O sonho das irmãs gêmeas Ingrid e Brenda Belo de Cristo, 16 anos, era entrar no mercado de trabalho numa empresa que possibilitasse o prazer de aprender e a oportunidade de crescer profissionalmente.
Assim como elas, outros quatro jovens também compartilhavam o mesmo desejo representando um universo de 150 adolescentes incluídos no programa federal Jovem Aprendiz, na rede de supermercados Superpão, grupo empresarial de origem guarapuavana, com 24 lojas, das quais 9 em Guarapuava e outras 15 distribuídas em onze municípios paranaenses e uma em Caçador (SC). São 3,5 mil colaboradores contratados, entre os quais, estão os aprendizes.
“Essa lei federal obriga as empresas a terem 5% do quadro destinados a menores de 18 anos, associando o estágio, o ensino regular e a capacitação”, disse o gerente de Recursos Humanos do grupo Superpão, Edson Moreira.
O programa Jovem Aprendiz é um projeto amparado pela Lei da Aprendizagem, que tem como objetivo capacitar tecnicamente os jovens para o mercado de trabalho, através de parceria com empresas de grande e médio porte. Neste projeto, o jovem é incentivado a encontrar seu primeiro emprego e, através das leis, têm todos os direitos trabalhistas e previdenciários assegurados, além de ser necessário prosseguir com os estudos. Segundo Moreira, os aprendizes ficam três dias da semana na empresa e dois em curso que a empresa possibilita, seja no projeto D. Bosco, no Senac ou em outras entidades conveniadas.
Desta forma, é possível inserir jovens no mercado de trabalho com idade inferior a 18 anos, contribuindo para a capacitação profissional do jovem e proporcionando experiência desde cedo, auxiliando o desenvolvimento profissional de adolescentes em geral. De acordo com Moreira, além desses benefícios, eles recebem uma bolsa de R$ 584 por mês, por 12 horas trabalhadas na semana, além de receberem uniformes, crachás, equipamentos de trabalho, e capacitação.
Cada aprendiz pode permanecer por um ano na empresa, podendo ser efetivado, caso já tenha 18 anos. Segundo Moreira, cerca de 30% dos participantes permanecem na empresa quando não há o impeditivo da lei.
“Eu vou chorar muito porque vou ter que deixar o meu emprego, pois só tenho 15 anos”, disse Victor da Silva Almeida, que faz estágio no Setor de Preços da Central do Superpão. “Todos vamos chorar muito”, concorda João Gabriel Dzioba, 17 anos, que atua na área de congelados do Compre Mais.
“Eu sempre sonhei em começar num local que pudesse aprender e fazer amigos”, intervém Pablo Eduardo dos Santos, 18 anos. “E aqui isso acontece e quero ser efetivado, pois não penso em trabalhar em outro ramo”, diz o jovem que trabalha na padaria da Panificadora Triunfante.
“Quando entrei, pensei que iam me tratar diferente porque sou aprendiz, mas somos tratados como iguais e isso me surpreendeu”, afirma Bruno Maciel dos Santos, 17 anos, que aprende na padaria do Superpão XV de Novembro.
O tratamento que é dispensado aos aprendizes toma conta da conversa. “Somos tratados com muito carinho. Quando chama a gente pra uma reunião a gente vai meio receoso, mas quando chega é uma surpresa agradável. Hoje fomos recebidos com bombons e com mais uma capacitação”, disseram as irmãs Ingrid e Brenda, com o aval dos colegas.
O olhar diferenciado proporcionado pelo conhecimento e pelo amor aquilo que se faz é comentado pelos aprendizes entrevistados pelo Portal RSN. “Quando eu vou fazer compras sou bem mais exigente que o meu pai. Pego e leio tudo”, diz Victor. “Eu também, e presto muita atenção no atendimento, nas datas de validade”, diz Bruno.
“A gente vê além de um simples pão, por exemplo. Porque agora a gente sabe todo o processo que precisa para chegar aquele produto que está ali à sua disposição”, comenta Ingrid.
“Essa empresa, esse trabalho é tão envolvente que não penso em seguir outra profissão, confessa Pablo com a concordância dos demais.
RESPONSABILIDADE SOCIAL
Considerado um dos mais fortes grupos empresariais do interior do Paraná, o Superpão vai muito além do que simplesmente cumprir a legislação.
“O seu Getúlio [Hyczy] faz questão que a empresa cumpra o conjunto de regras legais e e isso já é histórico dentro da empresa”, observa Edson Moreira. Segundo o gerente de RH, o Superpão é o único grupo empresarial de grande porte que cumpre 100% das cotas do Jovem Aprendiz e de Pessoas com Deficiências na Região Central do Paraná.
Além dos 150 jovens aprendizes, o grupo trabalha com cerca de 50 deficientes mentais, “condição que nenhuma empresa deseja”, afirma o Direto de Operações e Marketing, José Fernando.
O exemplo que é dado pelo Grupo Superpão nessa questão de cotas é uma prerrogativa a ser seguida por demais empresários, como observa Edson Moreira.
“Gostaria que mais empresários enxergassem essa questão social como um ponto positivo, de oportunidade, de solidariedade para com o outro, e contratassem mais menores e PCD. Mas que não vissem isso apenas como uma questão legal, mas como oportunidade que está sendo dada a essas pessoas. Muito se fala em mudança, mas ela acontece quando damos um passo para que isso aconteça, para que a gente busque a mudança que queremos e que tanto falamos”.