22/08/2023
Brasil

E temos ainda a violência política!

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O Brasil vive o governo mais conservador desde que foi decretado o fim da ditadura militar e a questão de gênero é infinitamente afetada. Mais do que nunca, a violência política contra a mulher ganha destaque no podium. Não tem como deixar de mencionar o impeachment da ex-presidente Dilma, capitaneado, em sua maioria, por homens do poder. Mas não isento a participação de mulheres e me refiro aquelas que deram eco às vozes e ações movidas pelo ódio que ainda expelem veneno, principalmente, pelas redes sociais. É a repetição de um discurso naturalizado nas entranhas familiares de uma sociedade conservadora. Vítimas? Até certo ponto, sim. Mas em pleno século 21, com as informações correndo à solta, dando condições de uma evolução pessoal e humana, a hora de soltar as amarras é agora. É preciso querer? Com certeza! É preciso deixar a zona de conforto, despertar o sagrado feminino interior, recuperar o Eu feminino, reagir e se impor.

O momento é o mais difícil, mas é desafiador. O cenário político brasileiro nos coloca em meio a um cenário conservador, propício também à violência política. Isso pode ser comprovado já no começo do mandato interino de Michel Temer quando os ministérios eram liderados apenas por homens, enquanto as mulheres ficaram em segundo plano.

Outro ponto que corrobora com essa condição machista, foi o rebaixamento de secretarias que perderam o status de ministérios. Esse é caso de Políticas para as Mulheres, de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, e de Direitos Humanos, incorporadas ao Ministério da Justiça.

Tudo isso, num país que possui altos índices de violência sexual. Basta ler o relatório de segurança pública de 2014, para saber que uma pessoa é estuprada a cada 11 minutos no Brasil. Esse número, porém, é bem mais alto, já que muitos casos não são denunciados. O país possui ainda uma das mais altas taxas de homicídios contra mulheres no mundo. Temos então, um retrato da violência doméstica. Insisto, e a política? Esse assunto é pouco debatido. Se mulheres políticas, ativistas e outras lideranças conseguiram colocar na pauta, vitoriosamente, e conquistaram a Lei Maria da Penha, está na hora de tratar também dessa outra vertente e tirar o país do vexatório percentual de apenas 9% de mulheres em cargos legislativos ou executivo, ao lado de Belize e Haiti. Acredito que só a partir do enfrentamento também de questões como essa, a mulher política será vista de forma mais humanizada, sem precisar de cotas em partidos que, aliás, salvo raras exceções, nunca tiveram a determinação de adotá-las.  

Como pode ser observado, o caminho é longo e os desafios maiores ainda.

Cristina Esteche

Jornalista

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