Diziam ser um projeto audacioso. Que a revitalização da rua XV de Novembro atrairia mais gente (mais consumo), mais vida.
O que se vê hoje é um vazio.
A nova arquitetura não se integrou ao espaço. Ela o esvaziou. De gente, sim, o fluxo diminuiu. Mas principalmente de sentido. O que chamaram de progresso, na prática, foi a substituição da identidade e da história por cimento novo.
Trocaram o petit-pavé por paver liso e frio. Cercaram a calçada com estacas de ferro hostis e mal colocadas. Levantaram um novo e solitário quiosque — ainda inoperante — hermético, espelhado.
Sempre dão um jeito de colocar espelho.
Como escreve Marc Augé, os lugares deixam de ser identitários, relacionais e históricos e se tornam somente funcionais. Não-lugares. Vias de passagem sem memória, áridas.
A promessa era revitalizar. Mas revitalizar o quê, se o que dava vida foi arrancado? Árvores centenárias, que faziam sombra e também abrigavam pássaros, vida. O que ficou é um corredor de concreto que repele em vez de acolher.
No fim das contas, não melhorou a mobilidade. E não, não precisava disso para tornar a rua mais acessível. Para que esta obra? Para quem?
O urbanismo de gabinete, feito longe do chão da cidade, impõe soluções genéricas para problemas complexos. Trata-se da lógica que a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik há tempos denuncia: a cidade tratada como empresa. Em vez de preservar a identidade urbana e fortalecer vínculos, reproduz-se um modelo neoliberal estandardizado, que enxerga o patrimônio como entrave.
Pior: neste caso, nem mesmo o mercado, que teoricamente deveria ser beneficiado, foi ouvido. Comerciantes que enfrentaram meses de poeira e lama agora veem menos gente circulando.
Guarapuava já perdeu a antiga prefeitura, a Casa Missino, o casarão da rua Guaíra. Tentaram até arrancar os paralelepípedos históricos da rua Visconde de Guarapuava. A Praça 9 de Dezembro agora está encoberta por uma mureta cinza e um corrimão enorme. Em frente, uma pavimentação feia e disfuncional.
Temos uma reforma do Vale do Anhangabaú para chamar de nossa! A sanha desenvolvimentista demoliu nossos casarios e palácios históricos. Pouco a pouco, vai apagando o que sobrou.
E no fim, quando tudo está cimentado e pago, rompem-se os contratos. A revitalização prometida para oito quadras parou na segunda. Um fracasso anunciado.
O prejuízo também é concreto: quatorze milhões gastos nessa desvitalização, que comemora um ano do início das obras neste dia 14.