O ano termina em Guarapuava tendo dezembro como o mês com o maior índice de alta no valor da cesta básica. A conclusão é do Núcleo de Estudos e Práticas Econômicas (NEPE) do Departamento de Ciências Econômicas (Decon) da Unicentro.
De acordo com a pesquisa, o valor da Cesta Básica de Alimentos de Guarapuava (CBAG) composta de 13 itens (DIEESE) apresentou um aumento acumulado de 12,49%. Este é o maior aumento mensal desde maio/2018, quando aconteceu a greve dos caminhoneiros, cujo índice naquele mês foi de 10,43%. A cesta inclui cereais, pão, legumes, frutas, laticínios, carnes e óleo
Assim sendo, em dezembro deste ano o consumir guarapuavano precisou desembolsar R$ 374,97 para comprar a cesta básica de alimentos. Em valores absolutos, ele teve que pagar R$ 41,63 a mais para comprar o mesmo conjunto de alimentos que em novembro custou R$ 333,34.
CARNE BOVINA PUXOU PARA CIMA
De acordo com Luci Nychai, economista do Nepe/Decon/Unicentro, após dois meses de consecutivas quedas do valor da CBAG, em dezembro ela apresentou um aumento considerável. Conforme a pesquisa, puxado principalmente pelo aumento dos preços da carne bovina (24,39% em relação a novembro/2019) e pelos hortifrúti como tomate (35,74%) e banana (28,20%).
“Esses produtos também foram os que mais impactaram no aumento acumulado do valor da CBAG no ano de 2019 que foi de 23,56%”.
Conforme a a economista Luci, em 2019 o aumento dos preços de produtos como a banana e o tomate sofreu influência das condições climáticas, da redução da área plantada, da quantidade ofertada e da alta do dólar.
Porém, o preço da carne bovina vem causando, principalmente a partir de outubro, estragos no orçamento das famílias guarapuavanas e de todo o Brasil. ”
“Em dezembro/2019 o preço médio da carne bovina aumentou 24,39% em relação a novembro/2019. A proteína bovina continuou sofrendo os impactados do aumento das exportações para China somado ao aumento sazonal de demanda interna nesta época do ano”.
ENTENDA A ALTA DA CARNE
De acordo com Luci, alguns pontos são importantes para que a população entenda o que vem acontecendo com os preços da carne bovina.
“Primeiro, a China aumentou substancialmente a importação de carnes brasileiras devido a problemas fitossanitários internos”. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), o setor comemorou volume recorde de exportações em 2019. Foram 1,83 milhão de toneladas, uma alta de 11,3% na comparação com 2018.
Conforme o Ministério da Economia, só em novembro deste ano, as exportações de carne bovina aumentaram 45% em comparação com o mesmo mês em 2018.
PARA A CHINA
Todavia, o Brasil exporta carne bovina para 154 países, mas a China, sem dúvida, foi quem puxou a fila do bom desempenho em 2019.
Assim, no acumulado entre janeiro e novembro/2019, o Brasil exportou para o país asiático 410.444 toneladas representando um crescimento de 39,5% em relação ao registrado em igual período de 2018. Ou seja, a cada 100 quilos de carne brasileira embarcada para o exterior, 24,5 quilos foram destinados aos chineses.
Dessa forma, a alta nas exportações da carne bovina brasileira se intensificou a partir de outubro/2019 e tem a ver, em parte, com o problema sanitário que atingiu a criação de suínos na China.
Porém, outro fator relevante é que o Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina e o principal exportador mundial. A Austrália é o segundo maior, mas vem enfrentando problema de seca afetando a produção de gado. Os EUA mesmo, sendo o maior produtor de carne bovina vêm enfrentando uma guerra comercial com a China, maior consumidora de proteínas animais
Conforme a economista, o segundo ponto a ser considerado, é que o preço da arroba do boi gordo disparou provocado pela recuperação da demanda interna e pela especulação causada pelo aumento das exportação.
Porém, o terceiro ponto é que a oferta de bezerros não acompanhou a demanda dos produtores e o preço deles também aumentou. Já o quarto ponto é que, mesmo com uma previsão positiva de aumento da demanda interna de carne bovina para 2019 os frigoríficos minimizaram o risco de desabastecimento, priorizando as exportações que pagam até 15% a mais.
De acordo com Luci, ainda que, com o preço da carne bovina mais cara, os consumidores adotam uma rota de substituição aumentando a demanda por frango, carne suína e ovos. Isso acaba provocando, consequentemente, o aumento no preço destes produtos.
TABELA 1
Variação acumulada dos preços médios no varejo das proteínas em Guarapuava de janeiro a dezembro/2019.
Tipos de proteínas | Preço Médio janeiro/2019
(R$) |
Preço Médio dezembro/2019 (R$) | Variação
Acumula no ano (%) |
Carne Bovina (kg)
(Fraldinha, Patinho, Coxão mole, Coxão duro, Alcatra, lagarto, musculo, acem, costela) |
22,74 | 36,33 | 59,76 |
Carne Suína (Kg)
(Bisteca, Paleta, pernil) |
12,40 | 16,49 | 32,98 |
Carne de frango
(Frango inteiro resfriado, file, sobrecoxa) |
10,06 | 11,88 | 18,08 |
Ovos branco (dúzia) | 3,99 | 5,23 | 31,00 |
Fonte: NEPE/DECON/UNICENTRO
CONSUMO DE OVOS AUMENTOU
De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), 2019 foi marcado pelo aumento no consumo interno de ovos, chegando a 212 unidades ‘per capita‘ um aumento de 9% em relação a 2018. Assim, o consumo médio per capita de frango que é de 42 kg/ano por pessoa e o de carne suína que é de 15,9 kg/ano/por pessoa, também teve seu consumo aumentado em 2019, principalmente a partir de outubro.
Assim, em dezembro/2019 o guarapuavano precisou desembolsar 37,57% do salário mínimo (R$ 998,00) para fazer frente à Cesta Básica de Alimentos (CBAG). Só para fins de comparação, na Austrália esse desembolso é de 6,7%, Irlanda (7,3%), Grâ-Bretanha (7,7%), Países Baixos (8,9%), Espanha (9,1%), Luxemburgo (9,8%), Alemanha (9,8%).
De acordo com a economista, o novo salário mínimo brasileiro federal aprovado para 2020, no valor de R$ 1.031,00, ficou muito aquém do poder aquisitivo capaz de atender as necessidades vitais básicas individuais e da família.
São necessidades básicas como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social. Assim, para fazer frente a essas despesas, o salário mínimo deveria ser de R$ 3.521,12, segundo estimativas do Nepe/Decon/Unicentro
Conforme a professora, o Brasil paga um dos menores salários mínimos em comparação com pesquisa realizada em outros 50 países. Em Luxemburgo o salário mínimo é R$ 8.104,00; Austrália (R$ 7.900,00); Irlanda (R$ 6.968, 00) e nos Países Baixos (R$ 6.712,00) para uma taxa de conversão do dólar de R$ 4,00.
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