Com 20 anos de atuação e utilizando a arte como instrumento da inclusão o Grupo de Teatro Luz composto por atores cegos ou com baixa visão atendidos pela Apadevi (Associação de Pais e Amigos de deficientes Visuais) é pouco conhecido em Guarapuava. Embora premiado pelo Ministério da Cultura no projeto de cultura inclusiva, com espaço em cidades paranaenses, a falta de patrocínio supera a dificuldade provocada pela cegueira. “Ainda vem o grupo como um grupinho de teatro de uma instituição”, observa Eglecy Lippmann, professora de arte e diretora da peça Com Posições que estreiou na noite dessa segunda feira, em Guarapuava. A peça abriu a II Semana de Integração e Orientação no Atendimento à Pessoa com Deficiência Visual que está acontecendo na Faculdade Guairacá.
O espetáculo surpreende já na entrada quando o público é recepcionado com uma performance da Oficina de Teatro da Unicentro (Universidade Estadual do Centro Oeste) dirigida pela Companhia de Teatro Arte e Manha. As expressões faciais, a empostação da voz e os questionamentos feitos pelos atores preparam os convidados para uma reflexão e dão o tom da peça. “É muito impactante. Você fica sem saber se é para responder ou se é parar e ouvir”, disse a professora Zilma Haick, que preside o Instituto Histórico de Guarapuava. “Se o objetivo é mexer com o emocional, conseguiu. Teve um pergunta que me engasgou. O ator me perguntou se eu me sentia só e de repente percebi que vive rodeada de pessoas durante o dia e que depois eu me sinto só. Outra foi quando me perguntaram o que vim fazer aqui? Agora vejo que somos cegos. Isso tudo é um tapa na cara”, comentou a secretária municipal de Educação e Cultura de Guarapuava, Sandra Zanette.
Durante 40 minutos o público se depara com uma lição de superação. Com textos de Paulo Leminski, Ferreira Goulart, Vinicius de Moares, Fernando Pessoa, Shakspeare, entre outras e músicas que completam o texto recitado, o espetáculo mostra que a cegueira não está apenas na parte física, mas no preconceito da sociedade.
“É muito difícil descrever o que isso tudo. A peça mostra a capacidade de superação e chama a atenção pela provocação que nos faz para vermos o mundo de forma diferente, com os olhos de quem vê com o coração”, disse o reitor da unicentro, Aldo Bona.
“É tudo muito lindo e mostra a nossa cegueira”, comenta a secretária municipal de Assistência Social de Guarapuava, Cristina Rauen Silvestri.
Pai de Eloana, que compõe o elenco da peça, João Carlos Haick, disse que a peça apresentada celebra a vida. “É preciso ver o deficiente com dignidade, com respeito. É preciso saber que a deficiência está dentro de nós porque não existe uma só pessoa que não possua uma deficiência, mas é preciso enxergar isso. O portador de deficiência nos dá uma lição diária e nós precisamos mais dele do que ele de nós”.
A peça começou a ser produzida há mais de um ano. “Quando acabamos uma outra vai se delineando. Durante cinco meses fizemos laboratórios com todos eles”, disse Eglecy.
Para quem pensa que a limitação visual é o que mais preocupa está enganado. “Quando estamos debatendo e criando o novo trabalho a nossa maior dificuldade é o consenso entre as ideias, porque cada um tem uma opinião, vê as coisas de forma diferente”, disse o ator Everton Luiz Rodrigues. “Com os ensaios tudo vai ficando certinho”, emenda Geovane de Lima.
“O que importa é que somos artistas e que estamos fazendo bem à sociedade”, diz Everton.
A peça conta com o apoio do Hotel Atalaia, da Felchak Produções e de Sandra Hyczy Fotografia.