22/08/2023
Saúde

Cientistas descobrem que câncer de pulmão pode se esconder por 20 anos

O câncer de pulmão pode ficar dormente por mais de 20 anos antes de se tornar mortal, afirmaram cientistas nessa quinta feira (9), o que pode ajudar a explicar por que uma doença que mata mais de 1,5 milhão de pessoas por ano em todo o mundo é tão persistente e difícil de tratar.

Dois estudos que detalham a evolução do câncer de pulmão revelam como, após uma falha genética causadora da doença – muitas vezes devida ao fumo –, as células do tumor desenvolvem numerosas novas mutações silenciosamente, tornando partes diferentes do mesmo tumor geneticamente únicas.

Quando os pacientes ficam doentes o bastante para serem diagnosticados com o câncer, seus tumores terão percorrido diversas fases evolucionárias, fazendo com que seja extremamente difícil que qualquer medicamento específico surta efeito.

As descobertas mostram a necessidade premente de detectar o câncer de pulmão antes que tenha se transmutado em múltiplos clones malignos.

“O que não tínhamos conseguido entender antes é por que este é o imperador de todos os tipos de câncer e uma das doenças mais duras de tratar”, disse Charles Swanton, autor de uma das monografias do Instituto de Pesquisa de Londres da instituição de caridade Pesquisa do Câncer da Grã-Bretanha.

“Anteriormente, não sabíamos o quão heterogêneos estes tipos de câncer de pulmão em estágio inicial eram”.

O câncer de pulmão é o mais fatal do mundo, matando estimadas 4.300 pessoas por dia, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 85 por cento dos pacientes têm câncer de pulmão de células não-pequenas (NSCLC, na sigla em inglês), o tipo analisado nos dois estudos.

Para chegar a uma compreensão plena da doença, os dois grupos de cientistas britânicos e norte-americanos analisaram a variabilidade genética em diferentes regiões dos tumores pulmonares removidos em cirurgias e desvendaram como as falhas genéticas haviam se desenvolvido ao longo do tempo.

O que eles descobriram foi um período de latência extremamente alto entre as mutações iniciais e os sintomas clínicos, que acabaram surgindo depois que falhas novas e adicionais desencadearam o crescimento acelerado da doença.

No caso de alguns ex-fumantes, as falhas genéticas iniciais que despertaram seu câncer remontavam a um consumo de cigarros de duas décadas antes. Mas estas falhas se tornaram menos importantes ao longo do tempo, e mutações mais recentes foram causadas por um novo processo controlado por uma proteína chamada APOBEC.

As pesquisas foram publicadas no periódico científico "Science".

Cristina Esteche

Jornalista

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