22/08/2023


Guarapuava

Cegos não sabem se lei do cardápio em braile está sendo cumprida

Menu em braile é obrigatório para restaurantes, lanchonetes e similares, porém não há fiscalização

20/09/2016 - Dia nacional da luta da pessoa com deficiência - F

Dia Nacional do Braile ( Foto: Aliocha Mauricio/SEDS)

Uma lei municipal em vigor desde 2012, mas ratificada em julho de 2013, determina a inclusão de cardápios em braile em Guarapuava.

Na época, a Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais (Apadevi)  se propôs a traduzir os menus para restaurantes, lanchonetes, casas noturnas, hotéis e similares. Passados cinco anos, a própria entidade não sabe se a lei está sendo cumprida ou não.

“Na época  houve um movimento e chegamos a fazer uns 10 cardápios, mas depois não pediram mais”, disse Renilson José Kluber, que ensina braile na Apadevi, como voluntário.

Ele começou a perder a visão aos 23 anos de idade, de forma gradativa. Há quatro anos, ficou totalmente cego.

“Nós não sabemos se a lei está sendo cumprida ou não porque não temos essa fiscalização. Eu não costumo sair nesses lugares e, quando vou, minha esposa vai junto e ela tem visão. Então não dependemos de cardápio em braile”, disse ao Portal RSN. “Mas os que saem sozinhos precisam disso para facilitar e também aumenta a auto-estima”.

A medida prevê justamente a inserção do portador de deficiência visual e o acesso a cardápios nos estabelecimentos comerciais de Guarapuava. De acordo com a Apadevi, não existe uma estatística que aponte o número de pessoas que possuem esse tipo de deficiência. “Temos uma média de 150 que frequentam a entidade, mas esse número é muito superior no município”.

E é essa falta de material de leitura própria para cegos que constitui um fator que acaba gerando o afastamento dessa parcela da população do mercado de consumo.

Embora existam novos aplicativos que transformam em áudios os textos escritos em mídia eletrônica, eles não substituem o braile. O sistema de leitura e escrita pelo tato é fundamental na alfabetização e no processo educacional das pessoas cegas ou com alto comprometimento da visão. A importância desse instrumento de inclusão é lembrada em 8 de abril, Dia Nacional do Braile.

Apesar da facilidade de ouvir os textos, pessoas com deficiência visual afirmam que o sistema inventado pelo francês Louis Braille, em 1827, é imprescindível. A escrita e a leitura são feitas pelo tato e baseiam-se na combinação de seis pontos em relevo, dispostos em duas colunas de três pontos, o que permite a formação de 63 caracteres.

No Paraná, de acordo com o censo do IBGE 2010, o número de pessoas que declararam ter deficiência visual chegou a 1,7 milhão. Porém, nas formas severas, que incluem as pessoas cegas e com grande dificuldade de enxergar, o número é de 321,6 mil.

EXEMPLO

O ex-atleta paraolímpico Mário Sérgio Fontes é cego desde os três anos. Por volta dos seis anos, como qualquer criança, começou a frequentar a escola. “Não aprender braile priva o cego da leitura. Quanto mais cedo se aprende, melhor é para o desenvolvimento do tato”, relatou o ex-atleta.

Ler em braile possibilitou a Mário Sérgio concluir o curso de Direito, área em que chegou a trabalhar em escritórios de Curitiba. Porém, Mário não estava satisfeito. Fez vestibular novamente e se formou em Educação Física, pela Universidade Federal do Paraná, em 1990. Sua ligação com o esporte vem desde os anos 80.

“Sou o primeiro professor de educação física cego. Trabalho no que gosto e estou perfeitamente adaptado e feliz”, contou, satisfeito. Hoje, com 60 anos, é técnico da Secretaria Estadual de Esporte e Turismo, responsável pelo paradesporto no Paraná e membro do Comitê Paraolímpico Brasileiro.

Em 1984, Mário Sérgio participou da criação da Associação Brasileira de Desportos para Cegos (ABDC), o que garantiu a participação de deficientes visuais na Paraolimpíada de Nova York. Também foi representante brasileiro no subcomitê de Futebol de 5 da Federação Internacional de Esportes para Cegos, na Paraolimpíada do Rio.

DATA 

O dia 8 de abril foi escolhido como o Dia Nacional do Braile em homenagem ao nascimento de José Álvares de Azevedo, o primeiro professor cego brasileiro. Azevedo tinha deficiência visual desde o nascimento e estudou o método em Paris.

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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