22/08/2023
Blog da Cris Guarapuava Região

Do potencial econômico à necessidade de coesão política regional

O custo do isolamento político e o alento da Carta Manifesto entregue pela Câmara à Alep e que tenta tirar a Região da inércia estadual

guarapuava

Guarapuava (Foto: Lizi Dalenogari/RSN)

Há tempos o desenvolvimento regional no Paraná tropeça na falta de articulação política efetiva, e Guarapuava tem sido um exemplo notório desse fenômeno. Minha crítica de longa data se concentra na ilusão das ações isoladas. Acreditar que líderes locais sozinhos, sem uma frente unida e coesa, conseguirão pressionar o Governo do Estado por investimentos e atenção é, na melhor das hipóteses, ingenuidade política.

A realidade nua e crua é que a força reside na união regional, um modelo que a própria Região Sudoeste já pratica com sucesso. De nada adianta ter ‘parlamentares de peso’ que afirmam nos representar nas esferas estadual e federal se essa representação não se traduz em um compromisso palpável e estratégico com os interesses de toda a Região. Não por falta do empenho de uns, mas por omissão e individualismo de outros. O resultado dessa falha crônica de articulação está estampado em obras que avançam a passos lentos ou ficam estagnadas.

Digo isso poque temos exemplos vivos dessa estagnação. O Aeroporto de Guarapuava, cuja saga se arrasta por anos, é o símbolo mais gritante dessa ineficácia. São idas e vindas e agora o voo comercial só foi embora e ainda não voltou. Reformas, ampliações, corrida atrás de recursos, projetos que, aliás, houve anúncio de que o prazo acabou ontem (30). A luta é por ampliar a pista em 1,8 mil metros quando a região comporta uma pista de 2,5 mil metros para atrair aeronaves de grande porte. Um detalhe muito bem lembrado pelo Presidente da Câmara Pedro Moraes. Será que pensamos pequeno?

O aeroporto é apenas o retrato de um potencial econômico que só se traduz em números no papel, mas que não ganha a importância efetiva e reconhecida no cenário estadual que a cidade de Guarapuava, com toda a pujança, merece.

Alguns outros projetos vitais andam, aos poucos, em um ritmo que demonstra a ausência de um ‘trator político’ regional coeso. Se a articulação fosse robusta, essas obras teriam prioridade e andamento muito mais céleres, mais robustos. Ah! E não se pode esquecer a efetividade do Hospital Regional e ao que se propôs quando foi construído.

 O DESPERTADOR, EMBORA ATRASADO, DESPERTOU

É com um misto de alívio e, confesso, de certo ceticismo, a julgar por exemplos anteriores, que vejo um sinal de que a Câmara Municipal de Guarapuava finalmente ‘acordou’. A articulação da sessão itinerante da Assembleia Legislativa (Alep) no Centro de Eventos nesta quarta (1º) com a entrega de uma Carta Manifesto aos deputados é um passo positivo e necessário. A articulação regional, liderada pelo Presidente Pedro Mores, é mais do que urgente. É emergencial.

No entanto, até nessa mobilização da sessão itinerante se revela a falta de protagonismo anterior: somos apenas a 31ª cidade a sediar essa interiorização da Assembleia. Por que não fomos uma das primeiras, dado o nosso potencial e a urgência de nossas demandas? A resposta que obtive certa vez é que essas sessões ocorrem em grandes eventos municipais. Até isso não temos mais. Mas é claro que o momento anterior não era propício por diferenças políticas entre Município e Estado. Isso reforça a tese de que Guarapuava precisa urgentemente passar de mero espectador a ator principal na política paranaense.

A Carta Manifesto, portanto, precisa ser mais do que um documento protocolar. Deve ser a declaração de independência política de uma Região que exige o reconhecimento do potencial econômico.

Guarapuava precisa usar o capital econômico que possui para cobrar efetivamente e demonstrar que a união regional não é apenas um desejo. Trata-se da única estratégia viável para deixar de ser uma ilha no mapa do desenvolvimento estadual. O momento é agora: ou a Região se une em torno de pautas comuns, ou continuará à margem, aguardando migalhas do centro de poder.

Bem, já se sabe que a união regional é o único caminho para transformar a força econômica em poder político. A torcida agora é para que essa Carta Manifesto seja efetivamente um ponto de virada. Não apenas mais um ato simbólico.

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Cristina Esteche

Jornalista

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