22/08/2023
Agronegócio Guarapuava Região Saúde

Casos de raiva em bovinos da região estão sob controle, dizem especialistas

Frente ao vírus que oferece risco a humanos, Adapar e 5ª Regional realizam ações preventivas

SAO PAULO, BRAZIL - AUGUST 08, 2008: A group of cattle in confinement

Registros de raiva ocorreram em junho deste ano, mas vieram à tona nesta semana (Foto: Divulgação)

Os diagnósticos recentes que confirmaram a morte de dois bovinos em propriedades do interior de Goioxim e de Prudentópolis, divulgados nesta semana pelo Portal RSN, trouxeram à tona os riscos de ocorrências em humanos, já que, na região, a presença de morcegos é comum, considerando os paredões de pedra e as diversas cavernas da região central do Estado, abrigos constantes destes animais. A situação, no entanto, não é motivo para alarme à população. Segundo a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) e a equipe da 5ª Regional de Saúde de Guarapuava, que atendem os municípios da região, o caso está sob controle.

Entenda
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Isso porquê, a partir da confirmação do diagnóstico de raiva, obtido por meio da coleta realizada pela equipe de médicos veterinários da Adapar, a agência inicia serviços de verificação e de controle na região da propriedade afetada. Os trabalhos destacam que o foco maior são para ocorrências no campo, sem grandes preocupações, neste momento, com possíveis registros na cidade, conforme explica o médico veterinário de Goioxim, Marcel Pereira.

Agora nós centramos nossas ações no interior, nas propriedades da região atingida. Considerando que o caso ocorreu na comunidade de Pinhalzinho, nos preocupamos mais, nesse momento, com esses arredores, já que temos um foco identificado neste local. Nosso trabalho é de sensibilização quanto a importância de se prevenir, com os recursos disponíveis, como a vacinação.

A imunização contra o vírus da raiva em animais está disponível em lojas agropecuárias de todas as cidades e devem ser adquiridas com investimentos próprios do agropecuarista. Ainda segundo Marcel, a vacina compreende a execução de duas doses, sendo que 30 dias após a realização da 1ª, o animal deve receber a dose final.

Outro ponto que pode tranquilizar a população, é a forte amplitude das regiões verificadas. No caso registrado em Prudentópolis, por ter ocorrido em uma propriedade de região limítrofe entre os municípios de Prudentópolis, Inácio Martins, Irati e Guarapuava, as quatro cidades já estão recebendo atividades de busca de focos locais, em um raio de 12 km do local da ocorrência.

No que se refere aos trabalhos dos setores de saúde regionais, as secretarias municipais das cidades com casos confirmados e também a equipe da 5ª Regional de Guarapuava atuam em trabalhos de orientação a população, principalmente àqueles que possuem contato direto com animais, como declara o chefe da divisão de vigilância em Saúde, da 5ª Regional, Adriano Brum.

“Conforme o protocolo, nós já recebemos a notificação e, agora, iniciamos o trabalho de orientação a comunidade. A preocupação maior é com os proprietários dos animais afetados. Nesses casos, nossa orientação é para que em casos onde o proprietário perceba algum dos sintomas característicos da raiva que evite tocar o animal e imediatamente, informe a equipe da Adapar para execução dos procedimentos necessários”, declarou.

AGENTE TRANSMISSOR

Para compreender o modo como o vírus é transmitido e quais ações podem ser realizadas para ajudar no seu controle, o Portal RSN conversou com a doutoranda em Zoologia na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sabrina Marchioro, que mora em Guarapuava.

Sabrina Marchioro, doutoranda em Zoologia (Foto: arquivo pessoal/Sabrina Marchioro)

A pesquisadora esclareceu ainda a importância destes animais para o equilíbrio ambiental. Confira abaixo entrevista na íntegra:

RSN: Nos casos ocorridos na região, os transmissores do vírus da raiva foram os morcegos hematófagos. Como eles adquirem o vírus da raiva?

Sabrina: Qualquer mamífero está suscetível a ter raiva, não somente os morcegos hematófagos, dessa forma, qualquer mamífero pode ser um agente transmissor. A raiva é transmitida através da penetração do vírus na saliva do animal infectado, quase sempre, por mordidas e arranhões.

RSN: Quando contaminados, estes animais apresentam perigo para os humanos de alguma forma?

Sabrina: O homem é acidentalmente infectado, quando em contato com animais no período de transmissibilidade da doença. Temos alguns grupos básicos de transmissão, na zona rural a doença afeta animais de produção, como bovinos, equinos, suínos, etc. Na zona urbana, principalmente entre cães e gatos. E animais silvestres, como macacos, raposas, morcegos, entre outros também estão suscetíveis ao vírus. Uma forma eficaz de evitar a raiva, é a vacinação de seus animais, sejam cães, gatos ou bovinos, e animais de produção.

A orientação é nunca tocar em animais silvestres diretamente, principalmente se estiverem caídos no chão, ou encontrados em situações não habituais. Caso ocorra a mordida, ou suspeita da doença, procurar assistência médica o mais rápido possível após a lesão, para avaliação de profissionais competentes.

RSN: Quanto tempo um morcego com o vírus consegue sobreviver?

Sabrina: É difícil dizer, pois alguns animais são assintomáticos, então não manifestam a doença. Por isso existe o cuidado de quem trabalha com animais silvestres, de tomar a vacina antirrábica como profilaxia.

RSN: Qual a importância desses animais para o nosso ecossistema?

Sabrina: Morcegos são de extrema importância para o meio ambiente, não se deve exterminá-los sumariamente, porque isso poderia causar um grande desequilíbrio ecológico. Os morcegos insetívoros têm um papel importante como predadores primários de um número grande de insetos voadores noturnos, inclusive insetos nocivos a saúde humana e de pragas que causam problemas à agricultura. Os morcegos frugívoros também tem sua importância pois como se alimentam de frutos, as sementes que passam pelo seu trato digestório ajudam no reflorestamento. Temos também morcegos nectarívoros que ajudam na polinização e de muitas plantas, e morcegos carnívoros que fazem o controle de populações de pequenos animais vertebrados. Resumindo a melhor forma de prevenir esse surto de raiva que tem ocorrido com bovinos aqui na região é a vacinação do rebanho.

Cristina Esteche

Jornalista

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