22/08/2023
Esportes

Em entrevista a Rede Sul, jogador guarapuavano Cléo fala sobre sua carreira

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por Cleyton Lutz

Guarapuava – O atacante Cléo passou recentemente por Guarapuava. Natural da cidade e revelado no futebol guarapuavano, o atleta de 24 defende atualmente o Partizan da Sérvia, clube que participou da Liga dos Campões da Europa deste ano. Ele aproveitou a pausa no campeonato local – a competição retorna apenas no dia 28 de fevereiro devido ao frio característico na região – para rever familiares e amigos e concedeu esta entrevista exclusiva à TRIBUNA/REDE SUL.

Há quatro anos, o jogador se notabilizou ao ajudar o Atlético Paranaense na conquista do vice-campeonato da Copa Libertadores da América, feito inédito para o futebol estadual. Após passar por Portugal, o atleta voltou a ser assunto na imprensa nacional ao trocar o Estrela Vermelha pelo Partizan, maiores rivais do futebol sérvio. Chegou a ser divulgado na mídia esportiva, inclusive, que Cléo teria recebido ameaças de morte. No primeiro encontro entre os rivais, o jogador marcou o gol da vitória do Partizan, recebendo mais uma vez destaque nos sites esportivos do Brasil.

Esses e outros assuntos, como a passagem do atleta pelo Atlético, foram tratados nessa entrevista.

A transferência no futebol sérvio

No início da temporada 2009/2010, Cléo trocou o Estrela Vermelha pelo Partizan, maiores rivais do futebol sérvio. Foi a primeira vez que um jogador se transferiu de um clube pelo outro em 20 anos e a primeira troca de um atleta estrangeiro. Como era de se esperar, a torcida do Estrela Vermelha não perdoou, protestando de diversas formas. Cléo esclarece a situação.

“Meu passe pertencia ao Olivares de Portugal e fui emprestado ao Estrela Vermelha. Joguei um ano lá e o clube tinha prioridade na minha contratação. No entanto, eles abriram mão desse direito, alegando que eu era um jogador muito caro. Então, a melhor proposta que eu recebi foi a do Partizan e me transferi para lá, afinal de contas sou profissional”, explica.

Cléo foi negociado por cerca de um milhão de euros e destaca que até hoje o Estrela Vermelha lhe deve dinheiro. A torcida do clube, naturalmente, não viu com bons olhos a transferência. Na imprensa brasileira se noticiou que o jogador teria recebido ameaças de morte por parte dos fãs. “Diretamente ninguém falou comigo. Mas é claro que no primeiro jogo entre as duas equipes havia várias faixas no estádio. Também fiquei sabendo que ocorreram alguns protestos na internet”, comenta o jogador.

No primeiro reencontro entre Cléo e o Estrela Vermelha, o atacante deixou sua marca, anotando o tento da vitória do Partizan sobre o maior rival. “Comemorei o gol, sim. E se não comemorasse, o que a torcida do Partizan pensaria de mim? Isso também me ajudou a conquistar a confiança dos torcedores, no começo eu era visto com um pouco de desconfiança por ter vindo de uma equipe rival”, analisa. O jogador destaca que a atenção recebida após a transferência aumentou sua motivação. “Passei a ser mais visto e cobrado depois disso tudo”, afirma.

A adaptação na Europa

Após rápidas passagens por Guarapuava Esporte Clube, no futebol amador, e Batel, já no profissional, Cléo foi tentar a sorte em Portugal. No entanto, a primeira passagem do atleta pelo Olivares durou apenas oito meses – com problemas no visto de trabalho, o jogador foi obrigado a retornar ao Brasil. Em 2006, depois uma batalha judicial, Cléo teve que retornar à Portugal para terminar de cumprir seu vínculo com o Olivares.

“Trocar o Atlético pelo clube português foi difícil. A readaptação foi complicada, me senti bem desmotivado no início”, relata. Na segunda temporada após o retorno a Portugal, o jogador foi o artilheiro da divisão de acesso no país, se transferindo depois para o futebol sérvio. Lá a maior dificuldade de Cléo é com relação ao clima – o campeonato nacional para por quase três meses no final do ano. “O inverno é bastante rigoroso, tanto é faremos nossa inter-temporada na Turquia para escapar do frio. Às vezes vestimos duas meias para nos proteger e mesmo assim acontecem contusões”, diz.

