Guarapuava – Cedo demais ou não, as costuras políticas para as eleições de 2010 já começaram, mesmo que ainda estejam sendo alinhavadas no campo das sondagens. Aliás, a linha já começou a ser escolhida com o resultado político nas urnas municipais.
Em Guarapuava, os últimos dias patrocinaram nós, alguns fáceis, outros difíceis de serem desatados.
A declaração feita pelo prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), durante sua passagem por Guarapuava na sexta-feira, dia 17, coloca em alta o nome do deputado federal Cezar Silvestri (PPS), mas cai como ducha gelada sobre seus desafetos políticos.
Pré-candidato à sucessão no Palácio Iguaçu, Richa se referiu a Silvestri como sendo um bom nome para ocupar a vaga de vice numa possível chapa tucana. E olha que o elogio foi feito em meio ao staf carlista. O prefeito Fernando Ribas Carli não foi, mas o deputado Fernando Carli Filho (PSB) estava lá e não poupou elogios ao visitante, com direito a entrevista por telefone. O deputado agora faz programa às sextas-feiras na 92 FM, emissora que pertence à sua família. Estava no aeroporto também como repórter, mas em release emitido por sua assessoria, longe dos microfones e do próprio Beto Richa, disse que, embora o apoio à candidatura de Beto Richa seja uma orientação definitiva nas hostes do PSB, prega uma discussão mais aprofundada para que, só então, o partido se pronuncie oficialmente sobre o tema.
Nada surpreendente. Afinal seu pai, o prefeito Ribas Carli foi defensor de Osmar Dias contra Requião nas eleições de 2006 e há quem diga que tenta se cacifar – apesar do resultado de 2008, para a vaga de vice. Um nó, hoje, difícil de amarrar.
Na ponta de outra linha, entretanto, a referência do líder tucano surpreendeu o próprio Silvestri e soou como um elogio à conduta do parlamentar durante 20 anos de trajetória política.
Cauteloso, porém, Silvestri diz que ainda é cedo para qualquer comentário sobre esse assunto, mas não descarta qualquer possibilidade. Acho extremamente importante que a região de Guarapuava seja considerada no cenário das grandes decisões políticas do Paraná, limita-se a comentar.
A possível dobradinha não coloca o deputado como um estranho no ninho. A aliança entre o PPS e o PSDB já foi entrelaçada nas eleições de 2008, quando após reunião em Brasília no diretório nacional o presidente no Paraná, Rubens Bueno, anunciava o apoio a Beto Richa em Curitiba, mesmo tendo que declinar do desejo de concorrer à prefeitura da capital, mas já pensando em estender os laços para as eleições do ano que vem. Essa aliança inicial já começou a gerar frutos, beneficiando Silvestri. Afinal, em meio a um tiroteio desordenado disparado contra o deputado durante a semana, bem ao estilo do samba do crioulo doido, a repercussão da declaração de Beto Richa soou mais alto.
Sem dúvida nenhuma o resultado das últimas eleições, acrescentado ao elogio de Beto Richa, não agradou grupos políticos adversários, e quando se está desorientado não se mede conseqüências de atos impensados. Não nos preocupamos com atitudes frágeis como essas, pois a base da nossa vida política é sólida e a população sabe muito disso. Para nós, isso é o que importa, afirmou.
Numa referência às acusações que pesaram sobre ele durante a semana, o deputado diz que não cometeu nenhum ato Ilícito. Posso garantir ao povo de Guarapuava que não cometi nenhuma ilicitude e quem vai provar isso é a Justiça, ratificou.
Bola da vez
Embore considere a prematuridade do fato lançado por Beto Richa em Guarapuava, Silvestri não pode esquecer que o seu nome é a bola da vez no Paraná e que os alinhavos iniciados no aeroporto Tancredo Tomaz de Faria na tarde de sexta-feira, 17, podem se transformar em costura final.
O cenário político nacional aponta para essa possibilidade. Que o PPS é o aliado preferencial do tucanato ninguém pode negar. Afinal, a discussão de uma possível fusão entre as siglas ainda está no imaginário de ambos e pode explicar alguns fatos que transitam nos bastidores da política, como , por exemplo, o assédio que Cesar Silvestri Filho vem recebendo para deixar o PPS rumo ao ninho tucano. Não seria nada mal. Além de amputar uma das pernas do grupo carlista, o PSDB tem o vice-prefeito e mais três vereadores. Balizaria, ainda mais, o nome emergente do jovem advogado que na sua estréia na política eletiva rompe as estruturas do veterano Ribas Carli a partir do resultado das eleições de 2008.
Mas retornando ao cenário macro vemos que o PSDB de Beto Richa também atrai parte do DEM, os democratas contrários à postura política do deputado Abelardo Lupion e seguidores que, para viabilizar o seu projeto apoiaria o senador Osmar Dias à sucessão requianista, abrindo espaço para sua candidatura ao Senado Federal. Do outro lado, o DEM tem o nome do ex-governado João Elizio Ferraz, que numa possível disputa interna contaria com o apoio dos deputados Alceni Guerra (federal) e Nelson Justus (estadual) dentro da ala que apóia Richa.
Nas hostes pepessistas, aliado de primeira hora do tucanato nacional, a candidatura natural no Paraná seria a de Rubens Bueno, mas há compromissos assumidos nos bastidores de que, caso se viabilize a candidatura do governador de São Paulo José Serra à presidência da República e esta seja vitoriosa, Bueno, que é pré-candidato a deputado federal, assumiria um ministério. Nesse cenário, Jarbas Vasconcelos poderia ser candidato a vice-presidente e o líder nacional do PPS, Roberto Freire, seguiria para o Senado.
Sob esta ótica o nome de Silvestri se torna emergente e se credencia para representar Guarapuava e região num dos cargos de destaque no ranking político estadual.