22/08/2023
Política

Circulando: De quem é a confeitaria, cara pálida?

Da redação –  Muitos guarapuavanos da gema gostam mesmo de um passado, daqueles caquéticos, inspirados na Roma Antiga e no bordão ´Em Roma, como os romanos´. No lado negativo deste chavão, aliás. Explico: dias atrás, abriu uma confeitaria na cidade, nas proximidades da praça da Ucrânia. Lugar elegante, sóbrio, com bom atendimento, cardápio bem variado, um padrão acima do que há em Guarapuava, enfim. Comento com conhecidos (todos moradores desde muito aqui) sobre o novo estabelecimento e, de pronto, ouço: quem é o dono? É daqui?
Quanta cabeça oca, penso. Como se o mais importante para atestar a qualidade de um lugar fosse a origem de seu proprietário. A assepsia da confeitaria pode ser ótima, o sabor dos produtos idem mas, se o sujeito não ´for de Guarapuava´, isso não importa – ao menos, essa é primeira leitura possível das falas destes meus conhecidos. Ou seja, em Guarapuava, como os guarapuavanos. 
É triste ver pensamentos assim – e advindos de pessoas com muito ´estudo´, como se diz. Nenhum lugar que se fecha em suas fronteiras de toda espécie vai para a frente, a ponto de promover desenvolvimento integrado, proporcionando, por exemplo, chances de ascensão econômica a grupos moradores de bairros mais periféricos.
Mas talvez o mais preocupante seja notar que o provincianismo e o apego ao passado pobre de espírito se espalha por outros aspectos do cotidiano local, sem que boa parte da sociedade civil se mobilize (ainda que existam, claro, interessantes exceções). O tapume na avenida Manoel Ribas continua lá. Na mesma via, perto do chafariz da rua XV, a Prefeitura mandou retirar parte do asfalto dia desses e nem se deu ao trabalho de colocar placas indicando o desnível da pista. Na esfera educacional, informações indicam que duas mil crianças estão fora da sala de aula em Guarapuava, algo que mais parece ser uma notícia do século 19, de meados do século 19, aliás, quando a cidade foi criada.
Pensando bem, o prefeito tem razão em mandar comemorar os 200 anos: podemos festejar os 200 anos de um ciclo que está chegando ao fim – o ciclo das mentalidades viciadas, das ideias vencidas, das ideias caudilhas (que os Carli tão bem representam e que, felizmente, com suas recentes atitudes equivocadas, estão ajudando a enterrar), abrindo espaço para as novas confeitarias, ainda que seu proprietário seja, eventualmente, de fora.

Marcio Fernandes *
* Morador de Guarapuava. E-mail: marciorf@globo.com

Cristina Esteche

Jornalista

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