O câncer de pulmão pode ficar dormente por mais de 20 anos antes de se tornar mortal, afirmaram cientistas nessa quinta feira (9), o que pode ajudar a explicar por que uma doença que mata mais de 1,5 milhão de pessoas por ano em todo o mundo é tão persistente e difícil de tratar.
Dois estudos que detalham a evolução do câncer de pulmão revelam como, após uma falha genética causadora da doença – muitas vezes devida ao fumo –, as células do tumor desenvolvem numerosas novas mutações silenciosamente, tornando partes diferentes do mesmo tumor geneticamente únicas.
Quando os pacientes ficam doentes o bastante para serem diagnosticados com o câncer, seus tumores terão percorrido diversas fases evolucionárias, fazendo com que seja extremamente difícil que qualquer medicamento específico surta efeito.
As descobertas mostram a necessidade premente de detectar o câncer de pulmão antes que tenha se transmutado em múltiplos clones malignos.
“O que não tínhamos conseguido entender antes é por que este é o imperador de todos os tipos de câncer e uma das doenças mais duras de tratar”, disse Charles Swanton, autor de uma das monografias do Instituto de Pesquisa de Londres da instituição de caridade Pesquisa do Câncer da Grã-Bretanha.
“Anteriormente, não sabíamos o quão heterogêneos estes tipos de câncer de pulmão em estágio inicial eram”.
O câncer de pulmão é o mais fatal do mundo, matando estimadas 4.300 pessoas por dia, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 85 por cento dos pacientes têm câncer de pulmão de células não-pequenas (NSCLC, na sigla em inglês), o tipo analisado nos dois estudos.
Para chegar a uma compreensão plena da doença, os dois grupos de cientistas britânicos e norte-americanos analisaram a variabilidade genética em diferentes regiões dos tumores pulmonares removidos em cirurgias e desvendaram como as falhas genéticas haviam se desenvolvido ao longo do tempo.
O que eles descobriram foi um período de latência extremamente alto entre as mutações iniciais e os sintomas clínicos, que acabaram surgindo depois que falhas novas e adicionais desencadearam o crescimento acelerado da doença.
No caso de alguns ex-fumantes, as falhas genéticas iniciais que despertaram seu câncer remontavam a um consumo de cigarros de duas décadas antes. Mas estas falhas se tornaram menos importantes ao longo do tempo, e mutações mais recentes foram causadas por um novo processo controlado por uma proteína chamada APOBEC.
As pesquisas foram publicadas no periódico científico "Science".