22/08/2023

Elisabeth Leh: pequena história de uma grande mulher

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Neste sábado 30, Elisabeth Mayer Leh estaria fazendo 74 anos. Frau Leh, como ficou conhecida a esposa de Mathias Leh, ex-presidente da Cooperativa Agrária, também já falecido, é um dos símbolos de uma geração de suábias que marcaram época na colonização de Entre Rios.

A instituição Cooperativa Agrária foi construída basicamente por homens. Nenhuma mulher ocupou cargos na diretoria-executiva, só mais recentemente no conselho fiscal. Mas a atuação masculina só se viabilizou porque as mulheres assumiram pesadas missões no processo colonizatório. Pesadas mesmo. No começo, na década de 1950, enquanto os homens iam para a lavoura, as mulheres, além das tradicionais atividades domésticas, eram quem tocavam a Serraria São Miguel, empilhando tábuas de madeira com os braços, dirigindo tratores e também indo para o campo ajudar na colheita e no plantio.

A infância de Elisabeth Leh foi assinalada pelo sofrimento durante a 2ª Guerra. Seu pai, Anton Mayer, foi convocado pelo exército croata para servir nas frentes de batalha. Foi ferido e viveu três anos como prisioneiro de forças inglesas. Ao emigrar com os pais e irmãos para o Brasil, Elisabeth se viu forçada a trabalhar em Curitiba, para ajudar a família. Muitos jovens tiveram que fazer isso, até que as primeiras plantações começassem a dar resultados.

O nome de Mathias Leh está nos anais do cooperativismo mundial, pelos feitos que ele realizou em 28 anos como dirigente da Cooperativa Agrária. Enquanto Mathias “vivia para a Agrária”, quem cuidava da casa, dos filhos, das fazendas, era Elisabeth. E ela ainda exercia o papel de “esposa do presidente”, com as tarefas protocolares de primeira-dama. Por muito tempo Entre Rios não teve hotel ou hospedaria. As autoridades e convidados eram recepcionados na casa dos Leh – e os cinco filhos (Irene, Hilde, Wienfried, Karin, Elke) estavam diretamente envolvidos como anfitriões, fazendo comida, servindo, participando dos grupos culturais.

Quando Elisabeth foi acometida de um câncer, que foi a causa de sua morte, ela estava no auge do seu trabalho social. Mathias se foi, e Elisabeth prosseguiu com suas atividades cuidando dos jovens da periferia de Entre Rios, do hospital, do atendimento aos idosos, trazendo as senhoras das colônias para se integrarem aos projetos. Os políticos falavam em escola em tempo integral, e Elisabeth e suas amigas já estavam implantando, sem nenhum discurso. Com Mathias na presidência, em tudo o que era possível negociar com governos, fornecedores, algum dos projetos sociais era colocado no meio.

Em família, Elisabeth viveu para o marido e os filhos. Enquanto seus pais moraram em Entre Rios, sentia que a unidade familiar estava completa. Certo dia, os pais resolveram que queriam ir embora para a Alemanha. Ela, que na infância sofrera amargamente com o pai no front de guerra, sentira que o laço se desatara de vez. Nada disso foi o suficiente para tirá-la do caminho de estar pronta para o trabalho comunitário, para tocar os negócios familiares, de ser a esposa de Mathias Leh. Acompanhar Mathias, implicava acordar de noite com o marido fazendo contas enquanto dormia. O casal Mathias e Elisabeth nunca tiraram o sorriso do rosto, as reuniões entre amigos com a casa de portas abertas, o presidente da Cooperativa chegando com convidados para o almoço ou jantar sem avisar. Mathias, por sua vez, sempre esteve com Elisabeth no seu lado direito.

Elisabeth Mayer Leh deixou uma história à parte na grande história que foi a escrita por Mathias Leh. 

Cristina Esteche

Jornalista

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