Quando o quesito é alimentação, Cléo conta que recebe uma ajuda importante. Jogo com o Moreira [Alami, atleta português]. Ele sempre traz produtos como gelatina e leite condensado quando vem de Portugal. Lá também tem o feijão enlatado, que quando bem temperado lembra um pouco o brasileiro”, comenta.

Cléo normalmente se comunica em inglês com a imprensa – que segundo ele tem importante papel na difusão da rivalidade entre Estrela Vermelha e Partizan. “Não consigo aprender a língua local. E olha que eu já tentei”, afirma com bom humor. Além de Cléo, o Partizan conta ainda com o atacante Washington, revelado no Vasco da Gama.

Com relação ao estilo de jogo, o jogador compara o futebol brasileiro ao europeu. “Existem mais diferenças entre o estilo brasileiro e o português, do que entre o português e o sérvio”, afirma. Ele destaca ainda a preocupação defensiva de alguns times da Europa. “Quando jogamos contra equipes pequenas, elas atuam com 11 se defendendo, o que torna mais difícil marcar gols. Já em clássicos, as partidas costumam ser mais abertas”, destaca.

A passagem pelo Atlético

Cléo ganhou projeção nacional em sua passagem pelo Atlético. O atacante ficou no clube de dezembro de 2004 a setembro de 2006, participando das conquistas do Campeonato Paranaense de 2005 e do vice-campeonato da Copa Libertadores da América no mesmo ano, maior feito internacional do futebol paranaense. Na competição, o jogador marcou um dos gols da vitória de 2 a 1 sobre o Cerro Porteño, nas oitavas de final. O tento foi decisivo para a classificação do clube, já que no jogo de volta o Atlético ficou com a vaga após perder pelo mesmo placar no tempo normal e vencer nos pênaltis.

“Naquela época tudo dava certo. O grupo [de jogadores] era bom, com muitas peças de reposição. Também éramos unidos, conversávamos bastante fora do campo”, afirma. Na Libertadores, Cléo era reserva do irreverente atacante Aloísio Chulapa, hoje no Vasco. “Aprendi muito com ele. Além de ser um grande jogador, o Aloísio é um sujeito muito engraçado”, comenta. Com seu jeito simples de falar, Aloísio transformou Cléo em “Créu”, antecipando a moda funkeira que surgiria posteriormente. Do time de 2005, Cléo ainda mantém contato com o lateral-esquerdo Michel Bastos, atualmente no futebol francês, e com o atacante Dagoberto, que defende o São Paulo.

O jogador destaca que é muito grato ao Atlético, pois o clube paranaense abriu as portas ao atleta quando o mesmo teve problemas para permanecer em Portugal. “Durante meu imbróglio com o Olivares, eles me deram toda orientação necessária e indicaram profissionais para que o problema fosse resolvido”, comenta.

Cléo só lamenta a momento atual do Atlético. O time, que até pouco tempo lutava por títulos nacionais e continentais, brigou para não ser rebaixado nos dois últimos Campeonatos Brasileiros. “É complicado ver o time nessa situação, principalmente pela torcida e pela estrutura que tem”, afirma Cléo. O jogador comenta que não descarta uma possível volta ao clube. “Creio que deixei uma boa impressão lá. Se um dia precisar voltar, acho que terei as portas abertas”.

O futuro

Após marcar um gol eleito como um dos mais bonitos da Liga dos Campeões desse ano, Cléo atualmente luta para levar o Partizan ao título sérvio – o clube está a três pontos do Estrela Vermelha, líder do campeonato. O jogador tem mais três anos e meio de contrato no clube sérvio.
“Espero me transferir para um centro maior em breve, ganhando mais visibilidade”, informa. “Acho que me adaptaria mais facilmente no campeonato espanhol ou italiano, devido ao meu estilo de jogo, baseado na força”, comenta, sobre sua preferência em uma possível transferência.

Confira mais informações sobre Cléo e o clássico entre Partizan e Estrela Vermelha no blog Esportes Rede Sul

Foto: Cleyton Lutz – Rede Sul de Notícias

Cristina Esteche

Jornalista

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