22/08/2023

De cima pra baixo, não dá!

Informações preliminares apontam a mudança de nome do bairro Industrial Xarquinho para Atalaia. A origem dessa mudança ainda não se sabe. Lideranças comunitárias consultadas não souberam falar a esse respeito.

Mudar o nome de um bairro existente há mais de duas décadas e fazer com que a população adote a nova denominação não é uma tarefa fácil se esse desejo não partir da base. Nada do que venha de cima para baixo tem efeito. Posso citar o exemplo da Vila Concórdia, que mudou de nome para D. Frederico Helmel, numa proposição do ex vereador Gilson Amaral, sem que a comunidade fosse consultada. Até mesmo os moradores desse local desconhecem a nova denominação.

Trocar o nome do Xarquinho para Atalaia é válido, considerando a história de Guarapuava. É ali, na fazenda Trindade que está o Fortim Atalaia, marco que faz parte da história do município.

Mas trocar o nome e, assim sendo, tentar “enterrar” a violência que amedronta a comunidade – se esse for o caso –  é uma tentativa que nasce frustrada. A não ser que junto com essa “transformação” nasçam políticas públicas voltadas às crianças, adolescentes e jovens. Mas que sejam iniciativas que vão de encontro aos anseios desse público alvo que deseja tão pouco. Acompanho as demandas há anos e sei que uma das maiores reivindicações é a simples construção de uma pista de skate. Mas junto com a obra física é preciso restaurar as pessoas dando a elas a educação, a cultura, a qualificação profissional, a oportunidade de emprego, o esporte, o lazer, a arte. É preciso também que esse mix de atividades tenha a linguagem do jovem da periferia. Que gosta de usar calça larga, boné com a aba virada pra trás, tênis, camiseta. Que gosta da dança e do basquete de rua. Que compõe, canta e dança o rap. Que gosta da grafitagem. Que gosta de jogar capoeira.

É preciso, principalmente, transformar as pessoas a partir de oportunidades, para começar a erradicar o preconceito que envolve a comunidade e que revolta ainda mais as pessoas. É preciso aceitar as diferenças, não pré julgar as aparências, não tentar promover mudanças superficiais. Mas as pessoas também precisam querer ser protagonistas de qualquer transformação e para que isso aconteça precisam ser valorizadas, a começar pela consulta se desejam, ou não, mudar o nome do bairro.

Cristina Esteche

Jornalista

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