22/08/2023
Agronegócio

Crise na suinocultura é a pior dos últimos 15 anos

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Guarapuava – A atual crise vivida pela suinocultura brasileira é a mais grave dos últimos 15 anos, afirma o suinocultor Wienfried Matthias Leh (foto), com um dos piores momentos de preços recebidos pelo criador. Se há um ano o quilo do suíno girava em torno de R$ 3,20 a R$ 3,50, hoje está sendo vendido, em média, a R$ 2,00, valor que não cobre o custo de produção. “O custo de um produtor médio é de R$ 2,40 a R$ 2,50, ou seja, está trabalhando no prejuízo”, observa.
Segundo Leh, os suinocultores estão trabalhando no vermelho desde o começo de 2009. “Desde que sou suinocultor, isso há 15 anos, não me lembro de ter entrado no segundo semestre de um ano trabalhando no vermelho. Passamos praticamente todo o primeiro semestre de 2009 no vermelho e entramos também no segundo semestre no negativo. É verdade que estamos perto de um empate técnico em setembro, mas para recuperar o prejuízo do primeiro semestre o ano está ficando curto e isso será impossível”, aponta.
De acordo com ele, vários fatores levaram o setor a esse cenário dramático, sendo que o principal começou com a crise econômica mundial, ainda em setembro do ano passado. “Quando nós estávamos começando a sair da crise veio a gripe A (H1N1), batizada no México de maneira errônea como gripe suína, uma vez que o vírus dessa gripe está presente nos humanos, nas aves e suínos. Por mais que as pessoas saibam que esta doença não tem nada a ver com o consumo da carne, certamente ajudou na diminuição do consumo das carnes em geral, e não apenas da carne suína”, diz.
O criador lembra que em 2005 a febre aftosa, que nada tinha a ver com a suinocultura, prejudicou todo o setor. Agora, a situação se repete e a suinocultura paga a conta novamente. “A cadeia produtiva do suíno não pode ser quebrada, como acontece com o frango e boi. O boi fica no pasto e se o preço estiver ruim você não vende. O frango é engordado com 45 dias e, num momento de crise, você não compra mais os pintinhos ou quebra os ovos no incubatório e está resolvido. Mas no caso dos suínos não, pois o animal que eu estou vendendo hoje é proveniente de uma decisão que tomei há dez meses atrás quando inseminei a matriz. Então eu não tenho como quebrar essa cadeia. O reflexo do que eu decido hoje vem daqui a dez meses”, explica Winfried, ressaltando que o suíno teria que ser tratado de uma maneira um pouco diferenciada das outras carnes.
“Têm muitos suinocultores que depois de anos estão saindo da atividade, encerrando a reposição de plantel e parando de inseminar. Granjas inteiras estão sendo fechadas”, conta.
Mas apesar da crise não está havendo uma diminuição significativa da produção, por ser uma atividade de longo prazo. Outra questão é que as grandes empresas do setor estão investindo pesado em termos de produção. “Há uma leve retração de demanda, mas bem menor que o aumento de produção no país. Está havendo diminuição de produção nos Estados Unidos, México e Europa. Mas apesar da crise eu ainda vejo que a suinocultura, assim como o agronegócio como um todo, é uma das atividades brasileiras em que ainda dá para apostar. Vai chegar o momento das vacas gordas”, conclui.

Cristina Esteche

Jornalista

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