A guarapuavana Flavia Proche já foi atleta, modelo, personal style, fez participações como apresentadora de televisão. Essa inquietação de Flavia faz com que ela vá traçando metas e aprendendo pelo meio do caminho. Aliás, aprender e reaprender são verbos que ela conjuga, hoje, mais do que nunca. Afinal, pedras foram colocadas no meio do caminho. Ou melhor, ela mesmo as colocou.
E foi a busca de uma perfeição física que levou Flavia Proche a perdas que ela jamais pensou ter um dia. Dietas abusivas, excesso de exercícios físicos e o objetivo de perder 10 quilos tiveram como consequências prejuízos irreparáveis. Entre estas, a da saúde e da coordenação. Entretanto, como contraponto, um crescimento espiritual e uma superação ímpares.
“Eu sempre fui atleta, a melhor. Cheguei à seleção de vôlei. Mas um dia me disseram: ‘você é maravilhosa assim e se você perder 10 quilos’? Aquilo ficou na minha cabeça e eu emagreci 25 quilos”.
A ANOREXIA
De acordo com Flavia, aos 18 anos ela teve a primeira crise de anorexia. “Eu tenho 1,81 m de altura e nessa época estava com uns 50 quilos mais ou menos. E aí foi assim. Eu brigava comigo mesma, não comia nada”.
Conforme o relato de Flavia Proche ao Portal RSN, o tempo passou. “Eu me casei e para ter a minha filha fiz muitos tratamentos. Tive que ganhar peso. Ela nasceu e fiquei seis meses em casa e quando me olhei no espelho eu falei: agora deu”.
Porém, decidida a emagrecer, Flavia pegou uma bicicleta e começou a pedalar 40 quilômetros por dia. Quando chovia, fazia 12 quilômetros. “Até que fiz uma lesão no púbis por estresse”. Foi aí então que se encontrou com a musculação. “Bem, por uns sete anos. Até que resolvi engravidar mais uma vez e não consegui porque não tinha peso. Fiz muitos tratamentos. E então entrei numa depressão muito séria. Até porque perdi dois irmãos seguidos. Depois meu pai foi diagnosticado com Alzheimer”.
A DOENÇA
Assim, em meio a esse turbilhão, em 2014 ela diz que tentou se recuperar. “Mas foi apenas uma casca. E no final desse ano e começo de 2015 fui indo para o fundo do poço”. Apesar do esposo, o médico Anderson Fadel, tentar levá-la para nutricionistas, médicos, psicólogos, Flavia disse que rejeitava.
“Até que em agosto de 2015 eu estava pesando 34 quilos. Eu comia muito pouco e no final o meu alimento era só água de miojo. Eu só dormia e não conseguia trocar nem um passo. Não aceitava ajuda e colocava bolsas de água quente na barriga para ver seu eu esquentava, pois tinha muito frio”.
Entretanto, entre dias sombrios no fundo de uma cama, Flavia não imaginava o que ainda estava por vir. “Um dia meu rim parou de funcionar e eu inchei muito. E quando eu não conseguia mais dizer que não queria ajuda, o meu marido me internou à força. Eu cheguei no hospital com 29 quilos. E ali foi. O Dr. Rubens, Dr Jean Nicareta, Dr Cleber, e meu marido. Ninguém acreditava na minha recuperação e eu precisei transfundir sangue, pois estava no maior nível de desnutrição. Fiquei no pré coma e só fui saber que estava internada 15 dias depois”.
A LESÃO NO CÉREBRO
Mas ainda não era tudo. “Quando fizeram uma tomografia viram uma lesão no meu cérebro. É no globo pálido e putâmen. Perdi a fala, desaprendi a andar, tinha tremores horríveis e engatilhado pela desnutrição surgiu uma doença autoimune rara, chamada miastenia gravis. Em uma das minhas idas pra a UTI choquei duas vezes por infecção no cateter. Mas segui lutando”.
De acordo com Flavia, começava então uma nova batalha. “Médico, médico e mais médico. Remédios, UTI. Nesse tempo foi muito difícil. Eu me afogava muito e fui pra reabilitação”.
Porém, Flavia disse que em meio a dor, encontrou o amor à vida e a força para lutar. “Foquei no meu renascimento. Comecei a dizer pra mim mesma: não reclame! Não, não é para você ignorar a dor. É preciso sim, reconhecer o que você está vivendo e enfrentar a situação com maturidade. Hoje entendo que tudo me trouxe aprendizado, de uma forma ou de outra. E fui me reabilitando, e o pior era que ninguém entendia porque eu só melhorava do resto e da voz não”.
Conforme Flavia Proche, após dois a três anos, entre tratamentos, remédios imunossupressores, corticoides, quimioterapia monoclonal e muita fé na vida foi descoberto que o problema na voz e o fato de não conseguir escrever, mais a falta de equilíbrio “era dessa tal Síndrome de Werneck”.
A SUPERAÇÃO
Todavia, apesar de todos esses problemas, ela seguiu em frente. “Acredito que Deus me devolveu a vida e que tenho um propósito maior. Eu tenho que chegar nessa meninada e dizer que o que mais importa é a vida, e que depressão precisa ser levada a sério”.
Entre fisioterapias, medicamentos, e, principalmente, a vontade de seguir em frente, a ‘nova Flavia’, como ela se autodenomina, é uma lição de superação. “Em 2019 voltei a trabalhar com fotos. Dirijo carro automático, e brinco que pelo menos tenho carteirinha de deficiente e posso estacionar facilmente”.
Flavia diz que voltou a caminhar, faz pole dance e se tornou digital influencer “sem voz”. “Quem fala é o meu marido. Mas falo com os olhos e com o coração. Ele é a base, significa amor. Minha filha me incentiva”.
A LIÇÃO
Questionada sobre o que se arrepende, Flavia não hesita em responder. “De não ter aprendido antes, as lições que a vida me ensinou. A vida é assim mesmo. Você é livre para tudo, mas tem consequências. Aprendi que o equilíbrio é fundamental. Tudo o que faço, inclusive, comer, é com noção. Aprendi a esperar, pois era muito agitada. O não falar te ensina a ter calma para se fazer entender. Quero dizer que a família é tudo. Sou grata a Deus pela Fabi [Fabiana, a filha) e pelo Anderson”.
E continua: “Quero dizer também que parei de buscar a Flavia de antes. Essa não existe mais. Não me orgulho da primeira. Hoje sou só gratidão e vivo um dia de cada vez. Vivo o meu renascimento. Confesso que demorou, e às vezes tenho a sensação de estar à passos de tartaruga. Porém, sei que mesmo com extrema dedicação, força de vontade e determinação tudo leva tempo e exige muita paciência. São quatro anos nessa maratona, dia após dia, e a linha de chegada ainda está longe do final. Mas vou contar uma coisa: quando eu decido que quero alguma coisa, não tem tempo ruim, nem obstáculo que me faça desistir da batalha. Sou a minha melhor versão hoje, porque amanhã posso estar muito melhor ! Como? Eu acredito em mim e tenho fé em Deus”.
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