22/08/2023

Coisa de mulher.

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Frida Kahlo passou grande parte da vida em uma cama, enquanto seu corpo praticamente se desintegrava. Deitada ali, pintou a maioria de suas obras e – vejam só: ainda era capaz de sensualizar 😉

Estamos no século XXI e eu esperava que a esta altura estivéssemos voando em discos como os Jetsons e não sobrecarregadas tentando ser infalíveis.

Dia desses, lendo textos e blogs escritos por mulheres, fiquei apavorada com a quantidade de vezes em que aparece a palavra “perfeição” – temos nos cobrado padrões inatingíveis e basicamente achamos que devemos ser poderosas, mas serenas; profissionais impecáveis, mas sem ferir suscetibilidades e, principalmente: nos sentimos péssimas em frente a qualquer espelho. Onde estão nossas bundas perfeitas e barrigas negativas? [estão na Sabrina Sato, pensei alto por aqui].

O livro Histórias de Mulheres, da escritora mexicana Rosa Montero, traz algum alento justamente por deixar claro que nossa singularidade repousa nas pequenas fraquezas e deslizes e, ao olhar a vida das 15 mulheres que compõe o livro através do olhar perspicaz da autora, somos imediatamente compelidas a termos mais compaixão com nossos próprios tombos e feiúras.          

O relato sobre Agatha Christie, por exemplo, nos faz enxergar a mulher por trás da criadora do detetive Hercule Poirot. Uma aventureira, que viajou o mundo, viveu situações pouco comuns às mulheres de sua época e lutou com todas as forças para aplacar suas dúvidas, criando histórias onde crimes intrincados são resolvidos e todas as peças finalmente se encaixam.

Além de Agatha, o livro traz capítulos sobre outras mulheres consagradas como Simone de Beauvoir e Frida Kahlo. Porém, são os relatos sobre desconhecidas do grande público que o tornam tão saboroso; como o comovente capítulo sobre Zenobia Campubrí, mulher de Juan Ramón Jiménez, ganhador do Nobel de literatura de 1956.

Zenobia era uma mulher culta, ativa e moderna que ficou casada 40 anos com um homem hipocondríaco e possuidor de uma personalidade perversa, diluindo por completo a si mesma nas necessidades dele. A verdade sobre a relação surgiu quando o diário de Zenobia foi publicado, desfazendo o mito do casamento perfeito e trazendo à tona uma relação sufocante e mortífera, com relatos de que ela costumava passar dias inteiros trancada no banheiro para que Juan Ramón escrevesse em paz, já que não suportava nenhum ruído ou movimento.

Apenas julgamos saber o que seria melhor para os outros. Surpreendentemente ela considerava essa abnegação compreensível e, nesse sentido, talvez o Prêmio Nobel DELE tenha bastado a ela como uma comprovação de que sua existência não foi em vão.

kiss

Ps1: Queridas irmãs: estejamos atentas ao nosso potencial, sem comprar as imagens que construíram para nós. Estamos escrevendo nossas histórias, dirigindo carros, empresas, países e nossas próprias vidas: não precisamos que nos digam como deveríamos ser.

Ps2: Maria Bethânia canta uma celebração sobre ser mulher, o lado quente do ser. Esta é minha homenagem a todas nós <3

https://www.youtube.com/watch?v=eZqQx90tyPE

 

Cristina Esteche

Jornalista

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