A deficiência de auxiliares de necrópsia e a demanda no Instituto Médico Legal (IML) de Guarapuava ficou evidente, mais uma vez, nessa quinta (23). Dois acidentes na BR-277 com quatro mortos, um óbito na cadeia pública da cidade e um homicídio no município de Laranjal, somaram seis cadáveres.
Assim, o trabalho que começou às 7h da manhã, só acabou às 23h36 quando o último corpo foi liberado à família. O IML de Guarapuava é responsável por 23 municípios, e de todas as funções a mais defasada fica por conta de auxiliar de necrópsia. Além de acumular funções nas unidades dos IMLs do interior, esses profissionais acumulam a função de atendente de necrotério.
De acordo com o IML, além do trabalho físico do exame de necropsia, o auxiliar de necrópsia ainda tem que liberar os cadáveres. Para se ter uma ideia dessa prestação de serviço à sociedade, são esses auxiliares que fazem o exame de necropsia. Ou seja, a abertura, a dissecção e o fechamento de cadáveres, já que médicos legistas, em sua maioria, não tocam nos corpos.
Além disso, outro acúmulo é o de chefia de plantão. Depois disso, vem o atendimento solidário às famílias, a expedição da documentação necessária para a liberação dos corpos, o atendimento às funerárias, entre outros.
FORAM MAIS DE 16H
De acordo com o IML de Guarapuava, para fazer todo esse trabalho nessa quinta (23) apenas duas pessoas trabalharam. Um deles apenas no setor administrativo. O outro, nos exames cadavéricos e outras funções. Aos finais de semana, apenas um auxiliar atende os casos.
Conforme o Instituto Médico Legal, a equipe possui três auxiliares de necrópsia. Entretanto, a demanda exige o mínimo de quatro. Por isso, a escala de trabalho é dura. Em Guarapuava também trabalham quatro auxiliares de perícia, que são responsáveis pela remoção dos cadáveres. E por fim, seis médicos legistas fazem os exames em pessoas vivas e em cadáveres. A carga horária é de 20 horas semanais.
Além disso, a saúde física e mental dos profissionais auxiliares de necrópsia está comprometida. Eles estão estafados, não recebem acompanhamento psicológico, apesar do setor em que trabalham ser ‘pesado’. Eles convivem com consequências da violência, e com a dor da perda por parte de familiares dos mortos.
Apesar da redução do horário de atendimento (7h às 23h) dar a impressão que há menos trabalho, a realidade é outra. Dividido em três profissionais, a demanda acumula para o dia seguinte. Para se ter uma ideia, em 2019 foram 350 cadáveres liberados depois de serem examinados pelos três auxiliares de necrópsia.
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