As mulheres da terceira idade foram criadas num modelo de família machista, vendo suas mães se desdobrarem entre a roça e a arrumação da casa. Mas hoje, elas descobriram o que é qualidade de vida
No passado, entre outras heranças, cabia à mulher repetir o modelo de suas mães e avós, para quem a menopausa representava a cadeira de balanço, a renúncia ao sexo, a aposentadoria, a aceitação de implacáveis marcas do envelhecimento e a submissão ao marido. A família era sempre formada pelo pai, que sustentava a todos, e a mãe que cuidava da casa e dos muitos filhos.
Quando jovens, no caso do sexo masculino, poderiam estudar e se fosse mulher, normalmente era educada para aprender a cozinhar, costurar e arrumar a casa. Raras eram as que trabalhavam fora, ainda mais numa sociedade predominantemente rural. Neste caso, além da casa e dos filhos, a enxada.
A esta geração de mulheres, que hoje chega aos 60 anos, 70 anos, coube presenciar uma série de mudanças – muitas surgidas com o pós-guerra – e se acostumar com elas, como a pílula, feminismo, silicone, drogas, o método liberdade sem medo para educar os filhos.
Para discutir o assunto, a TRIBUNA conversou com três mulheres da terceira idade que participam do grupo do SESC e descobriu o porquê de hoje se falar em melhor idade. Agora a vida da mulher é bem melhor, hoje faço coisas que antigamente jamais imaginaria, como viajar. Minha mãe era muito trabalhadeira, morreu com 86 anos, estava sempre na roça. Cuidava da casa, tinha 11 filhos e sempre trabalhando. Acho que meus pais viviam bem, eu nunca os vi discutindo. Vinham da roça e a mãe já fazia seu cigarrinho e depois íamos passear nos vizinhos, iluminando as estradas com fogo porque não tinham luz, era tudo mato. Mas o casal de antes era diferente, lembra Sofia Stoqui, 76 anos.
Ela se casou nova e teve seis filhos, um já falecido. Casei com 16 anos, só perdi tempo de passear. Também trabalhei muito na roça, ía logo cedo e levava almoço feito e os filhos junto. Fazia um buraco na terra para deixar os filhos que já engatinhavam enquanto carpia, roçava e plantava. O pequeno dormia no balaio. Ficavam lá o dia inteiro, era sofrido , conta.
Elza Costa Pizzatto, 67 anos, também lembra da infância no campo. Somos em 14 irmãos, nove mulheres. Minha mãe sempre trabalhou na roça e tinha muita pouca informação, cultura, amizade, pois tudo era muito longe. Ela e meu pai não se davam muito bem e minha mãe, como tinha muitas crianças pequenas, não saía de casa, mas aceitava o jeito dele. Ela só se dedicou à família, observa.
Elza casou-se com 17 anos e, depois de anos de casamento, acabou se separando. Tem uma família grande e unida: são cinco filhos, nove netos e três bisnetos. Sempre tive minha independência financeira, sempre trabalhei, mas é inegável que a vida da mulher hoje em dia é bem melhor, pelo menos para aquelas que sabem viver. E a gente precisa saber viver, porque a vida é muito curta e se vive muito bem com pouco. Minha filha sempre me fala que quando for grande quer ser igual a mim, então eu me orgulho muito, revela.
Aos 62 anos, Miti Suzuki ressalta que foi criada para a casa e o casamento. Eu estudei até o quarto ano do primário, porque naquela época precisava trabalhar bastante e falavam que as mulheres deviam cuidar da casa e os homens a estudar. Aprendi a cozinhar e costurar muito cedo. Já na criação de meus quatro filhos priorizei a educação, todos eles estudaram. Ela finaliza a entrevista dizendo que a mulher de hoje é muito folgada. Eu podia ter nascido agora, brinca.
Foto:Elza Costa, Miti Suzuki e Sofia Estoqui