22/08/2023
Guarapuava

De repente, câncer! De repente, CURA! De repente, vitória!

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Bárbara Franco 

Guarapuava – Passar por situações difíceis nunca é fácil, mas estar perto de quem você gosta e trocar experiências com quem entende exatamente o que você está passando, ajuda a minimizar o sofrimento. E na carona do Outubro Rosa, a RSN foi atrás de uma história linda de superação e autoestima. Fernanda Kohler Didimo é uma dessas mulheres inspiradoras que vale a pena conhecer e se inspirar em sua força para lutar contra o câncer de mama.

Fernanda, 35 anos, sempre foi uma pessoa muito cuidadosa com a saúde e há sete anos descobriu um cisto na mama. A partir daí, começou a acompanhar o problema. “Sempre fui bem certinha, todo ano eu ia no ginecologista, fazia o preventivo e o doutor já aproveitava e solicitava a eco de mama. No ano passado, por trabalhar no Hospital São Vicente, a gente anda por todos os setores e aí eu passava pela maternidade e isso me despertou o desejo de ser mãe. Foi então que procurei consultar com meu ginecologista e fiquei de abril a julho, no marca médico desmarca médico, mas algo me dizia que eu tinha que marcar. Marquei a consulta e o doutor solicitou os exames, entre eles o de mama. Fui descobrir no exame, que estava doente”.

             

O doutor que realizou o exame questionou Fernanda se não havia sentido nada de anormal com uma de suas mamas. “O médico me perguntou: 'você não sentiu nada tomando banho?' e eu disse 'não doutor'. E não senti. A única coisa que eu tinha, pelo fato de ter os cistos, era umas pontadas muito fortes e que no começo do ano passado elas estavam um pouco mais fortes, mas assim eu achava que era normal”.

             

Foi na eco que Fernanda descobriu que estava doente e, segundo ela, a partir daí sua vida virou de ponta cabeça. “Eu descobri esse nódulo no dia 4 de julho do ano passado, mas eu já comecei o ano de 2016 bem difícil. Eu perdi minha avó paterna para o câncer de mama. Só que ela já estava em uma idade avançada, com setenta e poucos anos e quando ela descobriu já estava bem avançado, e aí a nossa família ainda estava naquele luto e eu descubro que estou com a mesma doença da minha vó. Então foi bem difícil, mas veio uma força que eu considero pela minha fé em Deus e da minha vó que lá de cima estava me iluminando e consegui encarar essa doença de uma forma positiva. Não encarei como punição, porque, até eu acredito que Deus ele não pune. Um dia eu vou entender porque eu passei por isso”.

               

Fernanda conta que no dia em que descobriu o nódulo, ele estava medindo 5,3cm. “Ele estava grande. Era do tamanho da minha mão, então ele estava enorme. Eu me assustei a hora que o doutor passou novamente o aparelho. Foi nessa hora que eu senti que eu tinha que ser forte".

O RESULTADO

“O resultado do exame veio no dia do meu aniversário. Sempre digo que foi meu presente de grego. Comemorei meu aniversário, não contei para ninguém. As únicas pessoas que sabiam era meu marido e uma amiga, que me ajudou, e minha irmã. Eu escondi do resto da família porque, como eu ia comemorar meu aniversário e do meu avô, que já estava viúvo, contar essa bomba, ia acabar com a festa de todo mundo. Então eu escondi". 

Fernanda encontrou uma força que não sabia que tinha, levantou a cabeça e foi para luta. “Quando tive certeza do resultado não me desesperei, não chorei, só chorei quando foi para contar para meu marido. Aí nós choramos. Foi bem difícil, mas eu recebi muito apoio dele. Encarei o processo que eu tinha que passar para a minha cura. Então a perda do cabelo eu não fiz drama, pelo contrário. Minha cabeleireira que chorou a hora que pedi para raspar. Levei na brincadeira e foi isso que eu fiz durante todo meu tratamento. Tudo o que eu tinha que passar eu fazia uma piada. Eu me olhava careca e dizia para meu marido: 'Nossa, parece que fugi de um campo de concentração’. Quando falava para ele que estava me sentindo feia, ele simplesmente me dizia que não havia casado comigo por causa dos meus cabelos”.

