Taís Nichelle
Guarapuava – Quem nasce no Rio Grande do Sul não é gaúcho, é rio-grandense. Gaúcho é todo aquele que cultiva as tradições campeiras, que carrega encilhado consigo os valores e princípios de um povo norteado, acima de tudo, pela união. Quem vive aqui sabe: Guarapuava, o ‘lobo bravo’ mais guapo dessa estância, tem um coração gaúcho.
Coração este que, mesmo longe dos pampas, bate feliz diante de um bom churrasco e uma animada roda de chimarrão. E para quem ainda não sabe, esse caso de amor tem raízes históricas: as primeiras famílias do município foram formadas e influenciadas, em grande parte, por tropeiros oriundos do Rio Grande do Sul, que usavam a cidade como rota e chegaram à região já nos primórdios de sua colonização.
REVOLUÇÃO
Entre os dias 11 e 18 de setembro aconteceu a Semana Farroupilha, um movimento em comemoração à Revolução Farroupilha (1835 – 1845), também conhecida como Guerra dos Farrapos, a mais longa revolta da história brasileira. A cobrança de taxas pesadas sobre produtos rio-grandenses como erva-mate e charque (além do aumento da taxa de importação do sal, insumo básico para a fabricação do produto) passou a impedir o crescimento econômico do Sul do país. Buscando acordo com o governo central, fazendeiros gaúchos passaram a exigir do governo imperial a tomada de medidas que pelo menos garantissem o monopólio sulista do comércio do charque.
Um grupo liderado por Bento Gonçalves exigiu a renúncia do presidente da província do Rio Grande do Sul e proclamou a fundação da República de Piratini ou República Rio-Grandense. Após anos de luta e a derrota farroupilha em 1844, estabeleceram os termos do Convênio do Ponche Verde, em março de 1845. Com a assinatura do acordo, foi concedida anistia geral aos revoltosos, o saneamento das dívidas dos governos revolucionários e a libertação dos escravos que participaram da revolução.
A Semana Farroupilha é regulada por uma Lei Estadual e regulamentada pelo Decreto Estadual 36.180/95, amparado na lei federal 9.093/95. Em Guarapuava, foi realizada a sétima edição do evento, que já é tradição no município e reúne milhares de pessoas na confraternização. “A comunidade sempre participa das comemorações. Os que amam o churrasco, os que amam o chimarrão, os que amam as músicas gauchescas… Todos aguardam ansiosos e participam junto conosco”, conta Marilise Michelini, uma das integrantes da organização do evento.
Confira os principais momentos das comemorações da Semana Farroupilha em Guarapuava.
DOMINGO (11)
O empresário guarapuavano Claudio Pietrobon trouxe, diretamente do Rio Grande do Sul, a chama crioula, que está acesa na cidade de Triunfo desde o ano de 1947. A chama foi recepcionada no CTG Fogo de Chão, onde seguiu até o Parque do Lago para dar início à Tarde Musical. Muita música nativista, danças tradicionalistas, declamações e outras atividades artísticas encantaram quem aproveitava o domingo em um dos principais pontos de Guarapuava.
SEGUNDA (12)
Do Parque do Lago, a chama seguiu para a empresa de Claudio, de onde foi levada para a sede campeira do CTG Chaleira Preta.
TERÇA (13)
Apresentação artística no campus Santa Cruz da Unicentro.
QUARTA (14)
Recepção com apresentações artísticas e arroz carreteiro (prato típico) na sede do CTG Fogo de Chão.
QUINTA (15)
Recepção com apresentações artísticas e galinhada (prato típico) na sede do CTG Chaleira Preta.
SEXTA (16)
Recepção com apresentações artísticas no Galpão do Taura (onde há um museu da cultura gaúcha).
SÁBADO (15)
Churrasco e apresentações artísticas na sede da empresa de Claudio Pietrobon.
DOMINGO (16)
O Encerramento da Semana Farroupilha começou com uma cavalgada que saiu do trevo e passou pelas principais avenidas da cidade, terminando na empresa de Claudio. Ao chegar todos os 350 cavaleiros com as bandeiras e a chama crioula, começou a missa crioula e a benção dos cavaleiros. Em seguida, todos confraternizaram com uma costela de dois fogos (foram servidos 700 almoços). As apresentações artísticas garantiram a animação da tarde festiva.
Centenas de pessoas trabalharam para que tudo isso acontecesse. “Foi um trabalho árduo, que envolveu não só a organização, como também a comunidade em geral. Queremos agradecer a todos que doaram seu tempo e esforço para que o evento fosse realizado… Desde quem cortou a lenha para acender as fogueiras, até as crianças que ajudaram a retirar os pratos após o almoço: todos vocês foram fundamentais. Um agradecimento especial ao Claudio, que buscou a chama e emprestou a sede da sua empresa para as comemorações e também à loja Orgulho Gaúcho, que confeccionou os trajes típicos. Por fim, um imenso obrigado à comunidade guarapuavana, que compareceu em peso e nos acolheu, como sempre, com muita alegria. São sempre muito bem vindos!”, destaca Marilise.