22/08/2023


Cotidiano Guarapuava

Cerca de 5000 indígenas integram a macrorregião de Guarapuava

À margem da sociedade, comunidades ainda sofrem pela invisibilidade e falta de políticas públicas governamentais

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Preconceitos, estereótipos, marginalização e invisibilidade. Estes são apenas alguns dos problemas que a comunidade indígena da macrorregião de Guarapuava – e de todo o Brasil – enfrentam diariamente. A falta de políticas públicas municipais, estaduais e, principalmente, federais, influencia negativamente neste cenário, dificultando ainda mais a subsistência dos primeiros moradores das terras tupiniquins.

De acordo com Alvaci Jesus Sales Ribeiro, coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Guarapuava, parte dos problemas dos índios se dá, atualmente, pela falta de entendimento social das reais necessidades da comunidade. Um destes “desentendimentos” estaria relacionado, justamente, na forma de vida deste povo.

“As necessidades de um índio não são as mesmas de um agricultor. Não somos agricultores. Nós somos coletores. E nós não temos terras. Somos usufrutuários de terras. Não há uma forma de renda como na agricultura. Nós apenas consumimos o que plantamos”.

De acordo com Alvaci, por não serem agricultores, os índios não podem, por consequência, buscar formas de crédito. Sem ter de onde tirar dinheiro, muitas comunidades migram para os grandes centros em busca de uma vida melhor, onde, sem encontrar, acabam entrando em situação de rua. Em Guarapuava, a maior concentração de índios nesta situação, hoje, está na rodoviária municipal. Na região, cerca de 30 famílias estão morando em casas adaptadas por eles dentro das cidades.

Índios que moram no entorno da rodoviária de Guarapuava vieram da região (Foto: Matheus Buongermino/RSN)

“São índios da região, que vem para a cidade em busca de uma vida melhor. Infelizmente não acabam encontrando e são mais marginalizados. A única renda deles vem do artesanato que fazem ou de doações”.

EXPOSIÇÃO X REPRESENTATIVIDADE

Só na macrorregião de Guarapuava, quatro comunidades indígenas são atendias pela Funai, subdivididas entre as etnias Kaingang e Guarani. Juntas, elas compreendem um universo de 5000 moradores, espalhados entre as comunidades de Marrecas (Turvo), Ivaí (Manoel Ribas), Faxinal (Cândido de Abreu) e Rio de Areia (Inácio Martins).

Para Alvaci, pelo número de moradores da região atendida por Guarapuava, as políticas sociais governamentais deviam ser mais efetivas. Turvo, relembra ele, é um dos poucos municípios que recebe recursos que beneficiam as comunidades indígenas do município. Porém, na visão dele, ainda falta mais alinhamento entre as comunidades e o poder público.

“Há alguns anos Turvo chegou a receber R$ 1,3 milhão do Governo do Estado do Paraná por conta da área preservada pelos índios na comunidade de Marrecas. Na época, porém, só 10% desse valor era repassado para comunidade. Hoje, com a atual administração, nós já estamos em conversa para alinhar melhor este tipo de situação”. Só em Turvo são 10 mil hectares de área preservada dentro da área indígena.

Na avaliação do coordenador da Funai de Guarapuava, a falta de representatividade em governos influencia o avanço a passos a curtos das comunidades. Para exemplificar a demora histórica para efetivação de qualquer conquista da comunidade, ele cita a demarcação de terras indígenas em Guarapuava.

“Em 1880 começou o estudo para demarcação de terra indígena pelo governo provincial do Paraná. Demorou nada mais nada menos que 100 anos para que a demarcação fosse efetivada, em 1984. Na época era uma área de 19 mil hectares. Hoje estamos com 16 mil”.

Cristina Esteche

Jornalista

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