22/08/2023
Blog da Cris Guarapuava

Dezembro chegou, mas quem sabe ainda dá tempo!

Dezembro é um mês estranho. Entra de mansinho, com cheiro de panetone, luzes piscando e aquela nostalgia disfarçada de trilha sonora de supermercado

Dezembro (Imagem: Canva)

Dezembro é um mês estranho. Entra de mansinho, com cheiro de panetone, luzes piscando e aquela nostalgia disfarçada de trilha sonora de supermercado. É bonito por fora, mas por dentro, carrega uma mistura de fim e fingimento, como se o país inteiro parasse por um instante para fazer de conta que está tudo bem.

As cidades se enfeitam. Os discursos também.

É quando o tempo muda de roupa: veste branco, dourado, verde e vermelho. Nas casas, penduram-se luzes. No comércio, promoções, e o 13º salário que se tem pra pagar. No povo, a tentativa de continuar acreditando.
Dezembro, portanto, é quando a gente corre contra o calendário para caber o que não coube nos outros 11 meses. E o Brasil corre junto, tentando fechar as contas. Ou ao menos, empurrá-las para o ano seguinte.

Há ceias fartas com poucos lugares e mesas vazias com muitos. Prometem-se reformas para janeiro. Mas o povo sabe: o que não foi feito até agora, dificilmente será.

Mesmo assim, dezembro tem seu encanto. Não por ser justo, mas por nos lembrar que o ano acaba, sim. E com ele, quem sabe, algumas farsas, algumas máscaras, alguns mandatos.
A esperança, essa teimosa, se pendura nas guirlandas como se dissesse: “talvez no próximo, talvez no próximo”.

ENTÃO!

Dezembro é o ensaio do recomeço. É quando o Brasil se olha no espelho, cansado, e tenta acreditar que ainda dá tempo. Que podemos virar a página, ou ao menos escrever nas margens. E talvez dê mesmo. Porque o povo tem memória, tem voto, tem poesia. E tem dezembro, esse mês que não perdoa, mas inspira.

Mas vejo algo de bonito nessa tentativa coletiva de esperança. Afinal, dezembro tem cheiro de memória, gosto de coisa que não volta e um certo ar de improviso. O país, cansado, se senta na varanda da história tentando parecer em paz; e por alguns dias, consegue. Porque o brasileiro é mestre em sorrir com os olhos marejados.

Ainda assim, dezembro tem esse dom: nos empurra para frente. Nos faz fechar os olhos no dia 31 e pensar: “quem sabe agora”. É o mês da pausa e da promessa. O mês do talvez no próximo. Bora, vamos correr que estamos ainda nos primeiros dias. Vamos ter pressa, quem sabe ainda dá tempo. 
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Cristina Esteche

Jornalista

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