22/08/2023


Geral

Eloir superou a Hanseníase e um erro médico

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Taís Nichelle

Dizem por aí que “a vida é para quem sabe viver”. Mas afinal, o que significa saber viver? Para Eloir José Martins, aos 43 anos de idade, saber viver é superar os obstáculos da própria existência. Vítima de Hanseníase e um erro médico, ele aprende diariamente a adaptar-se a um mundo de dores. Não apenas as dores que sente nos ossos e nos nervos, mas também a dor da adaptação à uma realidade que ele não escolheu. 

Em 1996, a vida decidiu testar os limites do Eloir. Ao sentir as mãos amortecidas e muita fraqueza, ele procurou atendimento médico. Fez alguns exames de sangue e foi diagnosticado com neurite, que basicamente é uma lesão inflamatória e degenerativa dos nervos. Após o diagnóstico, começou o tratamento com altas doses de corticóides (substâncias encontradas em remédios anti-inflamatórios). “Em 30 dias que fiquei internado, recebendo injeção de corticóide, eu engordei 34 kg”, lembra Eloir. Isso aconteceu porque, entre os efeitos colaterais do medicamento, está o aumento de peso. 

Foram 4 anos de tratamento e ele só piorava, decidiu então, procurar outro médico. Depois dos novos exames, ele descobriu que nunca sofreu de neurite, mas sim de Hanseníase, uma doença infecciosa e contagiosa, que acomete principalmente a pele e os nervos das extremidades do corpo. Quando diagnosticada precocemente, a Hanseníase é facilmente tratável e curável. Porém, no caso do Eloir, foram 4 anos de sofrimento, recebendo o tratamento errado. As consequências? Além da doença ter avançado, afetando seus nervos e olhos, ele teve sérios problemas nos ossos, causados pela exposição prolongada ao corticóide.

Depois do diagnóstico de Hanseníase, Eloir recebeu o tratamento correto e em um ano estava curado. Porém, as sequelas eram muitas e irreversíveis. Para amenizar o problema, foram necessárias 15 cirurgias. Atualmente, ele tem três placas de titânio no corpo: duas no quadril e uma no joelho, para substituir os ossos lesados.  “No começo não foi fácil. Eu senti raiva do médico, porque se ele tivesse feito os exames corretos, eu teria me tratado no início e não teria ficado com tanta sequela”, desabafa ele.  Pior que as dores e os transtornos cirúrgicos, foi a notícia de que nunca mais poderia exercer sua profissão de pedreiro. “Foi a parte mais difícil, eu era acostumado a acordar 5 da manhã para trabalhar, trabalhei a minha vida inteira. Eu pensei comigo: o que eu vou ficar fazendo em casa?”, relembra. 

Além dos obstáculos físicos e psicológicos, ele também teve que enfrentar o preconceito. “Se você fala que tem Hanseníase, as pessoas já te olham torto, não querem chegar perto. Eu sofri muito preconceito, principalmente no período em que minhas manchas eram bem roxas e aparentes”. Além do apoio da esposa e da filha, o acompanhamento psicológico ofertado pelo Ambulatório Municipal de Pneumologia e Dermatologia Sanitária (AMPDS) foi fundamental. “Eu me tratei com a psicóloga e isso foi muito importante, pois aos poucos eu fui aceitando e me conformando”, afirma. 

No momento, Eloir está curado, mas faz exames todos os anos e comparece mensalmente para as consultas. Há dois anos, foi liberado da fisioterapia, pois já consegue andar normalmente. “Eu uso essa bengala porque se eu tropeçar, posso danificar minha prótese. Essas ruas de Guarapuava são cheias de buracos, é fácil de cair”, confessa. 

Na época em que Eloir teve Hanseníase, o exame era solicitado apenas por médicos especialistas, o que dificultava o diagnóstico. Hoje em dia, basta ir ao Posto de Saúde que eles realizam o exame. “Meu apelo é para que as pessoas que sentem os nervos amortecidos, ou tenham manchas que aumentam de tamanho e não doem, procurem o Posto de Saúde e façam o exame o quanto antes. Se tratar no início, as sequelas são mínimas. Não quero que ninguém sofra o que eu sofri”, pede Eloir, que transmite sua sabedoria e experiência aos pacientes de Hanseníase de Guarapuava. 

Cristina Esteche

Jornalista

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