22/08/2023
Brasil

De Cabral a Cabral

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Cabral, o Pedro, chegou em 1500 nos estabelecendo como Colônia de Portugal.

A partir daí, o contínuo extrativismo predatório: pau-brasil, cana-de-açúcar, ouro etc.

O propósito da Colônia era prover o reino com o que era dela extraído, sem a menor preocupação com os impactos das atividades de extração, seja sobre as pessoas, o meio ambiente, a economia e o futuro.

Cabral, o Sérgio, preso 516 anos depois, é a prova irrefutável de que a alma extrativista permanece até hoje em nosso DNA. Já foram identificados mais de 100 milhões de dólares "apropriados" por ele, em contas no exterior. Acredita-se que ainda há mais ouro a ser desenterrado.

Fácil imaginar quantos hospitais deixaram de ter equipamentos adquiridos ou simplesmente medicamentos básicos fornecidos, quantas pessoas morreram por falta de atendimento e recursos, porque o dinheiro de impostos, recolhido de todos nós, foi para o bolso de alguns poucos.

Àquele que apenas extrai pouco importa o impacto sobre as pessoas, o meio ambiente, a economia e o futuro. Vale repetir!

O espírito extrativista em sua essência egoísta e inconsequente se alimenta apenas do aqui e agora e da sua própria ganância!

Os jornais nos mostram a quantidade de políticos como o ex-governador do Rio! Extrativistas na sua essência desonesta e corrupta. Mas o grupo não se limita a políticos: executivos responsáveis pelo desastre da barragem em Mariana ou empresários que superfaturaram bilhões em obras públicas e, também, pessoas comuns que no dia a dia usam banheiros públicos sem se preocupar com o próximo a utilizá-lo, ou até o vizinho que leva o carrinho de supermercado até o seu andar e não o devolve ao lugar original.

Espírito extrativista é tirar sem repor, receber sem dar, base da cultura do malandro, da Lei de Gerson, de qualquer relação insustentável, pois de uma via apenas.

Precisamos de consciência, educação e reeducação para cultivar a cultura do plantar antes de colher, do dar e receber, do bem público que é de todos e não, como é aqui percebido, não é de ninguém.

Se cada um de nós estiver atento a essa herança refletida em ações cotidianas, e procurar mudar, teremos a certeza que em 2516 não exista mais um Cabral como o de 2016 e não continuemos colonizadores de nós mesmos.

(*) Sérgio Cavalcanti nasceu em 1961, na cidade de Santo Amaro da Purificação, no interior da Bahia. Em 1984 mudou-se para São Paulo onde reside. Mestre em gestão pela Universidade de Stanford, teve sua carreira voltada ao empreendedorismo, participando da criação de empresas de tecnologia e internet. Nos último anos passou a escrever sobre sentimentos e as dificuldades existenciais do ser humano através de histórias, mas engavetava esses textos. Quando resolveu publicá-los nas redes sociais e no seu próprio blog, a inesperada aceitação lhe deu a coragem que faltava para reunir o que escrevia, e publicar seu primeiro livro, RESPIRANDO.

Cristina Esteche

Jornalista

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