22/08/2023

Em meio ao ´fogo cruzado´ da violência

Os boletins de ocorrências policiais desta quinta feira mostram que Guarapuava continua sendo banhada de sangue com o assassinato de mais uma mulher. Evidencia também a violência cometida por um adolescente que tentou matar a avó no município de Turvo.

Os últimos acontecimentos policiais em Guarapuava com a prisão de adolescentes após assalto a um mercado trouxe à tona que um menino de 14 anos de idade possui 14 homícídios. Como se fosse uma morte para cada ano vivido.

Outro dado diário mostrado pelos relatórios policiais aponta que os acidentes de trânsito também se incorporaram ao cotidiano do guarapuavano que não foge à regra do país.

De acordo com o Ministério de Justiça, no Brasil são assassinadas cerca de 140 pessoas todos os dias, assim como morre uma pessoa no trânsito a cada 22 minutos. Isso leva a assumir que  se vive numa guerra civil onde já se está acostumado a viver sob uma condição de extrema vulnerabilidade e fragilidade. Os assaltos, os sequestros que aos poucos vão se aproximando da cidade; as mortes no trânsito, a violência contra mulheres, idosos e crianças, fatos que antes chocavam, agora não mais sensibilizam.  Costuma-se dizer ou ouvir que a vida está valendo pouco, que a morte está banalizada. Mas não será o inverso? Não terá sido uma desvalorização da morte como consequência da banalização da vida?

O que se constata é que as tragédias, sejam quais forem os motivos que as causam, estão aí no grito das famílias esfaceladas pela dor. Estão estampadas nas camisetas que revestem a dor de quem perdeu uma pessoa querida. Estão aí, escondidas nas pilhas e pilhas de inquérito policiais e processos judiciários que acumulam o pó da morosidade, da dificuldade de achar o culpado para o desespero mudo de pais e mães que buscam a Rede Sul de Notícias para que o caso não caia do esquecimento, não se some a outros já arquivados por falta de solução. A violência também passa por essa via.

Olhando sobre tudo isso, se a violência é urbana, pode-se deduzir que uma das causas está justamente no espaço urbano? Aquela linha tênue que demarca a periferia do restante da cidade, na qual a presença do Poder Público praticamente inexiste, mas se mostra vivo pela falta de equipamentos urbanos, de infraestrutura, de segurança pública, de iluminação pública adequada, de transporte, de lazer, de emprego, de alternativas no contraturno escolar segregando as pessoas. Não quer se dizer com isso que   os moradores dessas áreas sejam culpados, pois, além de enfrentar condições precárias de subsistência, essa população ainda é a principal vítima de crimes violentos. Basta ver a localização de onde a violência é mais aguçada.

A situação é complicada. Pois não se pode deixar de citar o consumo, o tráfico de drogas, lícitas ou ilegais. São causas? Também são!

O fato é que sobram causas, mas falta enfrentamento. Aliás já iniciado em Guarapuava com projetos nesse sentido. Mas não adianta cobrar soluções apenas do Poder Público, mas cabe uma organização em rede que envolva também a sociedade. Não se pode mais “lavar as mãos” e transferir responsabilidades. É claro que grande parte das ações está na gestão urbana, no dever do município, assim como a segurança pública é competência do Estado, cabe à escola ser realmente um espaço legitimado de convívio, de formação da pessoa enquanto cidadão.

Só assim, cada um fazendo a sua parte; cada político deixando o populismo, os interesses pessoais, as relações de “poder” e legislando pelo povo, é que iniciará um processo de mudança dessa realidade.

O caso é sério e só não vê quem não quer. Quem prefere colocar a cabeça numa toca invisível por achar que a violência está muito longe, o que não é verdade. Segundo recentes dados, divulgados pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, constantes do Mapa da Violência 2013, chegou a 36.792 o número de pessoas assassinadas a tiros no país, em 2010. A média da taxa de homicídios foi de 20,4 para cada grupo de 100 mil habitantes, duas vezes a taxa considerada tolerável pela Organização das Nações Unidas (ONU), 10 assassinatos para cada grupo de 100 mil.   O numero total de óbitos por arma de fogo no Brasil chegou a 147.343, entre 2004 e 2007. No mesmo período, na Guerra do Iraque, morreram 76.266 pessoas. Precisa dizer mais?

 

 

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

Este post não possui termos na taxonomia personalizada.

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.

Pular para o conteúdo