22/08/2023

Clèmerson Merlin Clève com novo trabalho literário

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O presidente das Faculdades Integradas do Brasil, professor Clèmerson Merlin Clève, publica um novo trabalho literário. “Teatro Inexperto em Duas Peças Quase Distópicas” é o nomes da obra que contém dois textos. “Mingau de Alho” e “Razão de Estado”. De acordo com o professor, são  “textos, devaneios, ensaios ou experimentos, despidos de um compromisso maior com a arte”.

A publicação aconteceu em setembro de 2011.

 

A obra, que não estará à venda, mereceu comentário feito pela professora Wanda Camargo, assessora institucional das Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil).

 

Teatro Inexperto? comentário de Wanda Camargo

Dois textos inexpertos?

Um fantasma ronda o inconsciente coletivo paranaense: o Contestado. A assombração é tão mais presente quanto mais laços se têm com a região sudoeste do estado.

 

O Contestado era um caldeirão de tensão no final do século XIX e início do XX; área disputada por Paraná e Santa Catarina, palco de manifestações messiânicas e pró-monarquia, enorme extensão de terra, rica em madeira e erva mate, habitada por posseiros. E, para piorar, doada em grande parte pelo governo federal a uma empresa estrangeira, que lá construía uma estrada de ferro e que expulsou milhares de pessoas das terras que ocupavam.

 

A guerra daí resultante durou de 1912 a 1916, causou centenas de mortes e ainda não teve suas consequências totalmente assimiladas.

 

Quando se contam essas histórias de façanhas guerreiras, geralmente o foco está nos campos de batalha, nos arregimentamentos de combatentes, nos territórios conquistados, fala-se de quem faz a guerra.

 

Mingau de Alho nos dá a visão das pessoas que sofrem a guerra, pessoas humildes, posseiros de segunda e terceira geração que estão sendo pressionados a abandonar suas terras. A peça trata de seres muito humanos que amam, se revoltam, querem casar, querem lutar, querem trabalhar seu pedaço de chão. E estão sendo expulsos por uma conjugação de fatores e interesses que sequer entendem. Morrerão ou irão morar em favelas nas cidades. História recorrente e recorrente e recorrente… 

Mingau de Alho dá voz a quem raramente a tem, e é também uma forma de exorcismo.

 

Razão de Estado pertence à vertente da patafísica, conceito criado por Alfred Jarry, autor de Ubu Rei, e definida como a “ciência das soluções imaginárias”; a ela associam-se Eugène Ionesco e Marcel Duchamp. Segundo Gilles Deleuze a patafísica estaria na gênese da fenomenologia. Trata-se de abordar aspectos absurdos da existência e da sociedade com expressão artística igualmente absurda.

 

A visão condutora é de Faustovicz, intelectual dividido entre vender a alma pelo conhecimento e o amor de Eneida, “que te ama, porque sente muita falta de ti, mas que não sabe realmente se te quer para sempre”.

O Imperador leu Camus. A burocracia da Cidade (que não é Cádiz) é calcada em “Estado de Sítio”, baseada em formalismos que escoram o arbítrio, ocultando-o, procedimentos bem estruturados que nada mais são do que isso, procedimentos. “Se houver alguma dúvida deve-se consultar quem manda”, Camus. “O povo desta cidade é feliz, e eu sou seu Imperador perpétuo. Cádiz, isto é, Gdansk, em data que todos sabem qual é”, O Imperador.

Também, como em Camus, a Cidade vê sinais de catástrofe, não aqui um cometa, mas o peso do ar anunciando a vinda de Frenatus.

 

Chega Frenatus: “Minha missão, nesta cidade, será reordená-la, porque, como está, vai mal”.
Imperador: “….em razão da grave situação pela qual passa a cidade e em razão da impossibilidade de defesa…diga ao povo que fico. E que ele será respeitado em todos os casos, e para sempre, salvo nos casos em que Frenatus decidir o contrário”.

O governo de Frenatus é uma catástrofe. Frenatus oferece um ministério, ou coisa parecida, a Faustovicz, que não aceita.

 

A população se revolta contra Frenatus e o vence com a ajuda de Dionísius: “Fazei, portanto, de vosso medo a vossa força e juntos deveis afrontar Frenatus, pois então o poder dele sofrerá metamorfose. Transformar-se-á em medo. Povo! A história está em vossas mãos”.

O Imperador é deposto: “A nossa história está em nossas mãos. E nós mesmos decidiremos o que faremos com ela”.

 

Confortador saber que quase trinta anos depois de escrever este livro, o autor é um de nossos maiores constitucionalistas.

É excelente que um jovem possa assim olhar a nossa história, maravilhoso saber que na maturidade ainda se orgulha deste sentimento. E nos oferece em novo livro.

 

Fonte e foto- site da UniBrasil

Cristina Esteche

Jornalista

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