Por volta das 14h30 teve início o depoimento de Luis Felipe Mavailer. Por aproximadamente 2h30 o réu respondeu aos questionamentos do juiz. Ele iniciou contando que morava na Alemanha e ao retornar, começou a atuar como professor de inglês e dava aulas numa universidade. Ele afirma que no dia da morte de Tatiane eles estavam em um bar da cidade comemorando. Além disso, pediu perdão para a família Spitzner e a todas as mulheres do mundo pelo ocorrido.
Ele contou como ocorreu a chegada em Guarapuava. Ele disse que pediu que não saíssem, mas Tatiane fez a reserva. Manvailer teria postado um convite geral em uma rede social dizendo “quem quiser ir, será bem-vindo” e isso teria feito Tatiane mudar de comportamento. Ela chegou a perguntar se as alunas dele já teriam confirmado presença.
Ainda de acordo com Luis Felipe, Tatiane se atrasou e quando chegaram ao bar onde houve a reserva não havia mais mesa. “Eu considerei como falta de respeito com os convidados. Alguns já estavam lá. Ela não tinha a chave de casa porque estava com uma prima que ficou cuidando do Napoleão [cachorro do casal]. Ela pediu que fosse buscá-la. Eu já estava muito bravo”.
NO BAR
Conforme ele, Tatiane se mostrou incomodada com as várias mensagens que ele recebeu ao longo do dia. Luis Felipe disse que ela perguntava se “eram as amantes”, mas ela foi dançar com as amigas e o clima melhorou. O réu preso afirmou que não gostava de sair em boates pois ficava muito cansado. Ainda de acordo com ele, Tatiane saiu para dançar, mas voltava com frequência ao local onde Luis Felipe estava para perguntar com quem ele estava falando.
Depois de uma nova discussão, de acordo com o relato, foram para a casa. “Em dado momento peguei o celular para ver as horas e ela voou para pegar. O carro saiu do rumo. Aquilo me deixou puto da vida, poderia ter batido o carro por uma bobeira. Me afastei dela, teve muita discussão. Parei na frente do prédio, pedi que ela descesse porque eu queria esfriar a cabeça. Ela dizia que eu ia encontrar as vagabundas. Ela já tinha extrapolado a minha paciência”. Manvailer confirma ao juiz que pegou Tatiane pelo pescoço.
CHEGADA NA GARAGEM
Ainda em depoimento ele disse que entrou na garagem e pediu para Tatiane ir para casa. Segundo ele, Tatiane ficava repetindo que ele iria encontrar amantes. Manvailer afirmou que teve que tirar Tatiane do carro.
“Fui em direção ao portão para sair, pensei: que bom agora vou fazer o que finalmente preciso que é um espaço. Eu fui até o portão daí eu vi ela veio correndo atrás, porra, puta que pariu. Ela tentou abrir a porta, tentou me tirar, e eu falando ‘vai embora, sai daqui, me deixa aqui’, ela insistindo que não ia deixar por causa do celular, que queria ver o celular. Lembro que uma hora fui fechar a porta, ela se enfiou no meio, ela não queria me deixar ir embora, não sei se empurrei ela o que aconteceu, consegui fechar a porta. Daí eu lembro que depois fui estacionar”.
Depois disso, segundo o depoimento, ela abriu a porta do motorista e tentou puxar Luis Felipe para fora. Nesse momento ele sai do carro. Assim, o juiz pergunta o que houve no momento em que ele saiu do carro. Manvailer diz que não lembra exatamente. Porém, afirmou que seguiu em direção a ela e mandou ela embora, mas ela se jogou no chão e tentou puxá-lo. O réu afirma que não foi embora pois achou que conseguiria mais uma vez o que ela queria. Diz que chegou a pegar ela pescoço, e ela não ia embora.
DEPOIS QUE SAIU DO CARRO
O juiz questiona então o que aconteceu depois que ele não conseguiu estacionar o carro. “Eu lembro que ela estava escondida, eu acho, e depois começou a correr. E eu estava em direção ao elevador acho, se não me engano”. Ele então é questionado se chutou Tatiane, e ele afirma que tentou ir embora várias vezes e ela não deixou. E agora que ele queria subir, ela se negava.
Se jogou no chão, a hora que a gente tá subindo aí, porra, você não quer subir. Aí fui atrás dela e falei, porra, agora vamos subir, conseguiu o que você queria.
Manvailer diz que estava muito irritado com as brigas que aconteceram no elevador. Tatiane tentou ir embora no térreo e ele insistiu que os dois iriam subir, porque era isso que ela queria. Ele assumiu que batia e segurava ela.
CHEGADA NO APARTAMENTO
Ainda conforme o réu, ele abriu a porta com ela do lado. A noite já tinha acabado há muito tempo, segundo ele. “Os dois fora de qualquer padrão normal deles”. Ele teria batido a porta, mas não trancou. Ela entrou no apartamento “esperneando” que queria ver o celular dele. Manvailer disse que foi pra sacada e ouvia ela chorando falando das “vagabundas”. Ele disse que este deve ter sido o momento em que o vizinho viu Tatiane montada a cavalo na sacada.
Ele disse que puxou ela do parapeito, os dois se embolaram no chão, ele entrou e foi tomar água para se acalmar. Ela voltou atrás dele insistindo pelo celular. Isso deixou ele muito “puto”, não conseguiu nem tomar água. Segundo ele, estava muito bravo com tudo o que estava acontecendo. O réu afirma que a partir deste momento é muito difícil de lembrar.