               

INSPIRAÇÃO

Fernanda conta também que encarou como um processo de cura. “Como as árvores precisam ser podadas para florir e dar frutos, eu encarei isso do tipo 'eu preciso ficar careca para eu ficar curada'. Nos primeiros dias foi difícil porque eu tinha vergonha de ficar na minha casa, na frente do meu marido e dos meus amigos careca, mas em seguida, eu pensei, 'poxa, se eu não posso ficar à vontade na minha casa e com meus amigos, onde eu vou ficar?'”.

A inspiração para enfrentar tudo que estava passando foi em pessoas que também passaram por isso. “Quando a gente está nesse meio parece que fica sabendo de mais casos, e assim procurei me inspirar em pessoas que passaram por isso. Pessoas negativas para diminuir você está cheio e esse tipo de comentário a gente tem que deletar. Eu procurava fazer isso: me inspirar em outros casos”.

              

Para Fernanda, o mais difícil foi encarar o olhar das pessoas. De piedade, de pena. "Tinha muita gente me matando por aí”. Logo em seguida, Fernanda encarou os processos da quimioterapia. “Sempre digo que a gente tem que ter uma força sobrenatural porque a gente fica debilitada. Fiz 16 sessões e as quatro primeiras são as mais agressivas porque precisava ser o tumor maior, que estava muito grande e precisava diminuir. Então a primeira quimio que eu fiz minha imunidade despencou. Tive infecção urinária, feridas na boca, não conseguia comer. Tive que tomar injeções para conseguir terminar o tratamento. Só pensava em terminar as quimios. Ficava marcando quantas faltava para acabar e assim foi durante todo o tratamento. Quando terminei, eu repeti o exame e foi um sucesso. Dos 5,3cm que estavam o nódulos, o tamanho diminui para 1,4cm”.

         

Após as quimios, Fernanda encarou a cirurgia. Retirou toda a mama esquerda e fez a reconstrução no mesmo dia. “Fiz 20 sessões de fisioterapia para começar as radioterapias. Aí fiz 25 sessões e depois fiz mais dez de fisioterapia. Agora estou bem, voltei a trabalhar. Falo que o câncer fez parte da minha vida, agora não faz mais. Eu procurei pensar e entender que eu precisava retirar a minha mama. Foi difícil? Foi. Mas era necessário porque ali tem algo que não é bom, que é o tumor, e que não fazia parte de mim”.

            

MISSÃO

Foi nessa situação que Fernanda afirma ter descoberto sua missão: ajudar outras pacientes que estão passando por isso. “Ajudar quem está passando por isso, me fortalece. No meio dessa doença horrível, descobri várias coisas boas. Entre elas, fazer Psicologia [justamente para entender melhor o que acontece com as pessoas quando elas em uma situação como essa, a da doença]. Sou uma pessoa melhor, dou valor ao fato de eu acordar pela manhã, de estar viva. Hoje, eu dou valor a cada momento”.

             

A determinação e a vontade de viver estão estampadas na cara de Fernanda, que hoje curada, ajuda pessoas a passarem por esta situação e dá uma aula de superação. “A gente é muito mais que um cabelo, a gente é muito mais que um peito. É difícil o tratamento? É, mas passa. Basta você acreditar, confiar nos seus médicos. Eu confiei plenamente e fui muito feliz. Toda vez que eu ia à missa, eu entregava meus médicos e as pessoas que cuidavam de mim. ‘Deus, o Senhor sabe de todas as coisas. Dê sabedoria para que eles conduzam da melhor forma o meu tratamento’. E deu certo. Correu tudo bem”.

   

 

Cristina Esteche

Jornalista

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