22/08/2023

Como os pacotaços políticos afetam também o esporte

A sociedade brasileira vive hoje um momento impar e de muita tensão. Um embate bastante caloroso entre governantes e governados tem marcado os primeiros meses de 2015. De um lado o governo, em todas as suas esferas, que devido as condições econômicas atuais adota medidas de arrocho e austeridade, tentando conter gastos e aumentar a arrecadação. Do outro lado a população cansada de pagar o pato, exausta das promessas de campanha eleitoral e da forma como se faz política no Brasil.

No Paraná, um dos epicentros desse movimento, toda a história começou com um “pacotaço” de austeridade do governo estadual que afetava diretamente professores e o funcionalismo público em geral. A forma como foi conduzido todo o processo, através de um “tratoraço” onde o governo tentou votar as propostas de forma antecipada e sem discussão, levou professores, educadores e funcionários públicos a invadirem a Assembleia Legislativa e iniciar uma greve que já dura quase um mês.

Mas não são somente essas classes que sofrem com a atual situação. Esportistas também estão encurralados pela velha forma de se fazer política e correm o risco de perder conquistas históricas e/ou de serem prejudicados pelas novas medidas.

Um bom exemplo disso aconteceu ainda na última semana, nos corredores do Congresso Nacional.  Assim como aconteceu no Paraná, deputados da “bancada da bola” tentaram votar a toque de caixa um projeto de lei sobre a responsabilidade fiscal do esporte. Tal projeto além de ignorar uma Medida Provisória que vem sendo estudada e criada pelo Governo Federal, ainda é bastante criticada por membros do Bom Senso F.C.

Segundo a associação de jogadores de futebol, o projeto é frágil por exigir a CND (Certidão Negativa de Débito) como única exigência para comprovar regularidade das contas do clube. Outra queixa é o estabelecimento do CNE (Conselho Nacional do Esporte) como ente fiscalizador. O prazo para os clubes renegociarem suas dívidas e outros pontos controversos também foram levantados pelos esportistas.

Assim como aconteceu por aqui, membros do Bom Senso FC tiveram que rapidamente ir até Brasília protestar e se reunir com os deputados, para evitar que a votação acontecesse.

O caso é um bom exemplo para demonstrar como funciona a política brasileira, já que o projeto é encabeçado por um parlamentar do PT, Vicente Candido, e outro do PSDB, Otávio Leite, o que demonstra que a polarização da política nacional, a crucificação e/ou a santificação de partidos não se aplica, já que em ambos os lados existem políticos bons e ruins.

O episódio também traz a tona um jeito desprezível de fazer política, com interesses escusos por trás dos projetos (Vicente Candido é sócio de Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, em um escritório de advocacia e é Vice-Presidente da Federação Paulista de Futebol) e manobras ardilosas para conseguir a aprovação de tais planos.

De volta ao Paraná, podemos ver ainda mais sobre tais manobras. Por exemplo, em meio a grande quantidade de medidas propostas dentro do “pacotaço” poucos perceberam e comentaram sobre a possibilidade real do governo estadual acabar com o contraturno escolar.

Sabe-se que no contraturno escolar que acontecem atividades físicas com alunos e as já tradicionais escolinhas esportivas. Sabe-se também que essas escolinhas geralmente são o primeiro passo para a formação de um atleta e são fundamentais para que se adquira o gosto pelo esporte.

Acabar com o contraturno é acabar com o esporte, é acabar com o incentivo ao esporte em um país que receberá o maior evento esportivo do mundo em 2016.

Por isso tanto esportistas quanto professores, funcionários públicos, jornalistas, publicitários, enfim todos devem ser contra pacotaços, tratoraços e outros “aços” que possam por ai aparecer.

Como disse anteriormente, o momento é impar e devemos lutar por nossos direitos e por aquilo que acreditamos. Lutar por um novo modo de se fazer política, com discussão e baseada na verdade, lutar por um novo Paraná, por um novo Brasil. Lutar por um lugar melhor para esportistas, professores, caminhoneiros…

Cristina Esteche

Jornalista

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