NA SACADA
A discussão a cerca das mensagens de celular continuaram. Ele afirmou que segurou o braço dela em determinado momento e ela teria gritado por socorro. Assim, ele tomou água e Tatiane se colocou entre ele e a porta. Ela se virou e saiu “marchando”. Manvailer diz que achou que ela iria para o quarto dormir, mas que ao trancar a porta viu ela indo em direção à sacada.
Segundo ele, ao trancar a porta considerou que novamente, como em vezes anteriores, ela faria “chantagem”, mas viu ela transpondo uma das pernas pela sacada. Ele disse que largou a chave e pediu “Tatiane, não”. Ele disse que foi até ela para impedir que fizesse aquilo, mas que quando viu, as mãos dela não estavam mais ali.
Naquele momento já estava tudo transtornado, o tempo parava, estava indo em direção a ela. Quando estava chegando perto da sacada eu vi que a mão dela não estava ali, eu ouvi ela caindo, ouvi o grito dela. Nisso eu cheguei bati assim no corrimão, olhei pra baixo, vi a Tatiane morta ali. Vi a Tatiane morta, estatelada no chão, porra a mulher que eu amava, apesar dos inúmeros altos e baixos. Lembro que a hora que olhei pra baixo ainda vi um movimento, vi algum movimento, assim, fiquei parado olhando por uns dois ou três segundos, e eu pensei nossa a Tatiane tá morta, ela tá morta, a Tatiane morreu.
Manvailer afirmou que o impulso foi recolher o corpo de Tatiane. “Fiquei olhando pra baixo pra ver se ela se mexia, ela não se mexeu. Fui pegar o elevador, fui de encontro a ela. Nada mais fazia sentido”. Ele descreveu que estava em desespero. “Fui em direção à ela e já estava chorando muito, falava: ‘Tatiane acorda, meu amor acorda, Tatiane porque você fez isso acorda’, e chacoalhava ela”. Ele disse que não conseguia raciocinar depois disso.
FUGA
Além disso, ele afirma que não lembra se viu as viaturas da polícia e disse que nunca teve problemas com sangue, mas que o incomodou por ser o sangue da mulher que ele amava. Sobre deixar o local, Manvailer afirmou que ficou com a imagem de Tatiane na cabeça.
“Tudo aquilo passando em ‘looping’ e eu correndo correndo, lembro que no caminho ultrapassava carro, carreta, será que não é o momento de eu errar sem querer ali, dar um fim nisso tudo. Ultrapassei uma carreta, eu lembro, me perdi, bati numa placa, no meio assim, numa placa desses canteiros central, que divide os dois sentidos. Bati ali e eu lembro que eu perdi os sentidos, não sei por quanto tempo, simplesmente não sei por quanto tempo”.
TENTATIVA DE SUICÍDIO
Sobre a tentativa de suicídio dentro da Penitenciária Industrial de Guarapuava (PIG), ele afirmou que quando viu estava em uma triagem de penitenciária. Fez um torniquete, um agasalho que ganhou quando chegou, para saltar os vasos sanguíneos. Amarrou, pegou a lâmina de barbear e começou a passar e foi tentando. Aplicou força. Manvailer diz que tentou dar o ponto final, pois “a vida dele tinha acabado”.
Assim, ele aponta que tentou se cortar, e por sorte o barbeador fornecido era muito ruim. Segundo ele, perdeu os sentidos e lembrava só da palavra “mãe” na cabeça dele. Além disso, ele afirmou que estava em estado de choque, lavou o pescoço, tirou o torniquete, foi deitar, e foi isso. No dia seguinte, ou dois dias depois, teve a intervenção do psiquiatra.
RELACIONAMENTO
Sobre o relacionamento com Tatiane ele afirma que era uma “montanha-russa”. Ele repete que estava tudo bem com a viagem em família mas que as discussões sobre uma mensagem no retorno tornaram as coisas horríveis. Ele afirmou que ela sempre demonstrou muito ciúmes com todas as mulheres com menos de 50 anos com quem ele trabalhou e voltou a lamentar a morte. “A família dela perdeu a Tatiane, a minha família perdeu a Tatiane”.
O réu afirmou que a mulher sofria de depressão. “Ela tomava um medicamento, antidepressivo. Se eu não me engano, mais ou menos bem por cima, desde o começo de 2018, quando fomos até Curitiba pra ela investigar um possível cisto no útero. Até minha mãe foi junto, eu lembro que nunca tinha ido em nenhum relacionamento anterior numa consulta com ginecologista. Eu perguntava ‘amor você quer que eu vá junto não quer?”‘
Manvailer lembrou ainda que Tatiane afirmava que Napoleão [o cachorro do casal] era o filho deles. E ele disse que isso o machucava. Sobre a família dela, o réu afirmou que nunca tiveram nenhum tipo de briga.
DEFESA INTERVÉM
Quando o juiz passou a palavra ao Ministério Público a defesa interveio. “Interrogatório é um meio de autodefesa. Manvailer está a disposição do juízo de Guarapuava para esclarecer todos os questionamentos do juiz, dos jurados, mas no que tange à acusação pública ou particular, a defesa entende que o réu deve exercer o direito ao silêncio porque a acusação já demonstrou que não está com objetivo de esclarecer a verdade”.
Assim, o promotor pergunta se o juiz considera que o interrogatório pode ser dividido em perguntas do juiz, MP e defesa, porque o MP não considera que há diferença de quem faz a pergunta, se a pergunta foi a mesma. Desse modo, o juiz diz que o ato interrogatório é composto por perguntas do juiz, acusação, defesa e jurados. Incumbe ao acusado decidir quais perguntas quer responder.
Sessão é interrompida.
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