualificada, quando a imprensa descobriu um fato idêntico ao de Robson ocorrido com um menino dois anos atrás. Giuliano Magela, na época com 11 anos, foi atingido na coxa no mesmo ponto da quadra onde Robson se machucou. O garoto guarda o pedaço do assoalho até hoje em sua casa, em Cascavel.
Apurar o que efetivamente aconteceu no Ginásio Joaquim Prestes é o melhor serviço que se pode prestar à população de Guarapuava. Há dois anos, quando o garoto se machucou, não foi tomada nenhuma providência, a própria Prefeitura alega total desconhecimento do fato, e o silêncio resultou na tragédia no domingo (7).
Além do depoimento dos pais de Giuliano Magela, que já deram declarações públicas, em entrevista a jornais e televisão, há evidências de sobra em Guarapuava. Diversos atletas que frequentam o "Joaquinzão" apontam para constantes goteiras e também para outros acidentes similares aos de Robson e Giuliano. Outro jogador de futsal foi ferido num dos braços por uma lasca do piso durante os Jogos Universitários em 2009.
Nesta quinta-feira, dia de fechamento desta edição, mais um detalhe chegou à "REDE SUL DE NOTICIAS" e à TRIBUNA. Nos últimos meses, segundo essa informação que veio de dentro do Ginásio de Esportes, a Prefeitura determinou a retirada permanente das tabelas de basquete que ficavam atrás do gol nos jogos de futsal, na área onde aconteceram os acidentes. As tabelas pesam cerca de 400 quilos cada uma e hoje são movimentadas dentro da quadra depois das partidas ou treinos de basquete. O técnico que informou disse que quando ocorre essa movimentação, é possível escutar um barulho de atrito, como se o piso estivesse se afrouxando.
Sem fazer uma apuração a fundo dos fatos que determinaram os acidentes, corre-se o sério risco de que os mesmos problemas venham a se repetir. Não se trata de achar culpados, mera e simplesmente. As punições só têm valor real quando se chega a um termo onde o erro é corrigido e a forma de agir de seus participantes torna-se exemplar. Um bom começo teve o secretário Pablo Almeida, ao reconhecer dias depois da morte de Robson que houve falhas, ainda que seu depoimento tenha vindo a público quando a imagem negativa de Guarapuava já tinha corrido o mundo.
Numa diligência para levantar responsabilidades, não basta apenas o reconhecimento da existência de falhas. O Ginásio Joaquim Prestes é um bem público, de custo elevadíssimo, que pertence ao povo de Guarapuava, sem exclusividade para A ou B. Por isso mesmo, e também por ter capacidade para abrigar três mil pessoas sentadas, a manutenção e os cuidados com a segurança são itens de prioridade.
Inaugurada em setembro de 2006, às vésperas das eleições estaduais, as reformas no "Joaquinzão" custaram um valor anunciado na ordem de R$ 300 mil. Muitas das obras municipais são realizadas pela SURG (Companhia dos Serviços Urbanos de Guarapuava), mas desta vez a empresa não participou de nenhuma fase dos trabalhos.
Quase metade dos gastos foi para reconstrução da quadra, com piso de madeira, que transformaria o "Joaquinzão" numa das melhores quadras para o futsal do Paraná. O custo real do piso é controverso: alguns falam em R$ 120 mil, outros R$ 140 mil e até R$ 170 mil.
A verdade é que o valor é muito alto. Se houve falhas na construção ou na manutenção, é isto o que a perícia precisa apurar, para que os problemas sejam sanados, e os responsáveis sejam cobrados, porque a população de Guarapuava já fez a sua parte, ao arcar com o custo do investimento.

Matéria publicada no jornal Tribuna Regional (edição deste sábado,13)

Cristina Esteche

Jornalista

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