O brasileiro Thiago Ávila ficou dois dias preso, em uma cela solitária, após ser capturado ilegalmente pelo exército israelense no último dia 8. Ele estava a bordo do veleiro Madleen, junto a outros 11 tripulantes, incluindo Greta Thunberg, em missão que levaria mantimentos a Gaza. A embarcação do grupo Flotilha da Liberdade foi detida em águas internacionais. Ou seja: um sequestro.
Após a captura, Thiago se recusou a assinar a ordem de deportação – em que teria de admitir mentiras, incluindo a de que teria entrado ilegalmente em território israelense – e iniciou uma greve de fome. Preocupados que a atitude influenciasse outros a também resistirem à deportação, Israel colocou o brasileiro em uma pequena cela, sem janelas, sem luz, sem contato com a advogada.
Desde então, a assessoria do Governo Lula e o Itamaraty emitiram notas e comunicados oficiais pouco efetivos. Lula – que, sim, é um dos líderes internacionais que aponta, no discurso, o genocídio palestino – silenciou sobre o caso. Após os dias de tortura psicológica, Thiago foi levado para a deportação e está a caminho do Brasil nesta quinta (12). Apesar da missão humanitária ter sido interrompida, o caso colocou novamente os holofotes na falta de ação prática do governo brasileiro perante Israel.
Se não agora, quando?
Há muito que a esquerda opositora a Lula e até mesmo a própria base do presidente – como o MST, intelectuais e artistas – pressionam o Governo para que rompa definitivamente as relações com Israel. No sexto dia deste mês, Lula recebeu uma carta com 12 mil assinaturas pedindo o fim do acordo de livre-comércio entre Brasil e Israel, além da suspensão de cooperação militar, o embargo energético e outras sanções.
Se Lula diz que há um genocídio em curso, por que o petróleo brasileiro continua alimentando o morticínio de mais de 55 mil pessoas? A tradição brasileira de manter boa diplomacia com todos os Estados é mesmo desculpa para lavar as mãos diante de um regime de apartheid?
Não se trata de opinião. Há um ano, o Escritório de Relações Internacionais da ONU publicou um relatório que confirma alegações de “tortura e outras formas de tratamento cruel, desumano e degradante, incluindo abuso sexual de mulheres e homens”.
Ainda de acordo com a ONU, de novembro de 2023 a abril de 2024, quase 70% das mortes em Gaza foram de crianças e mulheres. Cerca de 80% delas estavam em edifícios residenciais. O Estado de Israel, de posse das mais modernas armas bélicas, só vai parar quando destruir ou expulsar por completo o povo palestino, majoritariamente desarmado e composto por civis.
Nada indica o contrário. A captura e deportação de Thiago Ávila mostra que Israel não respeita nem mesmo os direitos internacionais. Se não agora, quando será o momento de romper de fato com Israel? Quem não agir, ficará na [H]istória como cúmplice.
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