Pesquisa desenvolvida por especialistas da Universidade College London, na Grã-Bretanha, reforça o discurso em defesa dos cigarros eletrônicos. Segundo o estudo, fumantes que recorrem ao dispositivo para parar de fumar cigarro convencional têm mais chances de superar o tabagismo do que aqueles que encaram a empreitada apenas com força de vontade ou com reposição de nicotina, com adesivos ou pastilhas.
O estudo, publicado no periódico científico Addiction, analisou dados de 6 mil fumantes que tentaram abandonar o tabagismo entre 2009 e 2014. De acordo com o levantamento, 20% do grupo que usou os cigarros eletrônicos obtiveram sucesso, enquanto no grupo que recorreu aos adesivos ou pastilhas de nicotina, a taxa foi de apenas 10%. A equipe responsável pela pesquisa afirma que a versão eletrônica do cigarro pode ter um papel positivo no tratamento contra o tabagismo, desde que usada com cautela.
O pneumologista Jonatas Reichert, membro da Câmara Técnica de Controle do Tabagismo do Conselho Regional de Medicina do Paraná, é um crítico ferrenho do uso de cigarros eletrônicos no tratamento para parar de fumar. De acordo com ele, a minimização de danos diz respeito exclusivamente à redução das substâncias inaladas para apenas uma, a nicotina. A dose de nicotina inalada, no entanto, ainda é alta.
Há ainda um agravante. Reichert explica que o calor produzido pela bateria que faz o aparelho funcionar faz com que a nicotina sofra um processo químico chamado nitrozação. Através dessa reação, da nicotina derivam as nitrosaminas, cujo potencial cancerígeno é o mais alto conhecido pela comunidade médica.
“O cigarro eletrônico não é um aliado no tratamento. Como contém nicotina em alta dosagem, não elimina a dependência. Além disso, o potencial cancerígeno é alto”, diz Reichert, acrescentando que, para o fumante passivo, os danos são os mesmos provocados pela inalação da fumaça do cigarro convencional.
NO BRASIL
No Brasil, a venda e a importação do cigarro eletrônico são proibidas pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009. A utilização é liberada.
A proposta do dispositivo é substituir a combustão do tabaco e demais substâncias que constituem o cigarro convencional pela nicotina líquida, que, ao ser queimada, transforma-se em vapor. Com a versão eletrônica, o fumante pode definir o nível de concentração e os ingredientes que deseja adicionar à nicotina.
A vantagem do aparelho seria oferecer nicotina sem o prejuízo da queima do fumo e das 4.619 substâncias tóxicas que constituem o composto do cigarro convencional. No entanto, a substituição dos cigarros convencionais pelos eletrônicos ainda gera controvérsia. Não há consenso entre especialistas e autoridades de saúde sobre os reais benefícios e malefícios do aparelho.