22/08/2023
Cotidiano

Crise provoca férias coletivas

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“Fabrica da Prefeitura” vinha gerando lucro para empresário de Nova Serrana

Informações desatualizadas no site oficial do município, portões trancados com cadeado, ligação telefônica que toca até cair, mato alto. Este é o cenário que compõe atualmente a fábrica de tênis, projeto que promete ser o embrião para gerar o pólo calçadista em Guarapuava, uma das alternativas propostas pelo prefeito Fernando Ribas Carli para diversificar as atividades econômicas no município.
Localizado no Bairro Industrial Xarquinho, nas instalações da antiga fábrica de móveis que pertenceu ao ex-prefeito Cesar Franco, o barracão que abriga há um ano e meio a fábrica, apresenta ares de abandono regado a frustração de quem apostou no projeto proposto pelo prefeito e encampado pela Secretaria Municipal de Indústria e Comércio.
“Meu filho está desempregado e me lembrei desse projeto. Ele foi até lá e encontrou o portão fechado com cadeado. Será que a fábrica fechou após a eleição do ano passado”? questiona João Carlos Ribeiro, morador do Xarquinho e quem pautou a matéria.
A Secretaria Municipal de Indústria e Comércio se cala porque o titular Mauro Claudio Temosckho não retornou os contatos feitos pela TRIBUNA. A Assessoria de Comunicação nega o fechamento da fábrica e diz que tudo está funcionando normalmente, chegando a confirmar o número do telefone (3624 6472) que, segundo uma mensagem eletrônica da Brasil Telecom, não existe.
O sonho de integrar um projeto de diversificação econômica em Guarapuava é acalentado não só por famílias, principalmente mulheres, que investiram seu tempo em cursos de capacitação, mas também atraiu empresários dispostos a ampliar investimentos. Nenhum dos procurados pela TRIBUNA quer comentar o assunto. Após várias tentativas, um empresário sugeriu um número de telefone celular. Quem atendeu a ligação foi Antonio Vieira da Silva, conhecido como Toninho, responsável pela fábrica e pela implantação do pólo calçadista em Guarapuava.
“Foi o reflexo da crise que nos fez dar férias coletivas para os funcionários, mas a fábrica está funcionando e volta a abrir daqui uns dias”, informou.
Com 30 funcionários e uma produção diária de 500 pares, a empresa Somar Calçados, da qual Toninho é um dos proprietários, trouxe o “know-how” do município mineiro de Nova Serrana, conhecida como a capital nacional do tênis.
Para isso, ganhou vantagens e a principal delas foi o investimento, segundo Toninho, de cerca de R$ 800 mil, dinheiro que saiu dos cofres municipais para a compra do maquinário. Esse parque de máquinas foi cedido pela Prefeitura ao empresário em regime de comodato por 10 anos. Em contrapartida, cabe à empresa apenas a responsabilidade de capacitar a mão-de-obra que, em muitos casos, é absorvida pela própria fábrica. A produção diária é vendida e o recurso é dos empresários. “A fábrica é uma empresa e a venda é nossa”, confirma Toninho.
Numa das últimas entrevistas feitas pela TRIBUNA sobre esse tema em novembro de 2007, o secretário Mauro Claudio Temosckho anunciava que a “Fábrica da Prefeitura” forneceria a matéria-prima elaborada para as facções que seriam montadas por interessados. “ Ela (fábrica) não vai fazer todos os componentes do tênis, mas partes que são de suma importância para a fabricação do produto como a sola, porque temos a máquina injetora. Então pequenas fábricas não precisam ter a injetora, que é máquina muito cara, mas podem fazer o resto e comprar a sola. Essa é uma maneira que encontramos para viabilizar as pequenas empresas”, afirmou.
Hoje, segundo o dono da fábrica, a crise que afeta o setor calçadista nacional e que derrubou a produção brasileira em 50%, retraiu os empresários locais interessados em investir no setor.
Para se ter uma idéia da crise o empresário cita o exemplo de Nova Serrana cuja produção diária que era de 450 mil pares por dia caiu para 200 mil.
Nada disso, porém, mereceu divulgação oficial. No site oficial da Prefeitura, a última notícia sobre o assunto data de 28 de março de 2008 e comenta sobre um curso em parceria com o Sebrae para qualificação de mão-de-obra.
A fábrica, entretanto, teve bastante trabalho no ano passado, cuja fabricação de mais de 20 mil pares de tênis foram distribuídos nas escolas municipais.

Cristina Esteche

Jornalista

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